02/10/2002 - 7:00
A Comissão de Valores Mobiliários quer cortar o mau antes que ele se torne um problema no diminuto mercado brasileiro de negociação de ações pela internet. De olho em espertalhões interessados em inflar ações de empresas, a instituição baixou um pacote de regras que, entre outras, obriga as corretoras a identificar os participantes dos chats na internet toda vez que houver suspeita de que algum deles tentou usar o site para manipular o preço de ações. O primeiro inquérito de manipulação virtual, investigado pela CVM, aconteceu em março e deverá ir a julgamento nos próximos dias.
A glória duvidosa de ser o primeiro a tentar manipular ações pela rede pertence a Ciro Orenstein Ribeiro Tourinho, de 24 anos. Sentado no escritório, da Nestlé, em São Paulo, o rapaz usou o computador para divulgar informações sobre uma oferta de recompra de ações da Cosipa. As informações, passadas a outros investidores na sala de bate-papo do site InvestShop, estavam erradas. Em sua defesa, Tourinho argumentou que apenas comentou no chat uma informação que havia lido em jornais e o valor das ações não subiu.
Lupa. Mas precedentes no mercado externo obrigaram a CVM a olhar o caso com lupa. Ficou célebre nos Estados Unidos um
jovem de 23 anos chamado Mark Jacob, que trabalhava em uma empresa de distribuição de informações para a imprensa, a Internet Wire, e tirou proveito de sua posição. Jacob divulgou informações falsas sobre uma companhia de fibra óptica, a Emulex, e operou com as ações dela. A notícia falsa foi para as telas das duas agências mais lidas pelos investidores americanos, a Bloomberg e a Dow Jones, e o rapaz faturou uma quantia calculada em perto de US$ 1 milhão. Suas pegadas, porém, foram descobertas pela SEC, a equivalente americana da CVM, e o caso foi parar na Justiça. Parte do dinheiro foi devolvido.
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Nos EUA uma fraude rendeu US$ 1 milhão a um jovem |
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Nos dois casos, aqui e lá fora, o rastreamento dos suspeitos só foi possível porque os
sites guardavam três informações relevantes: a identificação do computador, os apelidos que escondiam seus nomes reais e uma cópia de cada mensagem. Guardar essas informações por cinco anos passou a ser obrigatório para as corretoras, após a última instrução da CVM. ?Queremos usar essa informação disponível para deter golpes?, explica Wladimir Castelo Branco, superintendente da CVM. ?Há chats como o da Projeção
que chegam a ser muito suspeitos?, diz. A Projeção não é uma corretora, e sim uma consultoria financeira. Portanto, não está sujeita à mão pesada da CVM. ?A CVM deveria ensinar as pessoas
a diferenciar a boa informação da ruim?, diz Ricardo Borges, da Projeção. A partir da nova instrução, o responsável por qualquer informação prejudicial é o dono do site. Agora, o interesse de peneirar melhor os freqüentadores do serviço de bate-papo passa
a ser da própria corretora.