Da prisão de altos dirigentes da Fifa, no dia 27 de maio em Zurique, à renúncia de Joseph Blatter, nesta terça-feira, foi preciso menos de uma semana para derrubar do palanque o todo-poderoso dirigente da entidade que rege o futebol mundial.

Quarta-feira, 27 de maio:

O mundo do futebol chega a Zurique para o congresso da Fifa. A reeleição de Sepp Blatter para um quinto mandato na presidência da entidade está no programa, mas a polícia suíça veio perturbar esse cenário ideal.

A pedido da justiça americana, sete representantes da Fifa são presos às 06h00 no hotel cinco estrelas Baur au Lac, entre eles o ex-presidente da CBF, José Maria Marin, suspeitos de ter recebido de maneira ilícita 150 milhões de dólares desde os anos 1990 graças aos cargos no futebol.

“É um dia triste para o futebol” afirma o príncipe Ali, único adversário de Blatter nas urnas.

A polícia suíça apreende na sede da Fifa documentos sobre a atribuição das Copas do Mundo de futebol de 2018 e 2022 à Rússia e ao Catar, respectivamente.

Às 11h00, a Fifa organiza uma coletiva de imprensa às pressas para tentar apagar o incêndio. Walter De Gregorio, diretor de comunicação da Fifa, garante que a eleição do novo presidente acontecerá daqui a dois dias e que Blatter e seu braço direito, Jerome Valcke, não estão envolvidos nos casos de corrupção.

“Vocês não vão acreditar em mim, mas é um bom dia para a Fifa”, garante.

Mas o tsunami já atingiu a costa dos Estados Unidos, onde o Departamento de Justiça acusa nove altos dirigentes da Fifa e cinco executivos de marketing de corrupção.

Na Europa, Michel Platini, presidente da Uefa, anuncia uma reunião extraordinária dos membros da entidade.

Longe de lá, as investigações continuam em Miami, na sede da Concacaf, onde agentes da polícia federal americana apreendem diversas caixas com documentos.

Essas primeiras acusações “são apenas o início”, garante o procurador federal do Brooklyn, Kelly Currie, enquanto um investigador da Receita Federal americana chama a escândalo da Fifa de “Copa do Mundo do fraude”.

No fim de tarde, em Varsóvia, a Uefa pede o adiamento do Congresso da Fifa e das eleições presidenciais, citando “a corrupção profundamente enraizada na cultura da Fifa”.

Às 20h00, Blatter se pronuncia pela primeira vez, falando “num momento difícil para o futebol, os torcedores e a Fifa”.

Quinta-feira, 28 de maio:

A pressão é enorme em Blatter. “Vaza”, escreve o jornal alemão Bild, “Fifa Nostra”, intitula o francês Libération, comparando a entidade à máfia italiana.

Em Moscou, Vladimir Putin acusa os Estados Unidos de usar a justiça para “impedir a reeleição” de Joseph Blatter. “Trata-se de uma violação muito grosseira das regras de funcionamento das organizações internacionais”, reclama o presidente russo.

François Hollande, na França, David Cameron, em Londres: outros chefes de Estado fazem coro para pedir o adiamento das eleições presidenciais na Fifa.

No campo esportivo, Platini revela ter pedido a Blatter que renuncie. Nada feito, a eleição é mantida.

Sexta-feira, 29 de maio:

Às 09h30, num ambiente tenso, o Congresso da Fifa é aberto. Blatter pede “espírito de equipe” e nem um alerta de bomba no início da tarde perturba o andamento do processo eleitoral. Antes de eleger o presidente, a Fifa anuncia que lucrou 338 milhões de dólares entre 2011-2014, aumentando as reservas financeiras da entidade para 1,5 bilhão de dólares.

Às 17h00, a votação começa. Para surpresa geral, Joseph Blatter, que briga por um quinto mandato, só recebe 133 votos, contra 73 do príncipe Ali, que consegue levar a eleição ao segundo turno.

Sem chances de ser eleito, Ali desiste e dá a vitória a Blatter, que, aos 79 anos, promete “entregar ao sucessor uma Fifa mais forte”.

“O futebol perdeu”, lamenta o português Luis Figo, ex-candidato à presidência.

Para a Fifa, porém, tudo ocorre como planejado: “as Copas do Mundo de 2018 e 2022 serão realizadas na Rússia e no Catar”, garante Jerome Valcke.

Sábado, 30 de maio:

À emissora suíça RTS, Blatter solta o verbo, denunciando a campanha “de ódio” contra ele e criticando a Uefa, Platini e os Estados Unidos. “Perdoou a todos, mas não esqueço”, afirma.

Em Moscou, o presidente russo Vladimir Putin saúda o “profissionalismo” do dirigente.

Domingo, 31 de maio:

A África do Sul reconhece ter feito um pagamento de 10 milhões de dólares antes da Copa do Mundo-2010, mas nega que o dinheiro serviu para pagar propina, como denuncia a justiça americana.

Na Suíça, a justiça continua os interrogatórios e admite chamar Blatter para depor “caso necessário”.

Segunda-feira, 1 de junho:

A Fifa tenta retomar o controle da situação, anunciando a suspensão provisória de Enrique Sanz, secretário-geral da Concacaf.

Em Londres, o ministro dos Esportes ameaça organizar “uma Copa alternativa” em caso de “acordo entre países aliados na Europa”.

A Fifa, porém, volta a tremer com as acusações do prestigioso jornal americano The New York Times, que garante que Jerome Valcke foi o responsável pela transferência de 10 milhões de dólares a contas do ex-presidente da Concacaf, o trinitino Jack Warner.

Terça-feira, 2 de junho:

A Fifa reconhece o pagamento em três parcelas, mas exonera o secretário-geral de toda responsabilidade no caso.

Esta soma foi transferida “para desenvolver o futebol no Caribe”, garante a Fifa, que espera ter apagado mais um incêndio.

Às 16h30, a Fifa anuncia que uma coletiva de imprensa extraordinária será realizada. Às 19h00, Blatter aparece frente às câmeras e diz: “A Fifa precisa de uma profunda reestruturação. Embora os membros da Fifa tenham me dado mais um mandato, este mandato não conta com o apoio de todo o mundo do futebol, os torcedores, jogadores, clubes e todos que vivem, respiram e amam o futebol, como todos nós, na Fifa”.

“É por isso que decidi entregar meu mandato num Congresso eletivo extraordinário”, que será realizado entre dezembro de 2015 e março de 2016.

É assim que o suíço, na Fifa desde 1975, põe um fim a 40 anos de voz ativa no futebol mundial, 17 deles como presidente da entidade.