18/03/2014 - 17:14
Ainda repleta de sinais de alegria após a votação que decidiu pela anexação da península à Rússia, a capital da Crimeia, Simferopol, viveu um dia de tristeza nesta terça-feira, após um tiroteio que matou um militar ucraniano e um miliciano pró-russo. Os autores do ataque, que também deixou duas pessoas feridas, ainda não foram identificados. “Os tiros vinham de um mesmo local, na direção das milícias de autodefesa e dos militares ucranianos”, disse Olga Kondrachova, porta-voz da polícia da Crimeia, citada pela agência de notícias russa Interfax. “Pessoas armadas entraram no território há algumas horas. Não sabemos se são provocadores ou representantes de estruturas governamentais” ucranianas, explicou à AFP Anatoli Tikhonov, representante da milícia de auto-defesa russa. Segundo o Ministério ucraniano da Defesa, o militar que garantia a guarda do Departamento de Fotografia do Centro Militar de Topografia e Navegação não resistiu aos ferimentos que sofreu no pescoço. Todos os militares que estavam no local tiveram seus documentos confiscados. O acesso a essa base, um grande prédio branco situado a alguns minutos do centro da cidade, foi bloqueado na noite desta terça pela Polícia da Crimeia e pela milícia pró-Rússia. Alguns minutos após o anúncio da primeira vítima fatal de origem ucraniana na Crimeia, o Ministério da Defesa ucraniano autorizou os militares a usarem suas armas. Outro triste momento em Simferopol nesta terça-feira foi o enterro de um tártaro encontrado morto em uma floresta no último sábado, alguns dias após seu desaparecimento. Segundo os representantes da minoria muçulmana – que boicotou o referendo de domingo sobre a anexação à Rússia – ele foi encontrado morto após ter protestado contra a consulta. Cerca de 300 pessoas acompanharam o funeral do homem, no cemitério muçulmano de Simferopol. “Crimeia e Rússia para sempre” Os momentos fúnebres desta terça-feira vão de encontro às celebrações que ainda tomam conta da cidade, onde carros pintados com as cores da Rússia desfilam com o barulho estridente de suas buzinas pelo centro e o hino russo pode ser ouvido aos quatro cantos. Os prédios públicos começam, aos poucos, a perder as insígnias oficiais da Ucrânia – num ato de profundo simbolismo. No Parlamento da Crimeia, as palavras antes escritas em russo, ucraniano e tártaro foram substituídas pelo novo nome da instituição: “Conselho de Estado da República da Crimeia”. “Nós esperávamos por este momento desde que a Crimeia foi dada em 1954” à Ucrânia pelo líder soviético Nikita Khrushchev, explicou Anatoli Volkovoii, morador de Simferopol. No mercado de frutas e legumes da capital, os moradores se apertavam em torno de televisores e rádios para ouvir o discurso do presidente russo, Vladimir Putin, que assinou nesta terça-feira um tratado histórico que converte imediatamente a Crimeia em parte integrante da Rússia. Durante a noite, centenas de pessoas, algumas enroladas na bandeira russa, se reuniram na praça Lênin – epicentro das comemorações em Simferopol – para assistir um show transmitido ao vivo de Moscou. Dois telões exibiam o show do grupo de rock Liubé, cujo cantor é um conhecido partidário de Putin. Para a ocasião, o cantor modificou a letra de uma música e inseriu o novo território. “Rússia, minha Rússia, da Crimeia ao Ienissei (rio da Sibéria)”, entoou, levando a plateia à loucura. Nos cartazes no meio da multidão, o sentimento é o mesmo: “A Crimeia com a Rússia, juntas para sempre” ou “Se o Ocidente aceita o Maidan (ndlr: movimento pró-europeu em Kiev), deve aceitar o referendo”. bur-zap/via/bds/mm/dm