O dólar à vista caiu ante o real nesta sexta-feira, 11, com os investidores em busca de ativos de maior risco nesta sessão, mas ainda fechou a semana em alta, em meio à escalada nas tensões comerciais entre Estados Unidos e China, que têm elevado os temores de uma recessão econômica global.

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O dólar à vista fechou em baixa de 0,49%, a R$ 5,8698. Na semana, a moeda acumulou alta de 0,54%. Veja cotações.

Às 17h03, na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,26%, a R$ 5,883 na venda.

O Ibovespa fechou em alta de mais de 1% nesta sexta-feira, assegurando um desempenho positivo no acumulado da semana, após a Casa Branca afirmar que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está otimista quanto a um acordo com a China.

A declaração ocorreu após Pequim aumentar novamente as tarifas para produtos norte-americanos, desta vez para 125%, mas indicar que essa seria a última vez que se equipararia aos EUA, se Trump elevar ainda mais suas taxas para itens chineses.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 1,13%, a 128.013,26 pontos, de acordo com dados preliminares, tendo marcado 128.385,96 pontos na máxima e 126.078,39 pontos na mínima do dia.

Na semana, acumulou uma variação positiva de 0,6%.

O volume financeiro nesta sexta-feira somava R$ 20,2 bilhões antes dos ajustes finais.

O dólar no dia

Os ganhos do real ocorreram na esteira dos avanços de seus pares frente à divisa dos EUA, como o peso mexicano, o rand sul-africano e o peso chileno, que se beneficiaram das altas dos preços de commodities no exterior, como o minério de ferro e o petróleo.

Investidores também pareciam motivados a buscar ativos de risco diante dos ganhos em Wall Street, que repercutia balanços fortes por parte de grandes bancos e declarações de autoridades do Federal Reserve, que garantiram a prontidão do banco central dos EUA em lidar com qualquer distorção no sistema financeiro.

Após as fortes perdas entre emergentes durante a semana, os agentes financeiros ainda aproveitavam para realizar lucros e ajustar suas posições ao fim de uma semana de extrema volatilidade em meio à incerteza comercial no exterior.

O movimento da sessão ocorreu apesar de nova escalada na guerra comercial entre EUA e China, que vinha deixando os investidores mais receosos ao risco em países emergentes ao longo da semana.

Mais cedo, a China aumentou suas tarifas sobre as importações de produtos dos EUA para 125%, revidando a decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, de aumentar as tarifas para a segunda maior economia do mundo a 145%.

O anúncio de Trump veio em resposta à imposição por Pequim de tarifa de 84% sobre as mercadorias dos EUA, quando a China retaliou uma imposição de tarifa anterior feita pelos EUA.

Na semana passada, Trump disse que colocaria taxa de 54% sobre o país asiático, levando a China a anunciar uma tarifa de 34% sobre os produtos norte-americanos. Em seguida, os EUA impuseram taxa de 104% sobre os produtos chineses, provocando a tarifa retaliatória de 84%.

Segundo Eduardo Moutinho, analista de mercado do Ebury Bank, as tensões comerciais também podem estar contribuindo para o enfraquecimento do dólar e de outros ativos dos EUA, como os Treasuries, uma vez que cresce a percepção de que a maior economia do mundo será prejudicada pela disputa.

“A narrativa de ‘vender tudo dos EUA’ estava viva nos mercados. Em períodos normais de estresse, os ativos dos EUA se saíram bem. Isso virou de cabeça para baixo desde a semana passada, com os investidores parecendo perder a confiança na posição dos EUA como o pilar do excepcionalismo”, afirmou.

Analistas temem que a disputa comercial com a China possa reacender a inflação nos EUA e provocar uma recessão econômica devido à dependência de muitas empresas norte-americanas em relação às importações vindas da China.

Na mínima do dia, o dólar chegou a alcançar R$5,8179 (-1,37%), às 9h34, enquanto a máxima foi de R$5,9193 (+0,34%), às 10h34.

Às 17h17, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,66%, a 99,861.

Na cena doméstica, o dia foi marcado pela divulgação de dados econômicos.

A atividade econômica brasileira cresceu mais do que o esperado em fevereiro com impulso do setor agropecuário, mesmo em meio ao ciclo de aperto de juros e às expectativas de desaceleração da economia, de acordo com dados do Banco Central.

Já o IBGE informou que o IPCA de março desacelerou em linha com o esperado em relação ao mês anterior, com a inflação atingindo o patamar de 5,48% em 12 meses.

