18/10/2006 - 7:00
O consultor Gustavo Cerbasi, especialista em educação financeira, tinha dois bons motivos para publicar seu mais recente livro, ?Filhos Inteligentes Enriquecem Sozinhos? (Ed. Gente, R$ 30, 176 páginas). O primeiro deles foi o grande volume de pedidos de leitores de seus dois livros anteriores. O segundo é o nascimento de seu primogênito, previsto para março de 2007. Orientar crianças para lidar com dinheiro é um assunto que começa a ganhar importância na agenda dos pais aprendem a pedir para comprar cada vez mais cedo. Os pais, por sua vez, dedicados às suas carreiras profissionais, tendem a querer suprir a ausência do lar com presentes. Pronto: está formada a base para o desequilíbrio financeiro. Daí a importância de preparar os pequenos para aprender a organizar as próprias finanças como forma de torná-los, no futuro, consumidores conscientes. No livro, Cerbasi oferece aos pais dicas de como se sair bem nessa difícil tarefa. Não se trata de transformar as crianças em investidores precoces ou especialistas em economia. Longe disso, a idéia é que elas construam uma relação saudável com o vil metal. Isso significa saber poupar, gastar e até doar.
?Educar financeiramente os filhos não pode nem deve ser chato?, avisa logo Cerbasi. A sutileza deve dar o tom das conversas. O ideal, aliás, é que os ensinamentos surjam de maneira natural. Por volta dos cinco anos a criança está preparada para receber as primeiras lições. Nessa idade, ela já percebe que é possível interagir com estranhos sem a presença de adultos. Cultive essa independência deixando que os filhos entreguem o dinheiro ao vendedor no momento da compra, por exemplo. São em situações triviais como essa que os pais poderão transmitir as principais noções sobre finanças. ?Deixe escapar um ?como está cara essa camisa? para que a criança comece a perceber que existem diferenças de valores?, diz Cerbasi. Aproveite também essas circunstâncias para ensiná-la a distinguir entre ?querer? um determinado produto e ?precisar?. Impor limites é um passo importante nesse aprendizado.
À medida que as crianças vão crescendo, as lições vão se aprimorando. Um instrumento interessante, nesse sentido, é a mesada. Administrar o próprio dinheiro é uma oportunidade e tanto para pôr em prática os ensinamentos. É claro que uma criança que nunca recebeu mesada não se tornará, necessariamente, um adulto descontrolado. Mas é verdade também que a prática leva à perfeição. Não existe uma idade adequada para começar a dar mesada aos filhos. Sabe-se que a iniciativa deve partir deles. Até os 11 anos de idade, porém, é recomendável optar pela semanada. Como possuem uma rotina mais simples, a percepção de passagem de tempo é bem mais lenta para as crianças do que para os adultos. Controlar o dinheiro num intervalo de sete dias, portanto, ficará mais fácil do que num espaço de 30. Mas para que a ferramenta da mesada funcione de verdade, é preponderante que os pais façam a parte deles. ?A mesada é como um antibiótico. Precisa ser dada na hora e em doses certas para surtir o efeito desejado?, ressalva Cássia D?Aquino, psiquiatra, consultora de educação financeira do Banco Central e autora do livro ?20 dicas para ajudar você a educar o seu filho?. A mesada não deve ser interpretada, por exemplo, como um prêmio por seu filho ter tirado uma nota boa na escola ou por ter ajudado os pais numa tarefa doméstica. Isso faz parte de suas obrigações. Da mesma forma, os pais não devem ficar fiscalizando o que o filho faz com aquele dinheiro. A criança deve ser livre para fazer suas escolhas ? e este é, justamente, o intuito da mesada.
Por exercer um papel fundamental no processo de educação financeira dos filhos, os pais precisam estar sempre se policiando. Envolver as crianças em conflitos familiares quando se está afundado em dívidas é terminantemente proibido. Elas, definitivamente, não tem nada a ver com essa situação. Também não vale exigir que seus filhos poupem dinheiro se você vive no vermelho. O exemplo, como diz o ditado, vem de cima. Lembre-se, ainda, que ser rigoroso e justo é diferente de ser implacável. Os seres humanos são passíveis de erro, especialmente crianças e adolescentes. ![]()