Você sabia que existem no mercado brasileiro camas que custam R$ 70 mil? É bom repetir ? R$ 70 mil. Dá para comprar um apartamento inteiro com o mesmo valor. Elas não são feitas de ouro, não são fruto de leilão do espólio dos Beatles e nem relíquias arqueológicas. São simplesmente… camas. E por mais que isso pareça surreal, na quinta-feira 9, a fabricante dessas peças raras, a holandesa Auping, abrirá uma loja exclusiva em São Paulo. Será a primeira das Américas. Nem Nova York tem uma, e só existem outras quatro iguais no mundo (em Londres, Madri, Barcelona e Moscou). Num espaço chique-moderninho de quase 300 m2, a seleta freguesia terá a chance de entender ? ou ao menos tentar ? por que uma cama pode atingir preço tão alto. E também fazer um test-drive em uma área reservada, onde será possível refestelar-se à vontade, mas com toda a discrição.

O investimento no negócio foi de R$ 700 mil, inteiramente bancados pela empresária Liliana Tuneu. Proprietária da loja Collectania, de São Paulo, há nove anos ela importa as camas da Auping. Comercializa cerca de 30 unidades por mês (nem todas de R$ 70 mil; há modelos mais em conta, de R$ 12 mil) e acredita que as vendas vão crescer 30% com o ponto exclusivo. Na Collectania, as camas dividiam atenção com armários da marca italiana MisuraEmme. Liliana, uma simpática uruguaia que há 23 anos atua no segmento de móveis de alto padrão no Brasil, gosta de dizer o seguinte: ?Não vendemos camas. Vendemos um conceito de sono?.

Fundada em 1888, a Auping notabilizou-se na Europa por tratar o sono da mesma maneira que os laboratórios médicos: como questão de saúde. Cada peça desenvolvida na sede da empresa, em Deventer, carrega orientações de ortopedistas, psiquiatras, especialistas em luz, em cores, em tecidos e, obviamente, designers ? porque, além de funcionais, os produtos precisam ser bonitos. Com produção 100% verticalizada, a companhia também faz colchões, edredons, lençóis, travesseiros, luminárias e mesas de cabeceira. ?Dormir é mais do que apagar a luz e fechar os olhos. É tão importante quanto respirar. Por isso, cuidamos de tudo para que este momento seja perfeito?, afirma Japp Van der Voort, gerente de exportação da Auping.

Para entender isso melhor, fiquemos com o tal modelo de R$ 70 mil (80% do preço são impostos, frisa Liliana). Ele consumiu cinco anos de pesquisas e, hoje, só é feito sob encomenda. ?Cada peça é única, e precisa ser construída de acordo com o peso e a estatura do comprador?, diz o executivo. A supercama traz quatro motores em quatro pontos de articulação: na cabeça, nas costas, nos joelhos e nos pés. Tem também um sensor que detecta quando a pessoa sai da cama e aquece o colchão por três horas a 44 graus centígrados. Para quê? Para secar o suor e matar os ácaros. Com esse recurso ainda é possível programar a cama para que ela fique quentinha antes de o feliz proprietário ir dormir. Ah, o colchão tem densidades diferentes para cabeça, quadril e pés. Isso tudo multiplicado por dois, para que marido e mulher não briguem na hora de fazer os ajustes. Cada um cuida do seu lado. De tão perfeito, o produto recebeu a chancela da família real holandesa e foi batizado de Royal. Por isso, conforme manda o cerimonial da coroa, o consul-geral da Holanda em São Paulo cortará a fita e fará o discurso de inauguração da loja paulistana, na quinta-feira 9. ?No ano que vem repetiremos a dose no Rio de Janeiro?, avisa Van der Voort.

Olhando isoladamente, a vinda a Auping com suas camas caras pode parecer uma perigosa extravagância. Mas não é. O mercado brasileiro de decoração mostra um vigor de primeiro mundo, embora, ao contrário do setor de moda, ainda não esteja acostumado com grifes internacionais. Contando apenas os projetos que passam pelos escritórios de decoradores e arquitetos, o setor movimenta R$ 20 bilhões por ano em produtos e serviços. ?Somente em São Paulo existem 25 mil domicílios com renda familiar acima de R$ 50 mil mensais. Esse público consome bem quando se trata de decoração e construção?, avalia Ricardo Botelho, consultor de marketing para o segmento de móveis.

? 130 milhões é o faturamento anual da companhia