A fintech Mêntore recebeu a autorização oficial para operar sob a supervisão regulatória do Banco Central do Brasil (BCB). Esta decisão, que valida a estrutura operacional e os resultados da empresa, é vista como um indicativo de uma fase de maturidade regulatória para as fintechs brasileiras, onde a inovação é acompanhada por um compromisso com a regulação. A conquista posiciona a Mêntore, reforçando uma tendência de atenção aos riscos regulatórios e valorização de práticas de governança.

O processo de autorização da Mêntore foi considerado um “case inovador” pelo próprio Banco Central, em parte devido ao crescimento da empresa e à sua posição de liderança em um conglomerado que inclui o FIDC Mêntore. Nayara Sales, diretora de compliance do Mêntore, informou que o processo envolveu diversas reuniões com o BCB para apresentar a operação e os números da empresa.

A estrutura da Mêntore inclui uma diretoria organizada e parceiros relevantes no mercado. Entre eles, destacam-se a EY para auditoria interna, a BDO para auditoria externa, e o escritório Pinheiro Neto como consultoria especializada.

Para Vanderson Aquino, CEO do Mêntore, a autorização reflete um posicionamento que une expansão e responsabilidade regulatória. Ele destaca que estar sob a fiscalização do Banco Central “reforça o compromisso institucional” e alinha a empresa a obrigações que já eram cumpridas voluntariamente. Com a autorização, a Mêntore integra oficialmente o sistema financeiro nacional, recebendo o COMPE (Centralizadora da Compensação de Cheques e Outros Papéis) e sendo reconhecida pelo regulador.

A formalização significa que o Mêntore passa a fazer parte das instituições fiscalizadas pelo Banco Central, assumindo uma agenda regulatória. Nayara Sales afirma que a empresa está preparada para este novo momento, pois muitas das exigências já faziam parte de sua rotina, especialmente por serem participantes do Pix desde 2024.

Novos Padrões

A decisão do Banco Central transmite uma mensagem ao mercado: a inovação e a inclusão financeira devem ser acompanhadas de um compromisso com a regulação. Desde a implementação do Pix, o BCB tem aprofundado seu papel como indutor de transformações sistêmicas. A entrada de empresas como o Mêntore nesse ambiente regulado demonstra que o regulador busca um novo padrão de credenciamento, que valoriza não só modelos de negócio, mas também estruturas de controle.

Este cenário está alinhado a uma tendência global, onde instituições financeiras digitais que operam fora dos sistemas formais agora são integradas em frameworks que exigem rastreabilidade, solvência e transparência. No Brasil, esse movimento é acompanhado por um ecossistema que valoriza práticas ESG, a reputação institucional e a governança como ativos importantes.

A autorização do Mêntore traz diversos efeitos e desafios para o setor, entre eles o fortalecimento do sistema financeiro. A entrada de novos players autorizados e estruturados contribui para a resiliência do sistema financeiro nacional, inibindo práticas informais e reduzindo assimetrias regulatórias. Da mesma maneira, oferece mais credibilidade institucional: empresas com crescimento rápido precisarão manter seu compromisso regulatório desde o início, caso da Mêntore.

A decisão também demonstra aumento da exigência para novos entrantes, uma vez que a elevação da régua regulatória tende a dificultar a entrada de operadores com fragilidades em sua estrutura. Modelos sem o devido compliance e auditoria serão menos tolerados, o que pode impactar a velocidade da inovação no curto prazo, mas aprimora a qualidade do setor no longo prazo.

Aquino reforça que, em um mercado onde a inovação é constante, a capacidade de entregar segurança e estabilidade torna-se relevante. Ele prevê que “os agentes que conseguirem aliar tecnologia, inclusão e regulação terão papel importante na próxima fase do setor financeiro”.

A expectativa do mercado é que outras fintechs em estágio avançado de estruturação sigam o mesmo caminho, transformando a autorização do Banco Central em um desafio jurídico em um diferencial competitivo. Com isso, o Brasil reafirma sua liderança regulatória na América Latina e avança na construção de um sistema financeiro digital seguro, inclusivo e sustentável.