01/06/2017 - 8:50
O comitê de investimento do FI-FGTS (fundo que usa parte do FGTS para aplicar em projetos de infraestrutura) elegeu nesta quarta-feira, 31, para presidente o jornalista Luiz Fernando Emediato, ligado à Força Sindical. Ele chega ao cargo, porém, com uma polêmica no currículo: foi citado em delações da Odebrecht e da JBS, acusado de receber propina para liberar recursos do FI-FGTS para o braço de transportes do grupo Odebrecht e para beneficiar o grupo J&F no período em que trabalhou no Ministério do Trabalho.
O comitê de investimento tem representantes do governo, dos trabalhadores e dos empregadores. A bancada governista tentou dissuadir Emediato de assumir por um ano a presidência do órgão responsável por decidir sobre os aportes do fundo. O Estado apurou que dois representantes de cinco que estavam na reunião chegaram a se abster da votação. Por rodízio, a presidência dessa vez teria de ficar com um representante dos trabalhadores.
Depois de registrar prejuízo histórico em 2015, o FI-FGTS está passando por uma reformulação para melhorar os processos de escolha dos projetos que recebem dinheiro do fundo, formado com recursos dos trabalhadores. O balanço de 2016 ainda não foi publicado. No ano anterior, o fundo fechou com a menor rentabilidade da história, negativa de 3%, com perda de R$ 900 milhões no patrimônio.
O ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Junior, conhecido como BJ, e o ex-presidente da Odebrecht Transport Paulo Cesena disseram, em delações premiadas no âmbito da Operação Lava Jato, que houve pagamento de propina para que o braço de transportes do grupo baiano fosse capitalizado pelo fundo.
O intermediário para a liberação dos recursos do FI-FGTS foi o ex-deputado federal Eduardo Cunha, que teria cobrado propina de 1% do valor da operação, segundo os delatores. O ex-deputado justificou o valor do suborno de R$ 4 milhões dizendo que teria de repassar dinheiro a Fábio Cleto, na ocasião vice-presidente de Loterias da Caixa, e para três conselheiros do FI-FGTS, entre eles o jornalista Emediato. Após o pagamento do suborno, o aporte de R$ 429 milhões foi liberado.
Procurado, Emediato disse que nunca votou a favor ou contra nenhum projeto da Odebrecht no fundo de investimento. “Logo, não tenho nada a ver com isso”, afirmou.
Esquema
Ligado ao ex-presidente da Câmara, Cleto apontou, na delação premiada, um esquema de corrupção para que as empresas conseguissem recursos do FI-FGTS. Com o depoimento dele, o fundo, criado no governo Lula, entrou de vez na mira da Lava Jato. O banco estatal, responsável pela gestão do fundo, abriu uma sindicância para apurar aportes de R$ 4,2 bilhões às empresas citadas na delação premiada de Cleto. Por meio do FI-FGTS, foram desembolsados R$ 3,2 bilhões em sete operações de financiamento ou participação societária.
Além da Odebrecht, o FI-FGTS também foi alvo de denúncias do empresário Joesley Batista, dono da JBS. Em sua delação, ele disse que pagou R$ 90 milhões a Cunha para liberar recursos do fundo. O ex-diretor de Relações Institucionais do grupo J&F Ricardo Saud disse, na sua delação premiada, que Emediato recebeu R$ 2,8 milhões para influenciar favoravelmente a empresa enquanto membro do conselho deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Emediato disse que Saud o procurou enquanto ele trabalhava no Ministério do Trabalho. “Incomodado com a fiscalização dos frigoríficos da JBS, ele realmente pediu ao MTE uma fiscalização ‘rigorosa’ dos demais frigoríficos e em seus delírios propôs ‘pagar’ aos fiscais por isso. Ninguém o levou a sério”, afirmou, completando que não era prioridade, naquele momento, fiscalizar o setor. “Nós mudamos a gestão do fundo e considero que, a partir de agora, será difícil políticos usarem nossos nomes para assustar empresários. Assim espero”, completou.
Procurada, a Caixa esclareceu que não participa do processo de escolha do presidente, que compete aos membros do comitê. Eles, por sua vez, são designados pelo conselho curador do FGTS. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.