Após forte recuo na sessão anterior, o dólar fechou nesta quinta-feira, 10, em alta no Brasil, pouco abaixo dos R$ 5,90, com o real sendo novamente penalizado pela incerteza sobre os impactos da guerra tarifária desencadeada pelos Estados Unidos.

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O dólar à vista fechou em alta de 0,89%, aos R$ 5,8990, após ter cedido 2,53% na véspera. Em abril a divisa acumula elevação de 3,37%. Veja cotações.

Às 17h06 na B3 o dólar para maio — atualmente o mais líquido no Brasil – subia 1,24%, aos R$ 5,9150.

O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira, com a trégua da véspera tendo vida curta, uma vez que persistem preocupações e incertezas sobre os desdobramentos do conflito comercial deflagrado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, principalmente envolvendo a relação com a China.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 1,13%, a 126.354,75 pontos, chegando a 124.894,76 pontos na mínima e a 127.796,75 pontos na máxima. O volume financeiro no pregão somou R$ 25,96 bilhões.

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O dólar no dia

Após os ativos brasileiros terem reagido positivamente na véspera ao adiamento da cobrança de algumas tarifas pelos EUA, por 90 dias, nesta quinta eles foram penalizados, acompanhando as quedas das bolsas e das commodities no exterior, além do avanço do dólar ante divisas pares do real, como o peso chileno e o peso mexicano.

O movimento refletiu a percepção de que, apesar do adiamento, o cenário de guerra comercial entre Estados Unidos e China — os dois principais combatentes neste momento — não será necessariamente positivo para o Brasil. No mercado internacional o petróleo caía em torno de 3% e o farelo de soja cedeu mais de 1% — dois produtos importantes para a pauta exportadora brasileira.

“A volatilidade da política comercial de Trump deve continuar sendo um fator de pressão negativo para as moedas emergentes, especialmente o real. A economia brasileira tem elevada sensibilidade à diminuição do crescimento da China e a taxa de câmbio vem sendo um dos principais mecanismos de transmissão desses riscos”, comentou Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.

Neste cenário, o dólar oscilou entre a mínima de R$5,8256 (-0,36%) às 9h30, ainda na primeira hora de negócios, e a máxima de R$5,9561 (+1,87%) às 13h27.

Internamente, um fator de pressão foi a informação de que a proposta do governo Lula de reestruturação do setor elétrico, que deverá chegar ao Congresso no primeiro semestre, poderá ter uma medida que amplia a gratuidade da conta de energia. Em meio às preocupações do mercado em relação ao equilíbrio fiscal, a possibilidade não foi bem recebida pelos agentes.

À tarde o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou conter as preocupações ao afirmar que não há estudo em andamento, na Pasta ou na Casa Civil, sobre o programa Tarifa Social.

“O que não impede, evidentemente, o ministério de estudar o que quer que seja, mas nesse momento não há nada tramitando”, acrescentou.

Durante a tarde a divisa dos EUA perdeu força ante o real, mas não o suficiente para virar para o negativo, em meio à incerteza no cenário global.

No exterior, o dólar seguia no fim da tarde em alta ante moedas como o peso chileno e o peso mexicano, mas cedia em relação ao iene, ao euro e a libra — divisas que vêm sendo usadas como proteção em meio à guerra comercial. Às 17h28, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 1,82%, a 101,080.

Pela manhã, o Banco Central vendeu toda a oferta de 20.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 2 de maio de 2025.

O dia do Ibovespa

Na véspera, o Ibovespa avançou mais de 3%, após Trump reduzir temporariamente tarifas comerciais a vários países, com exceção da China, que teve a alíquota elevada ainda mais após troca de retaliações entre as duas maiores economias do mundo.

Nesta quinta-feira, os pregões na Europa ajustaram-se à euforia da véspera, fechando com ganhos, tendo ainda no radar decisão da União Europeia de pausar as contramedidas para as tarifas dos EUA. Mas Wall Street voltou a trabalhar com o sinal negativo e o S&P 500 encerrou do dia em baixa de 3,46%.

De acordo com o chefe da área de análise da Genial Investimentos, Eduardo Nishio, é normal o mercado voltar um pouco depois dos fortes ganhos da véspera, enquanto há ainda bastante incerteza em torno dos reflexos da nova política comercial dos EUA, notadamente a questão com a China.

“Tem negociações com os outros países que não terminaram. (A aplicação das tarifas) foi só postergada… e tem a China. Esse impasse de China é importantíssimo para o mundo, porque hoje o maior comerciante mundial é a China, não os Estados Unidos”, observou.

DESTAQUES

– PETROBRAS PN caiu 6,22% e PETROBRAS ON recuou 6,49%, uma vez que os preços do petróleo no exterior voltaram a registrar perdas acentuadas. O barril de Brent fechou em baixa de 3,7%, a US$60,07. No setor, BRAVA ON cedeu 6,82%, PRIO ON fechou negociada em baixa de 8,13% e PETRORECONCAVO ON terminou com declínio de 6,3%.

– VALE ON avançou 1,79%, endossada pela alta dos futuros do minério de ferro, diante de esperanças de medidas de estímulo mais agressivas por parte de Pequim para combater o impacto da escalada da guerra comercial entre a China e os EUA. O contrato mais negociado em Dalian encerrou o dia com alta de 3,06%. Também no radar, o Bank of America elevou a recomendação das ações da Vale para compra.

– ITAÚ UNIBANCO PN recuou 0,41%, com os bancos do Ibovespa como um todo passando por ajustes após forte valorização na véspera. BRADESCO PN caiu 0,16%, BANCO DO BRASIL ON recuou 0,68%, SANTANDER BRASIL UNIT perdeu 1,5% e BTG PACTUAL UNIT terminou o pregão com declínio de 1,32%.

– SABESP ON valorizou-se 1,92%, após a companhia de saneamento básico divulgar que estima receber R$1,48 bilhão no prazo aproximado de até seis meses após propostas de acordos para liquidação de créditos de precatórios serem aprovadas pela Câmara de Conciliação de Precatórios da Procuradoria Geral do Município de São Paulo.

– MAGAZINE LUIZA ON avançou 4,5%, ampliando os ganhos da véspera (+11,28%), quando encerrou uma série de três quedas, período em que acumulou declínio de 25,6%. No acumulado do ano, o papel sobe 57%. Na próximo dia 24, acionistas votam proposta da administração para a distribuição de R$225 milhões em dividendos, com pagamento previsto em 5 de maio.