Após oscilar abaixo dos 6,10 reais em vários momentos da sessão, com investidores reduzindo excessos nos preços e reagindo a falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o dólar praticamente zerou as perdas na reta final desta terça-feira, 7, e terminou a sessão perto da estabilidade.

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O dólar à vista fechou em leve baixa de 0,14%, aos 6,1056 reais. Às 17h02 na B3 o dólar para fevereiro — atualmente o mais líquido — cedia 0,10%, aos 6,1355 reais. Veja cotações.

O Ibovespa encerrou em terreno positivo nesta terça-feira, apoiado no bom desempenho das ações da Petrobras e do setor bancário, com destaque para o BTG Pactual, que anunciou acordo para comprar a unidade brasileira do banco suíço Julius Baer.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,95%, a 121.162,66 pontos, tendo marcado 121.713,23 pontos na máxima e 120.022,23 pontos na mínima da sessão. O volume financeiro somou 21,06 bilhões de reais.

O dólar no dia

Pela manhã, a moeda norte-americana ainda repercutiu notícia, publicada na véspera pelo Washington Post, de que o governo de Donald Trump pode adotar tarifas de importação não tão elevadas nos Estados Unidos. Se confirmado, isso pode se traduzir em inflação não tão pressionada nos EUA, juros não tão altos e um dólar mais fraco ante divisas de exportadores de commodities.

Além do fator externo, no Brasil os mercados de câmbio e de juros futuros seguiram passando por um processo de redução de prêmios nesta terça-feira, após a pressão vista no fim de 2024.

“O fechamento de 2024 acabou pressionando mais a moeda, porque tem muita empresa fechando balanço, fechando hedge (proteção) para 2025”, comentou Harrison Gonçalves, sócio da CMS Invest, ao avaliar o avanço firme do dólar nas últimas semanas do ano passado. “Mas 2025 é um novo ano, e somado a isso temos uma mudança de posicionamento do governo sobre o fiscal.”

Na avaliação de Gonçalves, desde o fim de 2024 o governo Lula tem procurado reforçar o compromisso com a redução de gastos.

Durante a tarde desta terça-feira, em entrevista à GloboNews, Haddad disse que o governo encerrou 2024 com um déficit primário de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB), acrescentando que novas iniciativas para sanear as contas públicas seguem sendo estudadas.

Haddad afirmou ainda que houve uma reação exagerada do mercado com a alta recente do dólar, acrescentando que espera uma acomodação do câmbio.

“Hoje o dólar está valorizado no mundo inteiro, e nós vamos sentir os efeitos disso aqui no Brasil, embora eu considere que tenha havido um exagero (do mercado) em relação à perspectiva da economia brasileira, para pior”, disse o ministro.

Para Gonçalves, da CMS Invest, não houve qualquer mudança conjuntural neste início de 2025, “mas a perspectiva começa a ficar um pouco mais positiva”. “Não à toa a curva de juros tem caído e a bolsa tem apresentado crescimento”, pontuou, ao justificar o recuo do dólar ante o real até o meio da tarde.

Na reta final, porém, o dólar recuperou força no Brasil e as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) migraram para o positivo, com alguns agentes realizando lucros após a queda recente das cotações.

Assim, o dólar à vista marcou a máxima de 6,1197 reais (+0,09%) às 9h01, logo após a abertura, e atingiu a mínima de 6,0538 reais (-0,99%) às 13h06. No fim da tarde, às 16h25, ficou novamente muito próximo do pico, aos 6,1190 reais (+0,08%).

No exterior, às 17h10, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,25%, a 108,580.

No fim da manhã, o Banco Central vendeu 15.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 3 de fevereiro de 2025.

O dia do Ibovespa

“Será que a recuperação está a caminho depois de ontem?”, questionaram analistas do Itaú BBA em relatório nesta terça-feira, após o índice fechar com alta superior a 1% na primeira segunda-feira do ano.

Os dois últimos pregões ajudaram a trazer o Ibovespa de volta aos 121 mil pontos, depois que incertezas fiscais e preocupações com a inflação e um dólar fortalecido ante o real pressionaram o índice, principalmente no final de 2024.

Mas os analistas destacaram que o momento ainda exige certa cautela, apesar do leve vislumbre de uma mudança de direção.

“Importante o investidor entender que após um período longo de queda, sempre abre uma janela de oportunidade. Porém, o momento segue de cautela e de reduzir a volatilidade da carteira”, acrescentaram Fábio Perina, Lucas Piza e Igor Caixeta, do Itaú BBA, em análise técnica Diário do Grafista.

