04/04/2025 - 17:28
Após o forte recuo da véspera, o dólar disparou ante o real nesta sexta-feira, 4, para acima dos R$ 5,80 novamente, acompanhando o avanço da moeda norte-americana no exterior após a China anunciar retaliação ao tarifaço dos EUA, aumentando a guerra comercial e a perspectiva de desaceleração da economia global.
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O dólar à vista fechou em alta de 3,72%, aos R$ 5,8382. Apenas nesta sexta, a moeda subiu 21 centavos de real.
Na semana, a divisa dos EUA acumulou alta de 1,31%. No ano, porém, a queda acumulada é de 5,52%.
Às 17h09 na B3 o dólar para abril — atualmente o mais líquido no Brasil — subia 3,58%, aos R$ 5,8645.
Já o Ibovespa fechou em forte queda nesta sexta-feira, registrando mínimas em três semanas, após a China retaliar tarifas comerciais anunciadas pelos Estados Unidos, elevando temores de forte desaceleração da economia global.
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Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 2,96%, a 127.257,58 pontos, segundo dados preliminares, menor patamar desde 14 de março, tendo marcado 126.465,55 pontos na mínima e 131.139,05 pontos na máxima do dia.
Foi a maior queda percentual em um dia desde 18 de dezembro, quando fechou com declínio de 3,15%.
Com tal desempenho, o Ibovespa acumulou um declínio de 3,52% na semana.
O volume financeiro no pregão desta sexta-feira somava R$ 29,56 bilhões antes dos ajustes finais.
“A queda reflete um movimento de aversão ao risco, que impactou fortemente a bolsa brasileira e levou o índice a acumular perda de 2,31% apenas nos primeiros dias de abril”, diz Einar Rivero, da consultoria Elos Ayta.
Desde janeiro de 2021, variações negativas dessa magnitude ocorreram em apenas 12 oportunidades, destaca Rivero. “O ano de 2021 concentrou a maioria dessas quedas, com oito eventos, seguido por duas em 2022 e uma em 2023 e 2024. Com isso, o tombo desta sessão figura como a 13ª maior queda diária dos últimos quatro anos.”
Apesar do forte ajuste, contudo, o Ibovespa ainda sustenta uma valorização de 5,8% no acumulado de 2025, de acordo com levantamento da Elos Ayta.” Já no recorte dos últimos 12 meses, o índice apresenta uma leve desvalorização de 0,12%, demonstrando a dificuldade da bolsa brasileira em manter uma trajetória de ganhos consistentes em meio a um cenário macroeconômico desafiador”, diz Rivero.
O dólar no dia
No início do dia, a China anunciou cobrança adicional sobre os produtos norte-americanos de tarifa de 34% — mesmo percentual anunciado na quarta-feira pelo presidente dos EUA, Donald Trump, para os produtos chineses. Além disso, Pequim estabeleceu controles sobre a exportação de algumas terras raras — elementos químicos fundamentais para a indústria de tecnologia – e apresentou uma reclamação na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Os temores de recessão nos EUA e desaceleração da economia global impactaram diretamente as moedas de países exportadores de commodities e emergentes, como o real, o peso chileno, o peso mexicano e o rand sul-africano. Após o recuo forte da véspera, o dólar também recuperou valor ante o iene, o euro, a libra e o dólar australiano.
No Brasil, as cotações acompanharam o movimento.
“Vemos uma correção do frenesi de ontem (quinta), quando o mercado vendeu dólar e buscou onde colocar o dinheiro. O DXY (índice do dólar) estava mais fraco ontem, e hoje está o oposto”, comentou Laís Costa, analista da Empiricus Research.
A forte queda do petróleo era outro fator para o fortalecimento do dólar ante o real, já que o Brasil é exportador da commodity.
Neste cenário, o dólar oscilou em alta ante o real durante todo o dia, renovando máximas até o pico de R$5,8459 (+3,85) às 16h16.
