08/06/2017 - 23:41
Recife inaugurou, hoje (8) à noite, os festejos juninos oficiais tendo os reis do forró como abre-alas. Sanfoneiros, zabumbeiros e tocadores de triângulo saíram pelas ruas do Recife Antigo, bairro histórico da cidade, na tradicional Caminhada do Forró, que ocorre há 13 anos. Os músicos lideraram a multidão durante o percurso que começou na Rua da Moeda e acabou na Praça do Arsenal, onde artistas pernambucanos se apresentaram em um palco.
De acordo com a diretora de eventos Natália Reis, que organiza a caminhada, a ideia sempre foi buscar a valorização da cultura junina tradicional, que tem no trio de forrozeiros a principal expressão musical do período junino – e, também, do resto do ano, no Nordeste rural. Nesta edição, eles procuraram destacar essa vertente. “A gente está reforçando mais, falando mais sobre isso, por causa da descaracterização do forró e do São João”, explicou.
O forró não é só fonte de tradição popular, mas também de renda de muitos dos que caminharam hoje na capital pernambucana. Como Cocó dos Oito Baixos, cujo nome de registro é Eronildo Teodoro, do município de Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife. O sanfoneiro de 64 anos começou a tocar com 13. “Eu dava de comer aos meus filhos tocando isso aqui”, disse, enquanto mostrava alguns acordes improvisados.
No São João, Cocó dos Oito Baixos e outros artistas do gênero aproveitam para fazer uma renda maior, porque no resto do ano os convites para tocar diminuem. Para ele, é preciso que seja diminuída a diferença de cachês entre artistas famosos nacionalmente e os locais. “Ao invés de pagar R$ 10 mil a ele [artista famoso nacionalmente], paga R$ 5 mil e o resto dividia para pagar a gente”, defendeu. O músico acrescenta que quando o contrato é com o Poder Público, é comum aguardar meses até receber o dinheiro.
Público
O público que acompanhou a caminhada é atraído pela cultura tradicional do São João. A socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Rejane Luiza Santana, de 41 anos, trocou o dia do plantão para aproveitar com as amigas. “Tá no sangue. O pessoal costuma dizer na minha família que as crianças já nascem dançando forró”, brincou. Quem deu o exemplo, na prática, foi Davi Henrique, de 7 anos, filho dela. Não só bailou como se vestiu de cangaceiro. Em casa, ele perpetua os costumes herdados dos pais. “Eu faço fogueira, enfeito a casa”.
Os adultos também capricham e vão a caráter, como Eliú Crespo, 71 anos, que desde a juventude se fantasia para os eventos juninos. Há três anos ele usa um traje de padre, todo em cetim. “Venho casar o povo aqui”, brincou.
Até figuras conhecidas do carnaval do Recife comparecem para continuar brincando, como o auxiliar de serviços gerais José Flaviano Fonseca, de 52 anos. Ele é o Tampa do Carnaval, uma fantasia confeccionada por ele com tampinhas de todos os tamanhos e cores. Em junho, vira o Tampa do São João. “Eu gosto dos dois, mas o São João é mais paz, mas é metade um e metade outro”.
Programação oficial
A prefeitura do Recife anunciou, hoje, a programação completa do São João deste ano. Serão 35 polos festivos na cidade. O principal deles, o Sítio Trindade, em Casa Amarela, começa a funcionar no domingo (11), com o Pavilhão das Quadrilhas, a Sala de Reboco e o Palco Principal.
Todos os artistas contratados são pernambucanos ou tem título de cidadão de Pernambuco, de acordo com o presidente da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, Diego Rocha. Os últimos dias do festejo são 30 de junho, quando ocorre a Festa do Fogo, no Pátio de São Pedro, em homenagem a Xangô; e 1º de julho com três arraiais do concurso Eu Amo Minha Rua, organizado pelo poder municipal.