19/02/2003 - 7:00
A vovó Stella Barros, responsável pelo embarque de várias gerações à Disneylândia, saiu de cena. Na quarta-feira 12, a controladora da Stella Barros, nos Estados Unidos, a Travel YA, ligada ao Citibank, pediu auto-falência, em mais um episódio do ocaso da internet. A Travel YA tinha planos de ser o maior portal de viagens da América Latina. Para isso, adquiriu grandes agências de turismo da região. Entre elas a Stella Barros, um negócio avaliado em US$ 20 milhões. Mas as estimativas de vendas pela rede não se confirmaram, principalmente depois dos atentados terroristas de 11 de setembro. Para compensar a redução dos clientes, o fundo americano Citicorp Venture Capital, principal acionista da holding, ainda fez um novo aporte de US$ 2 milhões na empresa brasileira em 2001. O movimento final da Travel YA forçou a Stella Barros e seguir o mesmo caminho da matriz. Na quinta-feira 13, a operadora encaminhou pedido de falência à Justiça paulista. A situação por aqui era ainda pior, por conta das oscilações cambiais. As dívidas de R$ 15 milhões com bancos, companhias aéreas e hotéis levaram a Stella Barros a fechar as portas depois de quase 40 anos de atuação no mercado.
A agência foi fundada em 1965. Na época, a própria vovó Stella, que hoje tem 94 anos, organizava as viagens e guiava os turistas. Um de seus roteiros preferidos era Foz do Iguaçu. Depois vieram as cataratas do Niagara e os roteiros pelos parques temáticos da Disneylândia, que tornou-se o passeio símbolo da empresa. A vovó e sua substituta, a tia Augusta, eram tão populares quanto o próprio Mickey Mouse para qualquer família brasileira de classe média. Em épocas áureas, a agência chegou a transportar 25 mil passageiros por ano. Os problemas começaram em 1998, ano da Copa do Mundo. Na ocasião, a Stella Barros fazia parte de um pool de operadoras que vendeu pacotes para a competição, na França, por intermédio da SBTR, credenciada pela Confederação Brasileira de Futebol. As empresas acusaram a SBTR de agir de má-fé, por fornecer apenas 2.750 ingressos, dos 3.600 que já haviam sido pagos. O episódio arranhou a imagem de todos os envolvidos.
Com a imagem em baixa, o jeito foi vender a empresa ao Citicorp. Teria sido uma boa solução não fosse o atentado ao World Trade Center derrubar a indústria do turismo no mundo todo. O efeito imediato foi a alta do dólar e a crise ficou cada vez mais evidente. Ao final de 2002, o faturamento da Stella Barros, que chegava a US$ 40 milhões, estava reduzido a menos da metade. Depois de mais de 30 anos focando suas atividades em viagens internacionais, a empresa esqueceu-se de olhar para o mercado interno. Quando tentou voltar, descobriu que não tinha o mesmo prestígio que os concorrentes junto aos fornecedores do setor. O jeito foi diminuir o número de pacotes. ?Tentamos embarcar todos os clientes, mas não foi possível?, lamentou Luís Barros, filho de Stella e atual administrador da empresa. Agora, eles negociam com outras operadoras o embarque desses passageiros. Pelo menos não foi um fim tão traumático quanto o da também tradicional Soletur. Esta ainda vendia pacotes às vésperas de pedir falência, em outubro de 2001. Quase 10 mil pessoas não puderam viajar. Os 250 credores amargaram prejuízos de R$ 30 milhões e 450 funcionários perderam seus empregos de uma hora para outra. Ao chegar para trabalhar no dia 25 de outubro de 2001, eles simplesmente encontraram todas as filiais da Soletur com as portas lacradas.
Na sexta-feira, 14, os franqueados da Stella Barros prometiam cumprir todos os compromissos com os consumidores. Ao mesmo tempo, já providenciavam a retirada da logomarca Stella Barros de suas fachadas. Devem substituí-la em breve pela X-Virtual, empresa que divulga seus pacotes turísticos em um canal de TV por assinatura. De acordo com Francisco Fanizze Neto, presidente da Associação de empresas franqueadas Stella Barros, os últimos detalhes do contrato para ter a nova bandeira estão sendo fechados.