12/12/2024 - 17:24
O dólar voltou a fechar em alta nesta quinta-feira, 12, após duas sessões de recuo, à medida que fluxos de saída de estrangeiros e os altos prêmios de risco do país, impulsionados por temores fiscais, mais do que compensavam a euforia inicial dos investidores com a decisão do Copom na véspera, em pregão que ainda contou com um leilão de linha do Banco Central.
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O dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,90%, cotado a R$ 6,0128. Veja cotações.
Na B3, às 17h04, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,07%, a 6,029 reais na venda.
O Ibovespa fechou em forte queda nesta quinta-feira, após três altas seguidas, pressionado pela decisão do Banco Central de acelerar o ritmo de alta da Selic e sinalizar uma política monetária ainda mais restritiva.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 2,74%, a 126.042,21 pontos, tendo marcado 125.828,56 pontos na mínima e 129.587,08 pontos na máxima do dia, com apenas uma ação da sua composição no azul,
O volume financeiro somou 26,89 bilhões de reais.
O dólar no dia
No início da sessão desta quinta, o dólar chegou a recuar de forma acentuada com a reação positiva do mercado à decisão do Copom na véspera de elevar a Selic em 1 ponto percentual, a 12,25% ao ano, e sinalizar mais duas altas de mesmo tamanho no próximo ano.
A sinalização para as duas próximas reuniões pegou os investidores de surpresa. Além do fato de o BC vir evitando o fornecimento de um “guidance” para seus encontros futuros, os analistas não previam duas altas dessa magnitude no próximo ano.
A elevação da Selic aumenta o diferencial de juros do Brasil com as taxas de países com moedas fortes, como o caso dos Estados Unidos, o que torna o real bastante atrativo para operações de “carry trade”.
Com isso, o dólar atingiu a mínima da sessão às 9h06, a 5,8696 reais (-1,50%).
Por volta das 12h15, no entanto, a divisa dos EUA mudou de direção e passou a subir ante o real.
Segundo analistas, o movimento ocorreu na esteira, primeiramente, das perdas na bolsa brasileira, que ocorriam justamente pela perspectiva de uma Selic mais alta do que o esperado para o início do próximo ano, levando investidores estrangeiros a realizar lucros e encaminhá-los para o exterior.
“A performance da bolsa está refletindo no câmbio. Então, está saindo dinheiro da bolsa e grande parte retornando para o exterior e isso está impactando a liquidez”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Às 17h34, o Ibovespa recuava 1,18%, a 126.325,36 pontos.
Esse fluxo explicaria porque os dois leilões de linha realizados pelo Banco Central durante a amanhã, quando vendeu um total de 4 bilhões de dólares com compromisso de recompra, tiveram efeito nulo nas cotações do dólar.
A autarquia costuma realizar leilões de linha nos finais de ano, em especial em dezembro, para atender à demanda por moeda para envio ao exterior, mas não justificou o motivo para as vendas desta quinta-feira.
No fim da manhã, o BC ainda vendeu todos os 15.500 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 2 de janeiro de 2025.
Alguns analistas também chamaram atenção para os altos prêmios de risco na curva de juros brasileiras, com as taxas de DIs (Depósitos Interfinanceiros) subindo no longo prazo, sobretudo devido aos temores dos investidores com o equilíbrio das contas públicas, o que afastou a entrada de recursos estrangeiros.
Nessa questão, o foco parecia estar nas notícias sobre o quadro de saúde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao permanecer no hospital após realizar uma cirurgia para drenar um hematoma no crânio, o chefe do Executivo estava longe das mais recentes articulações pelo avanço do pacote de contenção de gastos no Congresso, gerando no mercado mais incerteza sobre a tramitação das medidas.
Por outro lado, a sinalização dos médicos de Lula de que seu quadro de saúde continua estável estaria derrubando expectativas criadas por alguns investidores de que a hospitalização poderia afastar as chances de o petista disputar a reeleição, o que abriria espaço para um nome mais alinhado ao mercado.
“Mercado está operando muita mais com notícia, principalmente sobre a saúde do presidente. Acho que o mercado já jogou a toalha para esse governo, mas é um movimento muito mais especulativo do que estrutural”, disse Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
“O que está elevando o prêmio é uma continuidade do cenário atual com risco fiscal, o que significa uma continuidade desse governo”, completou.
O dólar atingiu a máxima da sessão às 14h39, a 6,0489 reais (+1,51%).