O desempenho do Ibovespa no dia contrastou com os índices acionários nos Estados Unidos, que recuaram após dados mostrarem que a economia norte-americana permaneceu forte no final de 2024, alimentando incertezas sobre o ritmo de flexibilização monetária que o Federal Reserve pode adotar este ano.

“O mercado começa a ficar na dúvida se vai existir uma vontade (por parte do Fed) de abaixar os juros”, afirmou Daniel Faria, sócio da Corano Capital.

Na cena doméstica, o governo federal encerrou 2024 com um déficit primário de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo informado nesta terça-feira pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista à GloboNews.

Caso o dado seja confirmado, o governo terá cumprido a meta fiscal de 2024, que prevê déficit zero, com tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB para mais ou para menos. O dado oficial do resultado primário do ano ainda não foi divulgado.

Haddad também reconheceu falhas na comunicação do governo, citando como exemplo o anúncio da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais em conjunto com as medidas de ajustes nas despesas públicas, algo que estressou o mercado. Ele disse que o Executivo está buscando uma coesão de discurso.

DESTAQUES

– BTG PACTUAL UNIT subiu 1,78%, arrefecendo a alta, que chegou a 4% no melhor momento, após fechar acordo para comprar a unidade de gestão de patrimônio doméstico do banco suíço Julius Baer no Brasil por 615 milhões de reais. O negócio — que tem escritórios em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro — tinha 61 bilhões de reais em ativos sob gestão em 30 de novembro. Analistas do Citi disseram que a aquisição é positiva para o BTG do ponto de vista estratégico, enquanto o Goldman Sachs destacou que o negócio de gestão de fortunas fornece “uma importante fonte de receitas recorrentes” para o banco brasileiro.

– PETROBRAS PN avançou 2,13%, acompanhando a alta do petróleo no exterior, onde o barril de Brent fechou com valorização de 0,98%, a 77,05 dólares. O diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da empresa, Maurício Tolmasquim, disse na segunda-feira que a Petrobras planeja entrar no segmento de produção de biometano, após a estatal lançar a primeira chamada pública para contratar o insumo.

– ITAÚ UNIBANCO PN fechou com acréscimo de 1,09%, em mais uma sessão positiva para papéis bancários, enquanto BANCO DO BRASIL ON subiu 1,21%, SANTANDER BRASIL ON avançou 1,54% e BRADESCO PN ganhou 1,40%.

– ULTRAPAR ON subiu 3,66%, após o JPMorgan elevar a recomendação do papel para “overweight”, mencionando um valuation atrativo de 4,9 vezes o valor da empresa pelo Ebitda (EV/Ebitda) esperado para 2025. A ação caiu mais de 30% em 2024. “Na nossa visão, esse movimento foi exagerado e vemos a Ultrapar como uma oportunidade de investimento atraente”, disseram os analistas do JPM em relatório nesta terça-feira.

– VALE ON perdeu 0,97%, diante do recuo nos preços futuros do minério de ferro, que foram pressionados pelo aumento dos estoques do ingrediente de fabricação de aço e pela decepção com a falta de mais estímulos monetários na China. Pela manhã, a mineradora anunciou que assinou um memorando de entendimentos com a sueca GreenIron para explorar projetos de descarbonização da cadeia de suprimentos de mineração e metais no Brasil e na Suécia.

– SABESP ON ganhou 1,33%, a 89,24 reais, ampliando a alta da sessão anterior. Analistas do BofA têm preço-alvo de 116 reais para a ação (versus 115 reais antes) e os do UBS BB fixaram o preço-alvo em 118 reais (de 121 reais anteriormente), conforme relatórios dos bancos divulgados na véspera.

– HAPVIDA ON disparou 9,17%, liderando os ganhos percentuais do Ibovespa, seguida por AUTOMOB ON, uma fusão da Vamos Concessionárias com a Automob, que subiu 6,06%. O papel da Hapvida acumulou queda de quase 50% em 2024, enquanto a Automob, nova empresa do grupo Simpar, fez sua estreia na bolsa em dezembro.

– AZUL PN caiu 2,33%, em movimento de ajuste após fechar com alta superior a 14% na sessão anterior, diante de renegociação de débitos com a União. No setor, GOL PN, que não pertence ao Ibovespa, recuou 1,27%, também depois de um salto de mais de 13% na segunda-feira.