O diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, 38 anos, tem uma vida paralela movimentada. Dentro da piscina. Quase todas as manhãs, antes de enfrentar as ondas de flutuação do dólar, ele arquiva o economês e veste sunga e gorro em lugar de terno e gravata para praticar um esporte no qual é um dos melhores atletas do País. Jogador de pólo aquático, Figueiredo viaja nesta sexta-feira 29 para a Nova Zelândia, onde vai integrar a seleção brasileira que disputará o campeonato mundial, da Federação Internacional de Natação (Fina). Ele aprecia todas as comparações sobre sua atividade profissional com a de esportista. ?No pólo aquático, tanto quanto lá no Banco Central, temos de atuar em equipe. Se um erra, todos se saem mal, mas o gol vale para o time?, diz ele dentro da piscina de uma escola de natação na Asa Norte, em Brasília, onde treina em separado dos alunos regulares. No papel de xerife do mercado de câmbio, Figueiredo gostaria de ter poderes iguais aos de um dos dois juízes dos jogos na piscina. ?Se um jogador olha feio para o árbitro, pode ser expulso imediatamente, não precisa nem abrir a boca. Quem me dera ter esse poder sobre os especuladores?, brinca.

Dois anos atrás, às vésperas do campeonato mundial de Munique, na Alemanha, a especulação cambial foi mais forte que a vontade do atacante de integrar a seleção brasileira, pela qual já havia disputado, em 1998, o mundial de Casablanca, no Marrocos. ?Durante a crise da Rússia não deu nem para pensar em pólo aquático, fiquei fora de forma e não pude viajar com o time?, lembra. Agora, porém, o cenário é outro. ?O mercado está supercomportado, bem equilibrado.? Nem a disparada do dólar na Argentina o preocupa. ?A Argentina não dá preocupação, dá pena?, afirma. Com a moeda americana na faixa de R$ 2,35, como na semana passada, Figueiredo tem conseguido treinar durante a semana, sozinho, entre 7 e 8 horas da manhã, em Brasília, e em clubes paulistas como o Harmonia, o Paulistano e o Pinheiros, com sua equipe, nos finais de semana. Nestas horas, ele se junta a seus treze companheiros de esporte, que se tratam por apelidos como Javali, Sapo e Banha para ser o Horse, um velocista destro, com faro de gol. A história do apelido nada tem a ver com seu tipo físico, de 1,76m de altura, 88 quilos e grande massa muscular, forjado também em vários anos de prática de capoeira. É mais prosaica. O ex-presidente João Figueiredo, que gostava de cavalos, foi primo-avô do atual diretor do BC. Quando o parantesco foi descoberto no clube, no período em que Figueiredo era presidente, o técnico Alexandre Mayer Plufg ligou as pontas e batizou o jogador. O irmão de Figueiredo, o jogador Guilherme, recebeu o carimbo de Potro.

Se a medida da forma física de Figueiredo tem a ver com a calmaria no câmbio, estamos todos bem. Mesmo com 38 anos, ele foi chamado para disputar o mundial da Nova Zelândia na categoria 30 +, para atletas que têm entre 30 a 34 anos. A convocação não é tradicional, nem a seleção é oficial. Mas para estar numa das equipes brasileiras, incluindo dois outros times com jogadores de até 45 anos, é preciso ter currículo. E história na piscina não falta a ele. Figueiredo aprendeu a jogar aos 12 anos e foi campeão paulista e brasileiro. Como técnico da seleção paulista, levantou o bicampeonato brasileiro nos anos 80. No auge desta trajetória, ele nem pensava em se aventurar pelo mercado financeiro. Queria apenas ser atleta e professor. ?Quase abri uma escola de natação?, lembra. Na hora da decisão, porém, pesou contra a histórica falta de apoio oficial ao esporte. Entrou, então, para o JP Morgan e, mais tarde, seguiu no BBA até tornar-se tesoureiro. Nesta fase, em 1999, Armínio Fraga o convidou para vigiar o dólar dentro do BC. ?No fim, deu para fazer carreira no trabalho e não largar essa paixão?, diz, dentro d?água, olhos fixos na bola amarela, marca registrada do pólo aquático. ?Sempre quis ajudar no desenvolvimento do esporte, mas para isso tem de ser dirigente e, aí, não dá tempo mesmo?, divertia-se na quarta-feira, com o tempo espremido para entrar às 9 horas no BC e só sair às 9 da noite.