Faça o que eu falo, mas não o que eu faço.? Durante quase meio século, a máxima se encaixava perfeitamente na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Celeiro de ministros ? foram onze entre 1954 e 1990 ? e de empresários influentes, a FGV viveu até o início da década passada às custas de subsídios. Porém, uma disputa sobre índices de inflação que Brasília queria mascarar, na década de 80, decretou o fim do namoro. Enfim, chegava a hora de aplicar em casa a ortodoxia liberal tão defendida pelos professores e economistas formados na escola, criada em 1944 para suprir a carência de profissionais qualificados na administração federal. ?A solução não é cortar despesas, mas buscar novas receitas. Temos as melhores cabeças. Não há razão para não sermos eficientes?, diz o presidente FGV, Carlos Ivan Simonsen Leal.

Algumas gordurinhas foram eliminadas. Foi-se a era do cafezinho de graça e de telefones que permitiam fazer ligações internacionais à vontade. Leal orgulha-se de ter fechado no azul o orçamento de R$ 170 milhões do ano passado, com 94% da receita originária de recursos próprios. Realidade completamente diferente de dez anos atrás, quando o Tesouro arcava com 80% das despesas. ?Recebemos só R$ 1,5 milhão em subsídios do governo federal?, gaba-se Leal. Para este ano, a receita deverá crescer 30%, alcançando a marca recorde de R$ 220 milhões.

A fonte de tantos recursos está em duas iniciativas: cursos de extensão, na verdade pós-graduações lato sensu vendidas como MBAs, e serviços de consultoria. Ministrados em quarenta cidades do País e com a adesão de 31 mil alunos, os ?MBAs? são uma mina de ouro e representam 60% das receitas totais da FGV. A consultoria responde por outros 20%. Esta é praticada tanto no Rio quanto em São Paulo. Só que a FGV Consulting, do Rio, presta consultoria apenas a organizações de cunho educacional ou social, enquanto a GV Consult, de São Paulo, compete de igual para igual com os grandes escritórios de consultoria.

Se Rio concentra-se na formação de políticas públicas e sociais, a escola paulista sempre esteve mais voltada para o setor privado. Apesar de ser apenas um dos cinco departamentos abrigados pela FGV, a Escola de Administração de Empresas de São Paulo tem total autonomia acadêmica e de gestão. Sob a direção do professor Francisco Mazzucca, faturou R$ 70 milhões no ano passado, quase 40% do orçamento total da FGV. Para 2001, a receita deve fechar em R$ 90 milhões. ?Há dez anos que nosso faturamento cobre as despesas operacionais?, diz Mazzucca. Para suprir a necessidade de investimentos, a Eaesp possui desde 1991 um programa de parcerias com a iniciativa privada que conta com a adesão de mais de 200 empresas. Isso tem permitido reformar salas de aula, manter computadores atualizados e financiar bolsas de estudo. Passear pela escola é como andar por um centro comercial. Cada sala é decorada com cartazes e fotos de um patrocinador. ?Não temos dinheiro nem fins lucrativos, mas temos obrigação de formar líderes do futuro?, diz o professor Mazzucca, que trocou a sala de aula por almoços e jantares com empresários à cata de patrocínios. ?Não tenho vergonha de pedir?, diz ele. A causa é nobre: a pós-graduação da Eaesp acaba de ser reconhecida como uma das melhores do mundo pela AACSB, uma rigorosa associação de escolas de administração e negócios dos Estados Unidos e Canadá.