21/06/2022 - 8:35
Os trabalhadores ferroviários britânicos iniciaram nesta terça-feira (21) uma greve de três dias, anunciada como a mais longa em 30 anos, para defender empregos e salários diante da inflação fora de controle, mas seu impacto parecia ofuscado pela nova capacidade de muitos funcionários trabalharem de casa. Esta manhã, metade das linhas ferroviárias do país estava fechada e nas outras apenas um trem em cada cinco operava.
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Em vez da multidão habitual da hora do rush, apenas alguns passageiros perambulavam pela grande estação King’s Cross de Londres, procurando nos quadros de avisos os poucos trens disponíveis. A maioria disse que simpatizava com a greve dos ferroviários. “Tenho que viajar pelo país por conta do meu trabalho. Hoje tenho que ir a Leeds (norte). Não há tantos trens como de costume, mas vou conseguir chegar”, comentou à AFP Jim Stevens, fotógrafo comercial de 40 anos.
Surpreso com a tranquilidade da estação, considerou que as pessoas seguiram os conselhos da TfL, a operadora de transportes públicos de Londres, e ficaram em teletrabalho, “ou então saíram de bicicleta”, carro ou ônibus, embora estes últimos estivessem tão lotados que muitos não admitiam passageiros em algumas paradas.
Tamasine Hebaut, também de 40 anos e secretária de uma clínica médica, saiu de casa uma hora mais cedo do que o habitual. Chegou à estação de King’s Cross e de lá se perguntava como chegaria ao bairro londrino de Battersea, na margem sul do Tâmisa. “Talvez eu vá a pé. Tenho que ir trabalhar, porque trabalho na saúde”, explicou.
Após o fracasso das negociações de última hora, trabalhadores e empregadores permaneceram firmes em suas posições nesta terça-feira. O ministro dos Transportes, Grant Shapps, denunciou a greve como “desnecessária”. “Vamos ter que fazer com que essas reformas aconteçam”, disse ele.
O sindicato RMT alertou no início de junho que mais de 50.000 trabalhadores ferroviários entrariam em greve “na maior disputa setorial desde 1989”, época das grandes privatizações das ferrovias britânicas, exigindo aumentos salariais em linha com a inflação crescente.
– “Bagunça criada pelo governo” –
Além dos salários, RMT denuncia a deterioração das condições de trabalho e as “milhares de demissões” previstas pela miríade de empresas privadas que agora compõem o setor ferroviário britânico.
Shapps, que não participa oficialmente nas negociações porque o governo não administra as ferrovias, assegurou, no entanto, que há uma oferta salarial “na mesa” – insuficiente para RMT – e que “os cortes de empregos são em grande parte voluntários”.
O ministro afirmou ainda que no futuro vai estudar como “proteger” os usuários dos transportes públicos, impondo um “serviço mínimo” ou substituindo os grevistas por trabalhadores temporários.
O secretário-geral do RMT, Mike Lynch, respondeu que “essa bagunça foi criada por Grant Shapps e pela política do governo”.
Hoje será o maior dia de ação, já que os trabalhadores do metrô de Londres também entraram em greve.
A paralisação continuará na quinta-feira e no sábado, mas as interrupções serão sentidas todos os dias até domingo, alertou TfL.
Para os britânicos, isso aumentará o caos das últimas semanas nos aeroportos, marcado por longas filas e centenas de cancelamentos de voos, já que o setor aéreo não consegue contratar funcionários suficientes em meio à crescente demanda após o fim das restrições sanitárias.
A greve também ameaça atrapalhar grandes eventos esportivos e culturais, incluindo o festival de música de Glastonbury no sudoeste da Inglaterra, um show dos Rolling Stones em Londres no sábado e os exames finais de alguns alunos do Ensino Médio.
O governo diz que os sindicatos estão dando um tiro no próprio pé no momento em que o setor ferroviário, que recebeu 16 bilhões de libras (quase US$ 20 bilhões) em ajuda durante a pandemia, pode sofrer um declínio de longo prazo no número de passageiros enquanto aumenta o teletrabalho.
Mas em um contexto de inflação histórica, de 11% prevista para outubro, a greve ameaça se espalhar para outros setores, como educação, saúde e correios. Os advogados criminais já votaram a favor de uma greve a partir da próxima semana.