Elas pesam algumas toneladas e andam a 8 quilômetros por hora. Não são nenhum primor de design nem ostentam aquele vermelho reluzente na pintura, que fez a história da lendária casa de Maranello. Ainda assim as máquinas chegam a custar até US$ 200 mil. Bem-vindo ao mundo dos supertratores e colheitadeiras, um mercado que, de julho até dezembro deste ano, irá movimentar mais de US$ 1 bilhão no Brasil. Não são simples máquinas agrícolas, mas sim uma tropa de elite que vai ajudar a colher as 60 milhões de toneladas da próxima safra de soja. O ritmo de vendas tem sido tão forte que acabou apressando a chegada de novos modelos. A mais recente novidade foi a CS660, maior colheitadeira da marca New Holland, que foi desenvolvida no Brasil e na Bélgica após gastos de US$ 41 milhões em pesquisa e 6 mil horas de testes nas fazendas. O preço não assusta os fazendeiros. ?Como a máquina colhe 216 toneladas por dia, há produtores que conseguem pagá-la em apenas uma safra?, diz Walter Pype, o engenheiro que desenvolveu a colheitadeira.

Só nos primeiros quatro meses de 2004, foram vendidas 15,3 mil máquinas no mercado interno, 7,7% a mais do que no mesmo período do ano passado. Se o ritmo de produção se mantiver, o Brasil deverá atingir uma marca histórica: 75 mil veículos agrícolas até o final de 2004. Mas ainda é pouco diante do potencial do mercado nacional. Hoje, a frota brasileira de tratores é de 480 mil veículos. Seriam necessárias outras 770 mil máquinas desse tipo para dar conta de toda a terra disponível. Com tantas perspectivas positivas, os fabricantes disputam a tapa a preferência do fazendeiro. E oferecem cada vez mais tecnologia. Há menos de uma década, por exemplo, uma colheitadeira com cabine era considerada artigo de luxo entre os fazendeiros brasileiros. ?Hoje, o agricultor sabe que o conforto do motorista se traduz em produtividade?, diz Eduardo Guimarães, engenheiro de vendas da Massey Ferguson, marca da Agco. A mesma lógica se aplica para acessórios como faróis noturnos para colheita, CD-players, ar-condicionado e painéis digitais. E feitas as contas, tudo isso vira mais lucro. ?Uma supermáquina substitui duas, o que representa uma economia em manutenção, mão-de-obra, combustível e tempo?, diz Guimarães. Boa parte dessa tecnologia vem sendo desenvolvida aqui mesmo no País. A Agco investiu US$ 60 milhões no Brasil na ampliação de duas fábricas e na criação de um centro de pesquisas. ?As máquinas produzidas aqui não devem em nada para as de nenhum lugar do mundo?, diz Guimarães.

É claro que toda essa abundância só existe porque o agronegócio deu certo. Nos últimos dez anos, a produtividade se multiplicou, tornando o campo um dos poucos setores que realmente dão lucro na economia nacional. Para se ter uma idéia, nos últimos 10 anos a produção de grãos saiu de 81 milhões de toneladas para 120 milhões. Enquanto isso a área cultivada passou de 38,5 milhões para 47 milhões de hectares. Tudo isso mudou o perfil do agricultor, tornando-o um empresário do campo. E, como em todo negócio profissionalizado, há muito planejamento envolvido. Há duas semanas, o produtor Otaviano Pivetta, de Lucas do Rio Verde, Mato Grosso, fechou contrato para a compra de 16 colheitadeiras da marca americana John Deere. As máquinas só chegam no fim do ano na região. As novas colheitadeiras vão ajudar numa verdadeira operação de guerra. Na região de Lucas do Rio Verde, chove muito nos meses de janeiro e fevereiro, quando é feita a colheita da soja. ?Precisamos de máquinas eficientes porque temos menos de quatro horas por dia de colheita?, conta Pivetta, que produz em uma área de 100 mil hectares. Por isso, ele leva a sério a frase ?tempo é dinheiro?. ?Ninguém mais trabalha no improviso nesse negócio?, conta Paulo Herrmann, diretor de marketing da John Deere do Brasil. Nem pode.

MARAVILHAS DO CAMPO


CS660 – New Holland
A máquina colhe 260 toneladas de grãos por
dia e tem desperdício de menos de 1%
US$ 200 mil


6360 – Massey ferguson
Com potência de 220 cavalos, o trator tem maior capacidade de arraste e economia de combustível
US$ 100 mil


9570 – John Deere
Maior colheitadeira do mundo. Pesa 13 toneladas e colhe um Maracanã a cada 5 minutos
US$ 200 mil