“Existe também um reflexo prático e imediato no fluxo. As bolsas lá fora desabaram, com o (índice) Nasdaq caindo mais de 4%, por exemplo. Então o investidor precisa recompor essas perdas, e aí precisa ‘vender emergente’”, afirmou o diretor da assessoria FB Capital, Fernando Bergallo, ao justificar o avanço forte do dólar ante o real nesta sexta-feira. “Essa dinâmica também pesou.”
Às 17h43, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas fortes — subia 1,02%, a 103,050.
Pela manhã, o Banco Central vendeu toda a oferta de 20.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 2 de maio de 2025.
O dia do Ibovespa
Após ficar entre as economias que mais sofreram com as tarifas recíprocas anunciadas pelos EUA na quarta-feira, a China anunciou nesta sexta-feira medidas de retaliação, incluindo taxa adicional de 34% sobre produtos norte-americanos.
O movimento escala a guerra comercial deflagrada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que economistas veem afetando negativamente a atividade econômica global.
O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou que as novas tarifas de Trump são “maiores do que o esperado” e as consequências econômicas, incluindo inflação mais alta e crescimento mais lento, provavelmente também serão.
Para a equipe de pesquisa macroeconômica do Itaú, essa foi uma semana histórica para o comércio internacional, adicionando elevada incerteza aos mercados.
Em relatório a clientes nesta sexta-feira, os economistas do banco afirmaram que será importante acompanhar as decisões de retaliação pelas principais economias, que contribuem para elevar os riscos de uma desaceleração sincronizada entre países.
O Ibovespa passou quase ileso em um primeiro momento ao anúncio de Trump, fechando a quinta-feira praticamente estável, conforme a forte queda do dólar e dos rendimentos dos Treasuries derrubaram as taxas dos DI, ajudando ações sensíveis a juros.
Nesta sexta-feira, contudo, sucumbiu à aversão de risco com a China respondendo forma contundente à nova política comercial norte-americana.
Em Wall Street, o S&P 500 caiu quase 6%, enquanto o rendimento do título de 10 anos do Tesouro norte-americano marcava 3,9943%, de 4,055% na véspera. As bolsas na Europa e Ásia também tiveram quedas relevantes.
Economistas do JPMorgan escreveram em relatório a clientes ter “convicção suficiente” para afirmar que as tarifas norte-americanas elevam os riscos de recessão nos EUA e no mundo para 60%, ante um percentual de 40% estimado há um mês.
O Goldman Sachs e a S&P Global também passaram a ver uma chance maior de recessão nos EUA.
DESTAQUES
– VALE ON recuou 3,99%, contaminada pelas preocupações com a economia global, em pregão com os mercados financeiros na China fechados por feriado. No setor de mineração e siderurgia, CSN ON perdeu 6,58%, USIMINAS ON caiu 7,12% e GERDAU PN cedeu 4,84%. O Citi retomou a cobertura de Usiminas com recomendação neutra.
– PETROBRAS PN fechou negociada em baixa de 4,03%, conforme o petróleo voltou a desabar nesta sessão no exterior. O barril de Brent afundou 6,5%, a US$65,58. No setor de petróleo e gás, BRAVA ON desabou 12,92%, PRIO ON caiu 7,96%, com dados de produção também no radar, e PETRORECONCAVO ON perdeu 8,6%.
– ITAÚ UNIBANCO PN cedeu 2,6%, com os bancos como um todo sucumbindo à aversão a risco generalizada. BRADESCO PN caiu 1,1%, BANCO DO BRASIL ON perdeu 1,86% e SANTANDER BRASIL UNIT recuou 3,31%.
– CARREFOUR BRASIL ON disparou 10,77%, entre as poucas altas do Ibovespa na sessão, após o controlador, o grupo francês Carrefour, melhorar proposta para adquirir todas as ações em circulação da subsidiária brasileira, incluindo o aumento do valor em dinheiro que pagará por ação para R$8,50, de R$7,70 anteriormente.
– VAMOS ON caiu 9,92%, tendo também no radar relatório do JPMorgan que reiterou “overweight”, mas cortou o preço-alvo de R$10 para R$8,50. Os analistas enxergam melhoria sequencial do desempenho operacional entre os pontos positivos, mas citam desafios impostos pelo aumento dos custos de depreciação e queda sequencial das margens em veículos usados.