O mercado de câmbio teve nesta quarta-feira, 4, a segunda sessão seguida de relativo alívio no Brasil, com o dólar fechando em leve baixa, ainda que acima dos 6,00 reais, refletindo o recuo da moeda norte-americana ante outras divisas durante boa parte do dia, enquanto o pacote fiscal do governo Lula seguia no foco dos investidores.

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O dólar à vista fechou o dia com queda de 0,26%, cotado a 6,0469 reais, após ter atingido na segunda-feira o maior valor nominal de encerramento da história, de 6,0652 reais. No ano a divisa dos EUA acumula elevação de 24,64%.

Às 17h04, o dólar para janeiro — o mais líquido no Brasil — cedia 0,12%, aos 6,0535 reais.

O Ibovespa também fechou praticamente estável nesta quarta-feira, com Vale entre as maiores pressões de baixa, enquanto Suzano serviu como um dos contrapesos positivos após “upgrade” do Morgan Stanley, assim como BRF, que avançou mais de 5%.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa encerrou com variação negativa de 0,04%, a 126.087,02 pontos, após marcar 125.828,01 pontos na mínima e 126.719,76 pontos na máxima do dia. O volume financeiro somou 22,14 bilhões de reais.

O dólar no dia

No início do dia o dólar chegou a oscilar no território positivo, com o mercado à espera de novos dados sobre a economia norte-americana e de uma participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em evento em Brasília. Às 9h37 o dólar à vista atingiu a cotação máxima de 6,0745 reais (+0,20%).

A perda de força do dólar no exterior e comentários de Haddad no fim da manhã, no entanto, favoreceram o recuo da moeda norte-americana no Brasil, ainda que contido.

Lá fora, dados da ADP mostraram que foram gerados 146.000 empregos no setor privado dos EUA em novembro, após avanço revisado para baixo de 184.000 em outubro. Economistas consultados pela Reuters previam que o emprego privado aumentaria em 150.000 posições após um salto de 233.000 em outubro.

Já o Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM) informou que seu Índice de Gerentes de Compras (PMI) do setor não manufatureiro caiu para 52,1 no mês passado, depois de ter subido para 56,0 em outubro — nível mais alto desde agosto de 2022. Economistas consultados pela Reuters previam uma leitura de 55,5.

A S&P Global informou que seu PMI de serviços atingiu 56,1% em novembro, ante preliminar de 57,0%.

Na esteira dos dados, os rendimentos dos Treasuries perderam força, assim como o dólar ante diversas divisas no exterior.

Já Haddad fez críticas à forma como parte do mercado financeiro recebeu o pacote fiscal lançado na semana passada e disse que as medidas anunciadas são suficientes para o momento, prevendo a aprovação no Congresso ainda este ano, sem descartar a possibilidade de mais ações se necessário.

Neste cenário, o dólar à vista marcou a mínima de 6,0200 reais (-0,70%) às 14h59.

Profissionais ouvidos pela Reuters pontuaram, no entanto, que a desconfiança no pacote fiscal apresentado pelo governo limitava o recuo da moeda norte-americana. No mercado de DIs (Depósitos Interfinanceiros), esta desconfiança, somada à percepção de que a inflação segue pressionada, levou a curva a precificar 44% de chances de a taxa básica Selic subir 100 pontos-base este mês. Atualmente a Selic está em 11,25% ao ano.

No exterior, às 17h09, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,02%, a 106,340.

No fim da manhã o Banco Central vendeu todos os 15.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 2 de janeiro de 2025.

O dia do Ibovespa

Investidores permanecem reticentes a apostas relevantes na bolsa paulista, uma vez que ainda veem um ambiente incerto para as ações brasileiras no próximo ano, diante de preocupações com o quadro fiscal e a inflação e o efeito dessas questões na trajetória dos juros do país.

Na visão de economistas da Warren Rena, a política fiscal só sairá da berlinda com novas medidas. O “desafio é muito maior do que o efeito integral do pacote anunciado”, afirmaram em relatório enviado a clientes. “O governo precisa ampliar — e muito — seu esforço fiscal.”

Há também expectativas de que o exterior fique menos favorável a países emergentes — grupo no qual o Brasil está inserido — após a vitória do republicano Donald Trump nas eleições de novembro nos Estados Unidos, diante de possíveis políticas inflacionárias e um maior protecionismo comercial.

Em Wall Street, a sessão foi de recordes dos principais índices acionários, em performance apoiada por ações de tecnologia, com o dia ainda marcado por declarações do chair do Federal Reserve, Jerome Powell.

DESTAQUES

– VALE ON caiu 1,95%, mesmo com o avanço dos futuros do minério de ferro na China, enquanto agentes ainda analisavam sinalizações da mineradora em evento anual na véspera, quando também foram divulgadas projeções para 2025.

– PETROBRAS PN caiu 0,63%, acompanhando o declínio do petróleo no exterior. Agentes também repercutiram informação da colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou Bruno Moretti para presidir o conselho de administração da estatal no lugar de Pietro Mendes.

– ITAÚ UNIBANCO PN subiu 0,62%, ajudando o Ibovespa como contrapeso positivo, assim como BANCO DO BRASIL ON, que fechou em alta de 1,21% e BRADESCO PN, que se valorizou 1,14%.

– BRF ON avançou 5,58%, conforme persiste o otimismo com a indústria de frango, que alimenta expectativas para resultados fortes esperados em 2025. Na véspera, o Itaú BBA elevou previsões para a companhia de alimentos, bem como o preço-alvo, de 19 para 29 reais.

– SUZANO ON subiu 2,6%, endossada por relatório de analistas do Morgan Stanley elevando a recomendação das ações a “overweight” ante “equalweight”, bem como preço-alvo dos papéis de 62 para 83 reais. No setor, KLABIN UNIT fechou em alta de 2,65%.

– LWSA ganhou 4,58% após cinco pregões seguidos de queda, com agentes financeiros repercutindo dados de GMV (volume total de mercadorias) transitado pelo ecossistema da companhia durante a Black Friday e em novembro.

– CSN ON cedeu 2,01%, revertendo os ganhos da abertura, quando reagiu ao anúncio de companhia de que “não está mais engajada” no processo de aquisição da Intercement.