Após se aproximar dos R$ 6,10 na manhã desta quarta-feira, 9, o dólar despencou no Brasil à tarde e encerrou a sessão perto dos R$ 5,85, refletindo o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de uma pausa de 90 dias na cobrança de tarifas adicionais sobre produtos de uma série de países.

+ Recuo de Trump ocorre menos de 24h após entrada em vigor de tarifaço a países

A pausa dada por Trump, que não se estende à China, foi o gatilho para o dólar à vista fechar em baixa de 2,53%, aos R$ 5,8467, interrompendo uma sequência de três sessões de fortes ganhos. O recuo apenas nesta quarta-feira foi de 15 centavos de real.

Em abril a divisa ainda acumula elevação de 2,45%. Veja cotações.

Às 17h05 na B3 o dólar para maio — atualmente o mais líquido no Brasil — cedia 2,84%, aos R$ 5,8655.

O Ibovespa fechou em forte alta nesta quarta-feira, puxado por Vale e Petrobras, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reduzir temporariamente as tarifas comerciais a vários países, com exceção da China, que teve a alíquota elevada ainda mais após uma troca de retaliações entre as duas economias.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 3,12%, a 127.795,93 pontos, vindo de quatro pregões seguidos de queda, período em que acumulou uma perda de 5,5%. Na mínima do dia, recuou a 122.887,13 pontos. Na máxima, tocou 128.648,95 pontos.

O volume financeiro na bolsa somou R$ 36,66 bilhões, em pregão marcado por forte volatilidade.

O dólar no dia

Pela manhã o dólar disparou ante o real, com o mercado repercutindo o anúncio de que a China elevaria para 84% a tarifa sobre os produtos dos EUA, após Washington começar a cobrar 104% dos itens chineses.

Importante exportador de produtos para a China, o Brasil viu o real ser uma das moedas mais afetadas pela escalada da disputa entre Pequim e Washington. Às 9h46 o dólar à vista atingiu a máxima de R$6,0973 (+1,65%).

O cenário mudou à tarde, quando Trump anunciou pausa de 90 dias nas tarifas direcionadas a uma série de países, para que eles possam negociá-las durante este período. Ao mesmo tempo, Trump elevou mais uma vez, para 125%, as tarifas contra a China e manteve a cobrança de uma taxa geral de 10% sobre quase todas as importações dos EUA.

O prazo de 90 dias foi bem recebido pelos mercados: os índices de ações dispararam ao redor do mundo, o dólar despencou ante divisas de exportadores de commodities — incluindo o real — e os rendimentos dos Treasuries desaceleraram os ganhos.

“Os investidores se alegraram, com razão, na esperança de que o adiamento permita espaço para negociações, concessões e um abrandamento definitivo das tarifas que limitaria as consequências econômicas globais. Isso agora parece cada vez mais provável”, comentou à tarde Eduardo Moutinho, analista de mercado do Ebury Bank.

Após o anúncio de Trump, o dólar à vista despencou para a cotação mínima de 5,8322 (-2,77%). Da cotação máxima vista mais cedo para esta mínima a moeda norte-americana variou -4,35%, refletindo a forte volatilidade trazida pela guerra comercial.

Na reta final da sessão, Trump disse que decidiu suspender as tarifas recíprocas por 90 dias para países que não retaliaram os EUA e reconheceu que as pessoas estavam ficando “um pouco assustadas” com as tarifas e “se excedendo um pouco”.

Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que tarifas “arbitrárias” desestabilizaram a economia internacional e defendeu que não há vencedores em guerras comerciais.

No fim da tarde o dólar cedia ante moedas de países emergentes e exportadores de commodities, mas subia ante divisas de proteção como o iene e a libra. Com isso, às 17h13 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas fortes — subia 0,27%, a 103,050.

Pela manhã, o Banco Central vendeu toda a oferta de 20.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 2 de maio de 2025.

O dia do Ibovespa

Trump anunciou tarifas recíprocas para produtos de parceiros comerciais na semana passada, adicionando preocupações sobre o crescimento global e provocando turbulência nos mercados, principalmente com a forte resposta de Pequim, com aumentos das taxas para os produtos dos EUA, apesar da ameaça do republicano.

Nesta quarta-feira, o presidente norte-americano disse que reduzirá temporariamente as novas tarifas sobre muitos países, ao mesmo tempo em que aumentará para 125% a tarifa sobre as importações chinesas, em relação ao nível de 104% que entrou em vigor à meia-noite.

