Filmes não foram feitos para gastar, mas para fazer dinheiro.? A frase é de Quentin Tarantino, cultuado diretor americano de sucessos como
Kill Bill e Pulp Fiction. Ela resume o conceito que ajudou a transformar um bairro de Los Angeles, Hollywood, no centro da indústria cinematográfica mundial. No Brasil, onde a indústria é infinitamente mais modesta, alguns jovens realizadores começam a recitar o mantra fundamental do entretenimento. Eles são parte de uma geração que já chegou aos sets de filmagem sob o signo da economia de mercado. Entendem que um estudo de viabilidade econômica é necessariamente a primeira etapa da produção. Para eles já não basta vender ingresso e lotar salas de exibição: é preciso negociar a venda de DVDs e buscar acordos de co-produção internacional. ?Antigamente se fazia cinema para mudar o mundo?, diz Flávio Tambellini, produtor da Ravina. ?Hoje, estamos numa grande indústria, com muito dinheiro em jogo.?

As raízes dessa mudança encontram-se na chamada fase da retomada, que teve início após a derrota de Fernando Collor, em 1994. Hoje, 20 anos depois, a indústria do audiovisual brasileira vive dias de sucesso, com montagens grandiosas e audiências recordes. O filme 2 Filhos de Francisco atingiu a marca de 5,3 milhões de espectadores, o melhor resultado desde Dona Flor e Seus Dois Maridos, de 1976, com 12 milhões de ingressos vendidos. Somente neste início de ano, há cerca de 130 longa-metragens e 500 curtas sendo realizados no País. Embora a maior parte da verba de produção ainda venha do orçamento da União, ou de benefícios fiscais, nesta nova fase da indústria nacional buscam-se alternativas que levem à independência do Estado. Uma delas é a exploração mais organizada da venda de DVDs. O filme Olga, da produtora Nexus, obteve R$ 1,1 milhão de lucro somente com vídeos domésticos. ?A receita de DVD é livre, não há pagamento de comissões e os custos são baixos?, diz Rita Buzzar, da Nexus. Em seu próximo longa-metragem, Budapeste (baseado no livro homônimo de Chico Buarque), Rita partirá para a captação internacional. O filme, orçado R$ 6 milhões, já tem acordos de co-produção com Hungria e França.

No Brasil, um novo caminho para os recursos privados passa pelo mercado de capitais. Lançado em 2003, o Funcine é um fundo de investimento que aplica somente em projetos cinematográficos. ?A vantagem para quem investe é que, além da dedução fiscal, o dinheiro é remunerado se o projeto dá lucro?, diz Fernando Buarque, diretor da gestora de recursos Rio Bravo. Dois Funcines já foram criados, mas apenas o da Rio Bravo ainda está aberto para captação. A cota mínima para o investidor pessoa física é de R$ 300 mil. O foco do investimento dos Funcines é na etapa da distribuição, um dos elos da cadeia carente de recursos públicos, hoje concentrados na produção. Tais recursos ainda são essenciais. ?Não existe cinema sem financiamento público, a não ser nos Estados Unidos?, afirma Leonardo de Barros, sócio da Conspiração Filmes. ?Acabar com os benefícios fiscais, nesse momento, sufocaria nossa produção.?

Recentes sucessos

Leonardo de Barros, da Conspiração
(à dir.) Rita Buzzar, da Nexus (à dir.)

2 Filhos de Francisco (2005)

Diretor: Breno Silveira
Produção: Conspiração Filmes, Columbia, Globo Filmes e ZCL
Espectadores: 5,3 milhões
Orçamento: R$ 5,9 milhões
Olga (2004)

Diretor: Jayme Monjardim
Produção: Nexus, Europa, Lumiére e Globo Filmes
Espectadores: 3 milhões Orçamento: R$ 8,5 milhões

Flávio Tambellini, da Ravina (à dir.)

Carandiru (2003)

Diretor: Hector Babenco
Produção: HB Filmes, Ravina Filmes e Globo Filmes
Espectadores: 4,6 milhões Orçamento: R$ 12 milhões