Pela manhã, o Banco Central vendeu toda a oferta de 20.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 2 de maio de 2025.

O dia do Ibovespa

Na visão do gestor de renda variável Tiago Cunha, da Ace Capital, agradou a sinalização de autoridades chinesas de que esse será o último aumento de tarifas, assim como a sinalização de Trump na disposição de negociar com a China.

Ele também citou declarações da presidente do Federal Reserve de Boston, Susan Collins, de que o banco central norte-americano terá uma posição mais acomodatícia, caso a volatilidade nos mercados continue.

“Isso trouxe um alívio e permitiu uma recuperação nos mercados. Mas ainda há dúvidas sobre o desfecho desses movimentos (China-EUA), bem como das negociações dos EUA com os outros países. A volatilidade tende a continuar elevada.”

Ao Financial Times, Collins disse que o Fed “tem ferramentas para lidar com as preocupações sobre o funcionamento do mercado ou a liquidez, caso elas surjam”. “Estaríamos absolutamente preparados para fazer isso conforme necessário”, afirmou.

Em Wall Street, o S&P 500 trocou de sinal algumas vezes antes de fechar em alta de 1,8%, com agentes financeiros também repercutindo o começo da temporada de balanços, que nesta sessão incluiu os resultados de JPMorgan e Morgan Stanley.

No Brasil, a pauta mostrou que o IPCA desacelerou em março, com uma alta de 0,56%, de 1,31% em fevereiro. Em 12 meses, porém, passou de 5,06% para 5,48%, ainda mais distante da meta de inflação perseguida pelo Banco Central.

Na visão da equipe do Bank of America, a desaceleração mensal não significa muita coisa, pois fevereiro foi poluído pelo bônus de Itaipu e pela sazonalidade da volta às aulas, conforme relatório enviado a clientes.

“A inflação anual continua aumentando, em termos de índice geral, núcleo e serviços essenciais, e permanece em níveis elevados”, ressalta o documento assinado por David Beker, Natacha Perez e Gustavo Mendes.

Em paralelo, o IBC-Br, calculado pelo BC e considerado um sinalizador do PIB, cresceu 0,4% em fevereiro, em dado dessazonalizado, acima das expectativas no mercado (+0,15%), mas abaixo da alta de 0,9% em janeiro.

DESTAQUES

– PETROBRAS PN subiu 1,99%, conforme os preços do petróleo firmaram-se no azul, com o barril de Brent fechando em alta de mais de 2% e apoiando a recuperação do setor na B3. BRAVA ON ganhou 5,24%, PRIO ON avançou 4,38% e PETRORECONCAVO ON valorizou-se 1,05%.

– VALE ON avançou 1,67%, endossada ainda pela alta dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) encerrou as negociações do dia com alta de 0,71%, a 708 iuanes (US$96,70) a tonelada, registrando uma perda semanal de 4,8%.

– ITAÚ UNIBANCO PN fechou em alta de 0,51%, com os bancos também seguindo o movimento mais positivo na bolsa. BRADESCO PN subiu 1,37%, BANCO DO BRASIL ON avançou 0,87% e SANTANDER BRASIL UNIT encerrou com acréscimo 1,02%.

– SLC AGRÍCOLA ON avançou 6,01%, tendo no radar relatório de analistas do Citi afirmando que esperam que as ações da companhia tenham um bom desempenho nos próximos dias, entre outras razões, devido às incertezas sobre tarifas de importação, que podem beneficiar o agronegócio brasileiro.

– IRB(RE) ON perdeu 6,65%, tendo como pano de fundo corte no preço-alvo por analistas do JPMorgan, de R$49 para R$48, enquanto a classificação “underweight” foi mantida. Eles deixaram as previsões para os lucros de 2025 e 2026 quase inalteradas, em R$548 milhões e R$639 milhões, respectivamente.

– SUZANO ON caiu 1,15% e KLABIN UNIT cedeu 0,66%, em meio ao declínio do dólar ante o real, enquanto o BTG Pactual relatou queda semanal nos preços de celulose na China. O Safra também espera uma temporada de resultados fraca de forma geral para o setor, na base trimestral.

– CYRELA ON subiu 0,77%, revertendo as perdas, que chegaram a 3% na mínima, após reportar na véspera prévia operacional do primeiro trimestre. DIRECIONAL ON, que também divulgou dados operacionais, cedeu 0,74%.