No exterior, o dólar também operava com força, subindo frente a maioria das divisas de países emergentes, como peso mexicano e rand sul-africano, o que também extraía recursos do mercado brasileiro.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,41%, a 106,990.
O dia do Ibovespa
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou a Selic em 1 ponto percentual, a 12,25% ao ano, na véspera e sinalizou mais dois aumentos da mesma magnitude à frente, citando “um cenário mais adverso para a convergência da inflação”.
Economistas avaliaram o movimento como um “choque de credibilidade” e uma tentativa do BC para “domar” as expectativas de inflação, que pioraram nas últimas semanas, com alguns ajustando suas previsões para o final do ciclo de alta.
Tal cenário complica ainda mais o ambiente para a renda variável, uma vez que desestimula a alocação de recursos em ativos de risco, como é o caso de ações.
O efeito benigno da decisão na taxa de câmbio foi efêmero, com o dólar recuando pela manhã, mas voltando a se valorizar ante o real à tarde, fechando a 6,0128 reais (+0,90%). Nos DIs, os vencimentos mais longos tampouco mostraram alívio.
“O mercado está cético”, disse o diretor de investimentos da Reach Capital, Ricardo Campos, citando ainda o efeito negativo no mercado das declarações de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será candidato à reeleição em 2026.
De acordo com Campos, investidores estão olhando a tendência de crescimento da dívida/PIB e presumindo cada vez mais que o governo não fará um ajuste fiscal relevante e pode precisar gastar mais para manter o ritmo do crescimento econômico.
“É a preocupação com uma trajetória explosiva da dívida que explica reações aos noticiários envolvendo o futuro do presidente, dadas as suas sinalizações nesse tema”, explicou.
Campos acrescentou que a reação negativa ao posicionamento “mais hawkish possível que o BC poderia ter assumido” é explicada pela incerteza sobre o efeito da política monetária se ela não vier acompanhada de um ajuste fiscal.
“E em momentos de dúvidas, o dólar acaba sendo a porta de saída.”
Na visão do chefe da área de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, o mercado está descontando o silêncio e a demora do governo e do Congresso sobre o andamento do pacote de corte de gastos.
“A política monetária não vai conseguir resolver tudo sozinha se não tiver a parte do fiscal.”
DESTAQUES
– VALE ON caiu 2,89%, mesmo com o avanço do futuro do minério de ferro na China, tendo como pano de fundo relatório do Morgan Stanley cortando recomendação das ações para “equal-weight”, em meio a incertezas sobre oferta/demanda e preços, além de efeitos do acordo sobre o desastre em Mariana (MG) na geração do fluxo de caixa livre da mineradora.
– PETROBRAS PN fechou negociada em baixa de 1,79%, em dia de quedas modestas dos preços do petróleo no exterior. A estatal disse que assinou contratos de 16,5 bilhões de reais para construção e afretamento de 12 embarcações de apoio, do tipo PSV, que serão utilizadas em operações de logística de exploração e produção de petróleo e gás.
– ITAÚ UNIBANCO PN recuou 2,49%, enquanto BRADESCO PN perdeu 3,46%, BANCO DO BRASIL ON caiu 1,43% e SANTANDER BRASIL UNIT encerrou em queda de 3,56%, dado o potencial desaquecimento da economia com uma política monetária mais restritiva e seus efeitos no mercado de crédito, entre outros reflexos.
– AMBEV ON perdeu 5,07%, após aprovar 10,5 bilhões de reais em remuneração a acionistas, bem como a alteração na frequência de distribuição de proventos — hoje anual — para períodos potencialmente menores. Para o Itaú BBA, a Ambev está se movendo na direção certa em termos de alocação de capital, mas em um ritmo mais lento do que alguns previam.
– GPA ON desabou 11,02%, acompanhado por CARREFOUR BRASIL ON, que tombou 8,59%, e ASSAÍ ON, que recuou 6,34%, dado o cenário de juros mais elevados, que tende a ser desfavorável para o setor de varejo, de consumo cíclico. O índice do setor de consumo fechou em queda de 2,42%. PETZ ON caiu 10,55%.
– HAPVIDA ON subiu 1,12%, no terceiro pregão seguido no azul, sendo a única alta do Ibovespa nesta quinta-feira. Analistas do UBS BB reiteraram a recomendação de compra para as ações, mas cortaram o preço-alvo de 5,50 reais para 4,70 reais. Na segunda-feira, os papéis fecharam em uma mínima desde abril de 2023.