O dólar fechou nesta segunda-feira, 17, com baixa superior a 1% ante o real, na menor cotação desde o início de novembro do ano passado, refletindo as notícias favoráveis sobre a economia chinesa, as negociações de paz para o conflito na Ucrânia e o avanço do petróleo.

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Em mais uma sessão favorável para as moedas de países emergentes como um todo, o dólar à vista fechou o dia com baixa de 1,03% frente ao real, aos R$ 5,6861, menor cotação desde 7 de novembro do ano passado, quando encerrou em R$ 5,6759. No ano o dólar acumula queda de 7,98%. Veja cotações.

Às 17h11 na B3 o dólar para abril — atualmente o mais líquido no Brasil — cedia 1,17%, aos R$ 5,6880.

O Ibovespa fechou em alta pelo quarto pregão seguido nesta segunda-feira, ultrapassando os 131 mil pontos no melhor momento e renovando máxima em quase cinco meses, em movimento guiado pelas blue chips Itaú, Petrobras e Vale.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa avançou 1,46%, a 130.833,96 pontos, tendo alcançado 131.313,48 pontos na máxima e 128.957,09 pontos na mínima do dia.

Foi o maior patamar de fechamento desde 28 de outubro do ano passado, quando o Ibovespa encerrou a 131.212,58 pontos.

O volume financeiro nesta segunda-feira somou R$ 23,1 bilhões.

O dólar no dia

A segunda-feira foi marcada pela queda do dólar ante boa parte das divisas de emergentes e exportadores de commodities, como o real, o peso chileno, o peso colombiano e a rupia indiana.

A busca por ativos de maior risco — como ações, moedas e títulos de países emergentes — era justificada pelo otimismo trazido pela China. O gigante asiático revelou no fim de semana um “plano de ação especial” para impulsionar o consumo interno, apresentando medidas que incluem o aumento da renda das famílias e o estabelecimento de um subsídio para cuidados infantis.

Além disso, dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas do país nesta segunda-feira mostraram que as vendas no varejo chinês aumentaram 4,0% no período de janeiro a fevereiro, contra alta de 3,7% em dezembro.

A perspectiva positiva em relação à economia chinesa, somada aos receios em torno das ações dos EUA contra os houthis do Iêmen no Mar Vermelho, importante rota comercial marítima, dava força ao petróleo nos mercados internacionais. Isso também favorecia as moedas de países como o Brasil, exportador da commodity, em relação ao dólar.

“Medidas que visam estimular o consumo das famílias chinesas tendem a impulsionar a demanda por bens e produtos globais, beneficiando especialmente as economias com fortes laços comerciais com o país asiático”, disse Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.

“O volume total de importações chinesas de commodities — do petróleo bruto aos metais industriais — continua sem paralelo no mundo. O Brasil, como um dos principais parceiros comerciais da China, está bem-posicionado para se beneficiar desse movimento, o que ajuda a explicar a valorização do real na sessão de hoje”, acrescento Shahini.

Outro fator favorável para os ativos de risco era a indicação de que o presidente dos EUA, Donald Trump, planeja falar com o presidente russo, Vladimir Putin, na terça-feira e discutir o fim da guerra na Ucrânia, após conversas positivas entre autoridades norte-americanas e russas em Moscou.

Neste cenário, após marcar a cotação máxima de R$5,7434 (-0,03%) às 9h00, na abertura, o dólar à vista despencou até a mínima de R$5,6665 (-1,37%) às 16h00.

O movimento esteve em sintonia com o avanço firme do Ibovespa e o recuo das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros), com investidores à espera das decisões de política monetária do Banco Central e do Federal Reserve marcadas para a próxima quarta-feira — eventos com potencial de alterar a precificação dos ativos no Brasil.

No exterior, a moeda norte-americana seguia com viés negativo no fim da tarde. Às 17h30 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,33%, a 103,390.

O dia do Ibovespa

As ações brasileiras vêm se beneficiando de uma rotação global de portfólios, com dados da B3 sobre a movimentação de estrangeiros na bolsa paulista mostrando entrada líquida de R$ 2,26 bilhões em março até o dia 13.