Trump afirmou que suspenderá as tarifas direcionadas a outros países por 90 dias para dar tempo às autoridades norte-americanas de negociar com os países que têm buscado reduzi-las. Uma tarifa geral de 10% sobre quase todas as importações dos EUA permanecerá em vigor, segundo a Casa Branca.

O anúncio também não parece afetar as tarifas sobre automóveis, aço e alumínio que já estão em vigor.

De acordo com o analista de investimentos Gabriel Mollo, da Daycoval Corretora, o anúncio de Trump fez com que o mercado virasse muito rápido, com forte alta de ações principalmente de commodities, como Petrobras e Vale, que foram os papéis que mais sofreram após a implementação das tarifas.

“Acredito que agora o mercado vai destravar um valor, vai recuperar boa parte dessa perda dos últimos dias, mas o cenário segue incerto, afinal a China e os Estados Unidos vão continuar com essa guerra tarifária”, ponderou.

Trump ainda afirmou na sequência que decidiu suspender as tarifas recíprocas para países que não retaliaram. Ele reconheceu que as pessoas estavam ficando “um pouco assustadas” com as tarifas, mas repetiu sua crença de que acordos comerciais serão alcançados com muitos países, incluindo a China.

Wall Street reagiu com entusiasmo às declarações de Trump. O S&P 500 fechou em alta de 9,52%, encerrando uma série de quatro quedas, em que acumulou um declínio de pouco mais de 12%. O Nasdaq Composite saltou 12,16% e o Dow Jones avançou 7,87%.

“Os mercados deram um cavalo de pau hoje com a decisão de Trump de pausar as tarifas… Apesar da elevada incerteza sobre o cenário comercial global, o mercado se animou hoje com o alívio nas tarifas”, observou o especialista em renda variável Matheus Amaral, do Inter.

“É um bom dia, mas ressaltamos que tudo pode acontecer ao longo dessa guerra comercial, com as decisões de Trump e as reações de Xi Jinping”, ponderou.

DESTAQUES

– VALE ON subiu 5,39%, embalada pela melhora generalizada dos mercados, experimentando uma trégua após cinco quedas seguidas, período em que acumulou um declínio de quase 14%. Em Dalian, na China, o contrato futuro do minério de ferro mais negociado encerrou as negociações do dia com queda de 2,68%, a 689 iuanes (US$93,74) a tonelada. No início da sessão, o contrato atingiu mínima desde 24 de setembro, em 670,5 iuanes por tonelada.

– PETROBRAS PN avançou 4,06% e PETROBRAS ON valorizou-se 3,13%, acompanhando a recuperação dos preços do petróleo no exterior. O barril de Brent fechou em alta de 4,23%, a US$65,48, endossando a melhora do setor de óleo e gás da bolsa paulista como um todo. BRAVA ON, PETRORECONCAVO ON e PRIO ON subiram 0,11%, 3,85%, e 5,85%, respectivamente.

– ITAÚ UNIBANCO PN encerrou com elevação de 1,83%, tendo também no radar dados do Banco Central mostrando que as concessões de empréstimos no Brasil caíram 1,2% em fevereiro ante janeiro, enquanto o estoque total de crédito subiu 0,4%, a R$6,487 trilhões. A inadimplência no segmento de recursos livres ficou em 4,5%, de 4,4% no mês anterior. BRADESCO PN avançou 3,74%, BANCO DO BRASIL ON ganhou 0,43% e SANTANDER BRASIL UNIT subiu 2,49%.

– GPA ON disparou 18,89%, em dia mais positivo para o setor, com o índice de consumo da B3 em alta de 4,27%. O papel vinha de quatro quedas, tendo somado uma perda de 12,5% nesse intervalo. As ações têm mostrado forte volatilidade recentemente em meio à perspectiva de mudança do conselho de administração. Ainda no setor de varejo, MAGAZINA LUIZA ON saltou 11,28%.

– COGNA ON avançou 11,94%, em tendência acompanhada pela rival YDUQS ON, que se valorizou 3,93%. Analistas do Bank of America também publicaram relatório sobre o setor, avaliando que o rali das ações não acabou, uma vez que as empresas retomaram a geração de caixa, refletindo uma competição mais amena em uma oferta e demanda mais equilibradas e melhores tendências operacionais. “Ainda vemos oportunidades e a Yduqs é nossa principal escolha.”