06/08/2024 - 18:10
Os juros futuros dispararam nesta terça-feira, pressionados pelo avanço dos Treasuries e pela leitura da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), considerada “hawkish”. O ajuste ao documento foi turbinado por fatores técnicos e a aposta de aperto da Selic na reunião de setembro voltou a prevalecer.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,695%, de 10,587% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 subia de 11,22% para 11,54%. A do DI para janeiro de 2027 avançava a 11,69% (de 11,44%) e a do DI para janeiro de 2029, de 11,71% para 11,84%.
Os mercados como passaram hoje por uma tentativa de normalização das condições, após o forte nervosismo que atingia os ativos de risco desde o fim da semana passada. A correção na curva dos Treasuries começou tímida, mas ganhou impulso à tarde após o leilão de US$ 58 bilhões em T-notes de 3 anos com demanda abaixo da média. A taxa do papel de 10 anos chegou a até 3,90%.
O estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, vê o movimento como uma correção do “flight to quality” que derrubou as taxas americanas na semana passada a partir da narrativa do temor de recessão nos EUA que, na sua visão, é equivocada. “O que está acontecendo no Japão explica muito mais o movimento de saída do risco do que os indicadores nos EUA, que mostram sim uma desaceleração da economia, mas estão longe de mostrar recessão”, disse. Por isso, acrescenta, o comportamento do iene e quanto o juro da T-Note se afasta dos 4% serão termômetros importantes para acompanhar as condições do mercado.
As intervenções no câmbio e o aperto monetário promovidos pelo Banco do Japão (BoJ) fortaleceram o iene, o que puxou expressivo desmonte de posições de carry trade, com o impacto relevante em moedas emergentes, também transbordando para outros ativos.
Assim que o processo de desalavancagem estiver concluído e o Federal Reserve iniciar o ciclo de afrouxamento nos EUA, “o investidor voltará a olhar ativos de risco com mais carinho”, completou Mathias.
A ata da reunião de julho trouxe que vários membros ressaltaram a assimetria do balanço de riscos para a inflação. O Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a Selic, hoje em 10,50%, para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado.
Na curva, as apostas de alta da Selic dispararam, não somente em função da ata, mas também resultado do movimento de zeragem de posições vendidas, que ganhou fôlego no meio da tarde, o que acaba pesando na precificação. Para o Copom de setembro, a aposta de aumento de 25 pontos-base foi totalmente recomposta, com 100% de probabilidade, ante 80% de chances vistas na parte da manhã e 60% de probabilidade ontem. Para o fim de 2024, a curva mostrava taxa de 11,40%.
Já os economistas mostram uma postura menos radical. Pesquisa do Projeções Broadcast com 45 casas mostra unanimidade em torno da estabilidade da Selic no próximo Copom. Para o fim do ano, 42 preveem manutenção, duas esperam queda e uma, aumento.