De acordo com os estrategistas Aline Cardoso e Guilherme Motta, do Santander no Brasil, dados de atividade econômica mais fracos recentemente no país também reforçaram a percepção de que o pico da Selic pode ser menor do que o esperado.

A equipe de macroeconomia do Santander vê a Selic chegando a 15,5% em junho, com queda para 14,5% até o fim do ano. Atualmente, a taxa básica de juros está em 13,25%.

Nesta segunda-feira, a equipe de macroeconomia do Itaú, chefiada pelo ex-diretor do Banco Central Mario Mesquita, reduziu sua projeção para a Selic ao fim deste ano para 15,25%, de 15,75% antes, após cortar expectativa para a taxa de câmbio.

Estrategistas do Bank of America reiteraram “overweight” para as ações brasileiras em seu portfólio para a América Latina, citando o efeito do ritmo da atividade na inflação.

“Nos últimos três meses, a atividade está finalmente desacelerando, o que pode ancorar as expectativas de inflação e pavimentar o caminho para cortes (na Selic) mais cedo do que o mercado espera”, afirmaram em relatório a clientes.

“No entanto, o caminho para juros mais baixos será acidentado, pois taxas altas ainda pressionam os fluxos e os lucros das empresas, e há espaço para deterioração fiscal antes das eleições de 2026”, ponderaram.

Mais cedo, o Banco Central informou que o IBC-Br, considerado um sinalizador do PIB, cresceu 0,9% em janeiro sobre o mês anterior, em dado dessazonalizado, acima de expectativas no mercado (+0,2%).

Apesar da surpresa, economistas ainda veem a economia desacelerando nos próximos meses, sob efeito da política monetária restritiva.

A performance no pregão brasileiro nesta sessão também encontrou apoio na trajetória positiva em Wall Street, onde o S&P 500 fechou em alta de 0,64%, com investidores buscando pechinchas após quatro semanas consecutivas de queda.

DESTAQUES

– ITAÚ UNIBANCO PN valorizou-se 3%, com os bancos do Ibovespa mostrando desempenho robusto. BANCO DO BRASIL ON subiu 2,08%; BRADESCO PN fechou em alta de 1,48% e SANTANDER BRASIL UNIT ganhou 2,25%. Ainda, BTG PACTUAL UNIT avançou 2,83%.

– PETROBRAS PN encerrou o pregão com elevação de 1,86%, beneficiada pelo avanço dos preços do petróleo no exterior. PETROBRAS ON ganhou 2,32%.

– VALE ON subiu 1,44%, apesar da queda dos futuros do minério de ferro na China. O Itaú BBA elevou o preço-alvo do ADR da mineradora de US$12 para US$13, enquanto reiterou recomendação “outperform”

– MAGAZINE LUIZA ON avançou 5,63%, ampliando os ganhos da última sexta-feira, quando saltou mais de 13% após a divulgação do balanço. A alta dos papéis encontrou apoio no alívio das taxas dos contratos de DI. O índice do setor de consumo avançou 1,04%.

– SLC AGRÍCOLA ON recuou 3,92%, tendo no radar anúncio de aquisição de mais de 47 mil hectares totais de terra na Bahia e em Minas Gerais por R$913 milhões. Analistas do Bradesco BBI reiteraram recomendação neutra para as ações, citando “triggers” limitados no curto prazo.

– B3 ON fechou em queda de 3,5%, refletindo movimento de realização de lucros após três pregões de alta, quando saltou quase 24%. No setor, fontes afirmaram à Reuters que o Mubadala busca até 10 parceiros a fim de criar um consórcio para fornecer liquidez para a nova bolsa do Rio de Janeiro.

– NATURA&CO ON caiu 3,16%, mesmo após anunciar recompra de ações, na sequência de um tombo de 30% nos papéis na sexta-feira, uma vez que permanecem dúvidas sobre o ritmo do processo de “turnaround” da companhia e seus reflexos nos resultados da fabricante de cosméticos.