22/05/2002 - 7:00
A Ferrari tem planos ambiciosos para o Brasil. Vai vender os seus produtos licenciados em grandes magazines e fabricar metade dos itens no País, numa estratégia que deve reduzir os preços em até 50%. A marca já assinou contrato com dois fornecedores nacionais, que, em 20 dias, começarão a produzir camisetas, bonés, adesivos e chaveiros com o famoso cavalinho preto estampado. Tudo será vendido em lojas de departamento e redes de artigos esportivos, cujos nomes ainda são mantidos em sigilo. O primeiro ponto-de-venda será inaugurado em junho. A Ferrari, que faturou 1 bilhão de euros em 2001, está eufórica. Acha que agora tem a chave para atrair os ferraristas do País, que andam fugindo dos produtos importados por causa do dólar. A empresa não divulga números. Diz que os royalties de merchandising representaram 10% do faturamento no Brasil no ano passado.
Só um detalhe: a Ferrari não poderia ter escolhido momento pior para dar essa arrancada. Ainda estão frescas na memória dos adoradores da marca (leia-se consumidores) as imagens da ?marmelada? promovida no GP da Áustria, no domingo 12. O mundo inteiro desaprovou a ordem dos diretores da escuderia para que Rubens Barrichello permitisse a vitória de Michael Schumacher. Na Itália, terra da Ferrari, a casa de apostas SNAI, a maior do país, decidiu pagar a quem havia depositado seu dinheiro na vitória do brasileiro. No Brasil, as reações foram igualmente ruins. Choveram e-mails de protesto na home page da Ferrari. E o grupo Fiat, dono de 90% da montadora sediada em Maranello, confirma o recebimento de mensagens de consumidores dizendo que, para se vingar, nunca mais vão comprar Palio, Uno Mille ou qualquer modelo. ?O brasileiro sabe a diferença entre uma atividade empresarial que gera empregos e uma atividade esportiva que suscita paixões?, minimizou o departamento de comunicação da Fiat.
Mas o que pode acontecer então às vendas dos chaveirinhos Ferrari por aqui? Oficialmente, Altair Pedra, gerente comercial da Ferrari Official Merchandise do Brasil, afirma que não muda nada. ?A raiva do consumidor vai durar só uma semana?, avalia o executivo. A marca tinha 12 lojas até quatro meses atrás. Fechou todas e agora se prepara para reaparecer nos grandes magazines. Na outra ponta do negócio, a venda dos carros, a Ferrari já viveu dias melhores. Em 2001, 26 máquinas foram comercializadas no País ? contra 40 do período anterior. Já os números do grupo mundial são bem diferentes. O faturamento cresceu 18% no último ano. Os lucros operacionais subiram 36% e chegaram a 62 milhões de euros. O cenário é tão bom que a Fiat planeja abrir o capital da Ferrari para reduzir a sua própria dívida líquida de 6,6 bilhões de euros. Espera levantar 780 milhões de euros este ano com a venda de ações.
A Ferrari tenta demonstrar que não está preocupada com a reação negativa gerada depois do GP da Áustria. ?Nossos negócios não correm perigo?, disse à DINHEIRO o porta-voz da empresa na Itália, Luca Colaianni. Pelo sim, pelo não, logo após a corrida o presidente da companhia, Luca de Montezemolo, disparou uma série de telefonemas a jornais italianos para se explicar. ?A empresa tem um ?esqueleto no armário? agora?, diz o consultor de marcas José Roberto Martins. ?E ele vai sair para assombrar os negócios sempre que a Ferrari cometer novos deslizes.?