O dólar fechou a terça-feira em alta, novamente acima dos R$ 5,70, com investidores globais demonstrando impaciência com a falta de detalhes sobre os acordos comerciais negociados pelos EUA e com parte dos agentes buscando no Brasil a proteção da moeda norte-americana antes da “superquarta” de decisões de bancos centrais.

O dólar à vista fechou em alta de 0,37%, aos R$ 5,7116. No ano, porém, a divisa acumula baixa de 7,56%. Veja cotações.

Às 17h03 na B3 o dólar para junho — atualmente o mais líquido — subia 0,19%, aos R$ 5,7440.

O Ibovespa fechou quase estável nesta terça-feira, em dia marcado por noticiário corporativo intenso, com empresas como GPA, Brava Energia, BB Seguridade, Embraer e TIM sob os holofotes, e expectativas para o desfecho, na quarta-feira, de decisões de política monetária nos Estados Unidos e no Brasil.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa encerrou com acréscimo de 0,02%, a 133.515,82 pontos, tendo marcado 133.260,24 pontos na mínima e 134.135,29 pontos na máxima do dia. O volume financeiro somou R$ 22,1 bilhões.

O dólar no dia

A moeda norte-americana oscilou no território positivo durante praticamente toda a sessão, em meio a certo mal-estar global com a falta de anúncios concretos sobre as negociações de tarifas dos EUA com outros países.

“Os EUA ainda não definiram claramente as tarifas, então temos um ajuste, com o mercado saindo do risco”, comentou durante a tarde o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.

Além disso, alguns agentes se posicionavam na ponta comprada da moeda norte-americana, protegendo-se antes das decisões sobre juros do Federal Reserve e do Banco Central do Brasil na quarta-feira.

Enquanto o Fed tende a manter sua taxa de juros na faixa de 4,25% a 4,50%, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC caminha para subir a Selic em 50 pontos-base, para 14,75%, mostrava a precificação dos mercados nesta terça-feira.

Nos dois casos, investidores estarão atentos principalmente às indicações para as próximas reuniões de política monetária.

Neste cenário, o dólar à vista atingiu a cotação máxima de R$5,7393 (+0,86%) às 10h43, para depois desacelerar os ganhos. O movimento coincidiu com a perda de força dos rendimentos dos Treasuries no exterior e com o avanço firme do petróleo — produto importante da pauta exportadora brasileira.

“Se não fosse o petróleo ajudando o real, o dólar teria subido ainda mais”, comentou Rugik.

No exterior, porém, a moeda norte-americana cedia no fim da tarde ante boa parte das demais divisas. A eleição do líder conservador Friedrich Merz como chanceler pelo Parlamento da Alemanha fazia o euro avançar ante o dólar, que também perdia valor ante o iene e a libra.

Às 17h12, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas fortes — caía 0,61%, a 99,202.

Pela manhã, o BC vendeu toda a oferta de 25.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 2 de junho de 2025.

O dia do Ibovespa

Nos EUA, não há previsão de mudança na taxa de juros pelo Federal Reserve, na faixa de 4,25% a 4,50% desde dezembro, o que significa que as atenções devem se concentrar no comunicado que será divulgado às 15h (horário de Brasília) e na coletiva de imprensa do chair do banco central norte-americano, Jerome Powell, às 15h30.

“É evidente que o Federal Reserve vai querer esperar para ver como as tarifas (comerciais anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump) afetam o crescimento e a inflação antes de tomar sua próxima decisão”, afirmou a analista sênior Ipek Ozkardeskaya, do Swissquote Bank.

“Portanto, a reunião de política monetária desta semana não deve trazer nenhuma alteração nas taxas”, acrescentou, em relatório enviado a clientes.

Ela destacou, contudo, que a coletiva de imprensa pós-decisão de Powell será fundamental para avaliar se o Fed se inclina para cortes em junho devido a ventos contrários na economia ou se opta por aguardar por esclarecimentos sobre tarifas e inflação.

Em Wall Street, o S&P 500 fechou em queda de 0,77%.

“Os mercados estão ansiosos, esperando os resultados das decisões de política monetária”, afirmou Willian Queiroz, sócio e advisor da Blue3 Investimentos, acrescentando que, nos EUA, o ambiente está “um pouquinho mais tenso”, dada a incerteza envolvendo os reflexos da nova política comercial do país.

