World Boxing, responsável pela modalidade nos próximos jogos olímpicos, suspende a boxeadora argelina Imane Khelif da Copa do Mundo até que a campeã olímpica realize o teste.A World Boxing anunciou nesta sexta-feira (30/05) a adoção de testes obrigatórios de gênero para todos os atletas, homens e mulheres, que desejarem competir em eventos organizados pela entidade.

O órgão será o novo responsável por organizar as competições de boxe nos Jogos Olímpicos de 2028 após receber um reconhecimento provisório do Comitê Olímpico Internacional (COI) em fevereiro.

Segundo comunicado oficial, a medida faz parte de uma nova política intitulada “Sexo, Idade e Peso”, com o objetivo de garantir a segurança dos participantes e oferecer “condições justas de competição para homens e mulheres”.

Controvérsia sobre boxeadora argelina

A decisão ocorre em meio a controvérsias sobre a participação da boxeadora argelina Imane Khelif nos Jogos Olímpicos de Paris, de 2024.

Na ocasião, uma de suas adversárias desistiu de lutar alegando, sem provas, que Khelif não seria mulher por “bater forte demais”.

A argelina havia sido desqualificada no Campeonato Mundial de Boxe Feminino em Nova Delhi, em março de 2023, então sob responsabilidade de outra entidade, a Associação Internacional de Boxe (IBA).

A atleta foi excluída com base em um teste de DNA, quando já havia chegado à final. A IBA afirmou que a boxeadora violava a regra que barrava pessoas com cromossomos XY de torneios femininos.

Nos Jogos Olímpicos, porém, o boxe foi organizado pelo próprio COI, que rompeu com a IBA por casos de corrupção envolvendo a entidade. Khelif, que não é uma atleta transgênero, foi autorizada a participar e ganhou a medalha de ouro.

World Boxing comunica federação argelina

Apesar de a nova regra valer apenas a partir de julho, a World Boxing comunicou à Federação Argelina de Boxe que Khelif precisará se submeter ao teste de gênero antes mesmo da Copa do Mundo que será disputada em Eindhoven, na Holanda, de 5 a 10 de junho.

“A World Boxing escreveu à Federação Argelina de Boxe para informar que Imane Khelif não poderá participar da categoria feminina na Eindhoven Box Cup ou em qualquer evento da World Boxing até que se submeta ao teste”, diz o comunicado.

Isso porque, segundo a federação, Khelif teve sua certificação de gênero contestada. Neste caso, a “atleta ficará inelegível para competir até que a disputa seja resolvida”.

De acordo com a nova regra, caberá às federações nacionais testar e confirmar o gênero de cada atleta, fornecendo um certificado à entidade antes da liberação para competir.

Em 2024, tal obrigação foi um dos pontos que geraram atrito entre o COI e a IBA. O Comitê defendeu a participação da boxeadora por “cumprir os requisitos de participação e elegibilidade da competição, bem como todas as regulamentações médicas aplicáveis”, e disse que sua desqualificação por um teste de gênero da IBA, em 2023, foi “arbitrária”.

A World Boxing foi criada em 2023 justamente com a intenção de manter o boxe nos Jogos Olímpicos após a suspensão da IBA.

Como funcionarão os testes de gênero?

Todos os atletas com mais de 18 anos deverão realizar um teste genético por PCR para participar de eventos sancionados pela World Boxing.

O exame pode ser feito por amostra de saliva, sangue ou swab nasal/bucal e serve para identificar o sexo atribuído ao nascimento.

“O teste PCR é uma técnica de laboratório usada para detectar material genético específico, neste caso o gene SRY, que revela a presença do cromossomo Y — um indicador de sexo biológico”, explicou a entidade.

Atletas com características biológicas femininas que possuírem o cromossomo Y poderão passar por avaliações adicionais, como triagem genética, análise hormonal, exame anatômico ou outro tipo de investigação endocrinológica, para indicar se houve, ou não, androgenização.

Em caso negativo, ela poderá disputar a competição contra outras mulheres.

Isso ocorre porque há casos raros de mulheres com características biológicas femininas que mesmo assim apresentam um cromossomo Y. Essa diferença no desenvolvimento sexual (DDS) é chamada de intersexo.

A nova política prevê a possibilidade de recurso por parte dos atletas.

Khelif quer defender título em 2028

Imane Khelif já manifestou o desejo de defender seu título olímpico em Los Angeles 2028.

“Para mim, eu me vejo como uma garota, como qualquer outra. Nasci mulher, fui criada como mulher e vivi minha vida inteira assim”, afirmou Khelif em março.

Contudo, Khelif não chegou a confirmar se apresenta DDS. À época, seu pai veio a público apresentar a certidão de nascimento da filha e disse que ela nasceu mulher e foi criada como mulher.

gq (dw, afp, ap, reuters)