Os juros futuros fecharam a terça-feira, 10, em baixa, em reação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, que não somente veio no piso das estimativas como trouxe composição benigna, o que deu fôlego às apostas de manutenção da Selic no Copom de junho, que vinham enfraquecidas nos últimos dias.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,850%, de 14,873% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 14,22% para 14,15%. A taxa do DI para janeiro de 2028 cedeu a 13,57%, de 13,69%, e o DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 13,51% (de 13,64%).

O IPCA de maio, de 0,26%, teve forte desaceleração ante a taxa de 0,43% em abril, abaixo da mediana das projeções (0,34%) e alinhado à previsão mais otimista da pesquisa do Projeções Broadcast. Os preços de abertura mostraram desaceleração mensal em bens industriais, serviços, serviços subjacentes, serviços intensivos em mão de obra e a média dos núcleos, além de queda no índice de difusão. Em 12 meses, o IPCA passou de 5,53% até abril para 5,32% até maio.

Para Luiz Otávio de Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners, o IPCA de hoje dá esperança de que talvez o pior do processo inflacionário tenha ficado para trás. “Não que veremos daqui para frente uma desaceleração linear dos acumulados em 12 meses em todas as métricas, mas devemos observar oscilações com viés de baixa, de modo que o IPCA feche 2025 em 5,30%”, disse.

O resultado e a composição do indicador encorajaram apostas mais otimistas para a política monetária de curto prazo. Tanto na curva do DI quanto nas opções digitais da B3 cresceu a expectativa de manutenção da Selic em 14,75%, sendo que na B3 já aparecia como levemente majoritária. Nos DIs, a precificação de Selic mostrava nesta tarde 55% de chance de alta de 25 pontos-base e 45% de chance de estabilidade para junho. Ontem, a precificação para junho era de 64% de probabilidade de aumento de 25 pontos e 36% para manutenção.

“Temos reforçada a nossa percepção de que o Copom não vai elevar os juros na sua próxima reunião, com a Selic sendo mantida em 14,75% até pelo menos o final de 2025, uma vez que, se não parece mais necessário elevar os juros, tampouco há espaço para quedas no curto prazo”, afirma Leal.

Na avaliação de Matheus Pizzani, economista da CM Capital, o IPCA reforça a possibilidade de Selic estável no Copom da próxima semana, mas acredita que o colegiado trará uma comunicação dura, de forma a sinalizar que a taxa seguirá em nível elevado por período prolongado. “A comunicação não pode ser frouxa”, diz.

Gustavo Sung, da Suno Research, acredita que a estabilização da taxa câmbio nos atuais patamares, combinada à queda das commodities, deve contribuir para uma redução das pressões inflacionárias no segundo semestre, que tende a ser um período de maior estabilidade de preços. Ainda assim, mantém a expectativa de alta de 0,25 ponto porcentual no Copom de junho. “Caso os próximos dados mostrem um comportamento mais benigno, especialmente em relação à atividade econômica e ao mercado de trabalho, é possível que o ciclo de alta de juros tenha chegado ao fim”, afirma.

Na quinta e na sexta, serão divulgadas a divulgada a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) e a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). “Teremos esta semana uma janela importante de indicadores de atividade para o mercado e para o Copom”, afirma Pizzani.

Nos vencimentos longos, o economista da CM atribuiu a dinâmica essencialmente à ausência de novidades no noticiário sobre o IOF. “O fato de não ter notícia foi a boa notícia nesse atual momento da política fiscal doméstica.”

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu hoje com o presidente Lula para apresentar as medidas discutidas com lideranças do Congresso no último domingo e que foram entregues hoje à Casa Civil. Ele informou que uma comissão de líderes será formada para avaliar medidas de redução do gasto primário, grupo que terá o apoio técnico da Pasta.