Comentários de Trump e do secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, forneceram pouca clareza sobre o cronograma para quaisquer acordos comerciais, enquanto uma reunião de Trump com o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, não produziu resultados imediatos.

Os comentários de Trump foram em outra direção das declarações anteriores de Bessent, que disse que o governo poderia anunciar alguns acordos comerciais já nesta semana.

No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anuncia decisão sobre a Selic após o fechamento do mercado, com a maioria de economistas consultados pela Reuters estimando alta de 0,50 ponto na taxa básica de juros, para 14,75% ao ano — que, se confirmada, será a mais alta em quase 20 anos.

DESTAQUES

– GPA ON desabou 20,21%, em meio ao balanço do primeiro trimestre, com melhora no resultado operacional, mas novo prejuízo líquido e fluxo de caixa negativo. A dívida líquida/Ebitda ficou em 2,8 vezes. A companhia também elegeu na véspera novos conselheiros nomeados pelo empresário Nelson Tanure e pelo investidor Rafael Ferri, e divulgou que este último reduziu sua participação na varejista de alimentos.

– TIM BRASIL ON valorizou-se 6,77%, após divulgar lucro líquido ajustado de R$810 milhões no primeiro trimestre, salto de 56% sobre o resultado de um ano antes, com altas na receita e no desempenho operacional. A receita líquida cresceu cerca de 5%, para R$6,4 bilhões. O conselho de administração do grupo de telecomunicações também aprovou R$300 milhões em juros sobre capital próprio aos acionistas.

– PETROBRAS PN avançou 1,65%, encontrando suporte na alta do petróleo no exterior para recuperar parte das perdas da véspera, quando fechou com declínio de 3,73%, em uma mínima desde março do ano passado. Na segunda-feira, a Petrobras anunciou novo corte no preço médio de venda de diesel para as distribuidoras, o terceiro desde abril, em 4,7%, para R$3,27 por litro, menor patamar nominal desde agosto de 2023. No exterior, o barril de Brent encerrou com acréscimo 3,19%.

– BRAVA ENERGIA ON fechou em alta de 6,74%, em dia positivo para o setor como um todo com a alta do petróleo no exterior, tendo ainda no radar dados preliminares da produção de abril. A companhia atingiu recorde de produção com uma média de 81,8 kboe/d no período. “Este resultado reflete a evolução da operação offshore, com a melhor produção mensal desde dezembro de 2023 em Papa-Terra e os resultados preliminares dos poços 4H & 5H, a partir de 13 de abril, em Atlanta”, afirmou a empresa.

– BB SEGURIDADE ON caiu 7,44%, após lucro líquido ajustado de R$1,99 bilhão no primeiro trimestre, expansão de 8,3% ano a ano, mas abaixo de previsões de analistas. Os prêmios emitidos pela Brasilseg recuaram 5,9%, ficando bem longe da expectativa de crescimento de 2% a 7% em 2025. O desempenho de reservas de previdência da Brasilprev (+8,7%) também ficou aquém das estimativas para o ano, de expansão de 12% a 16%.

– VALE ON terminou com acréscimo de 0,08%, tendo como pano de fundo o fechamento estável dos contratos futuros do minério de ferro na bolsa de Dalian, na China, com os investidores avaliando as esperanças de alívio das tensões comerciais entre Pequim e Washington de um lado e a divulgação de dados econômicos desfavoráveis da China de outro.

– BRADESCO PN recuou 0,45%, tendo no horizonte o balanço do primeiro trimestre, que será conhecido na quarta-feira, após o fechamento do mercado. ITAÚ UNIBANCO PN, que reporta seu resultado na quinta-feira, também no final o dia, cedeu 0,52%. BANCO DO BRASIL ON terminou negociado com decréscimo de 0,76%, enquanto SANTANDER BRASIL UNIT caiu 0,87%.

– EMBRAER ON subiu 0,8%, apesar do prejuízo líquido ajustado de R$428,5 milhões no primeiro trimestre, acima do resultado negativo de R$63,5 milhões sofrido no mesmo período do ano anterior. O Ebitda somou R$620,6 milhões entre janeiro e o final de março, acima dos R$233,6 milhões de um ano atrás, enquanto a margem no período passou de 5,3% para 9,7%. A companhia reiterou suas previsões de entregas de aviões em 2025.