12/07/2017 - 15:21
Foi lançado na manhã de hoje (12) o projeto de Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (ImPrEP) que vai ser implantado no Brasil, México e Peru, com coordenação do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Com o objetivo de diminuir o risco de transmissão da doença, o projeto vai atender, a princípio, 7.500 pessoas não infectadas pelo vírus nos três países. O método consiste em administrar medicamentos antirretrovirais, um comprimido por dia, para prevenir a contaminação pelo HIV.
A diretora do INI/Fiocruz, Valdiléia Veloso, disse que o público-alvo são homens que fazem sexo com homens e mulheres transsexuais e travestis que se expõem ao risco de contágio. “Não é simplesmente porque a pessoa é um homem que faz sexo com homem ou porque é uma pessoa transsexual ou travesti que se expõe muito. Isso é um conceito equivocado. Vamos ter pessoas que vão procurar os centros que vão disponibilizar a PrEP porque já conhecem a estratégia, já conversaram com amigos ou viram na internet. Essas pessoas, se cumprirem os critérios do guia da política pública, vão receber o medicamento. Nos locais de testagem para o HIV a população alvo também vai ser informada sobre PreP, vai ser convidada, se houver interesse, para participar”.
De acordo com ela, o Ministério da Saúde está fazendo a doação dos antirretrovirais e a previsão é de que em setembro os interessados já estejam sendo medicados. No Brasil, serão atendidos inicialmente 3 mil pessoas nos estados do Amazonas, de Pernambuco, da Bahia, de São Paulo, do Rio de Janeiro, Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Depois, o objetivo é chegar a todos os estados nos primeiros 12 meses de funcionamento.
Valdiléia explicou que, na prática, o ImPrEP é uma ampliação do PrEP Brasil , uma pesquisa iniciada em 2014 pela Fiocruz, que demonstrou a eficácia do tratamento em 99% das pessoas. “O PrEP Brasil foi um projeto de demonstração e agora o que a gente aprendeu já vai numa estratégia de implementar mesmo, já na vida real. Tem uma coleta de dados, não tanto focada nas pessoas, mas em como os serviços funcionam, para identificar o que facilita e o que dificulta e ir aperfeiçoando. Não vamos esperar o projeto terminar para o Brasil fazer a implementação em larga escala, vamos fazer isso conjuntamente”.
Pioneiro
A diretora do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) no Brasil, Georgeana Braga, disse que a PrEP é uma recomendação global do órgão e que o Brasil é pioneiro na implementação da profilaxia como política pública, já que em países como os Estados Unidos o método é oferecido apenas a quem pode pagar por ele.
“O Brasil vai entrar não somente com esse projeto, mas também com o Ministério da Saúde, que já anunciou que vai, até primeiro de dezembro, disponibilizar pelo SUS também a PrEP, isso é pioneiro no mundo. A gente louva esse esforço, incentiva e apoia. E quer também contar história. Assim que a gente tiver resultados, experiências positivas e negativas, que a gente possa passar para outros países para que eles possam também começar as suas experiências”.
Ela lembrou que o Brasil tinha, em 2015, 830 mil pessoas vivendo com HIV, então é necessário criar novas estratégias para reduzir as infecções. “Essas populações realmente precisam de mais estratégias de prevenção. Nós ainda estamos com um alto número de infecções, são 44 mil novas infecções por HIV por ano no Brasil, e nós queremos que isso se reduza drasticamente. A PrEP vai ser uma das estratégias que vão apoiar essa redução”.
A presidenta da Fiocruz, Nísia Trindade, disse que tem ocorrido avanços do ponto de vista da prevenção e da promoção da saúde no mundo, mas há dados importantes de prevalência de HIV na população foco do projeto.
“No caso da transmissão nas populações que são foco privilegiado dessa estratégia, há uma alta prevalências ainda. No Brasil, entre homens que fazem sexo com homens é de 14,2%, 16,9% no México e 12,4%, no Peru. Esses números tornam-se mais preocupantes quando falamos das mulheres transsexuais e travestis, no Brasil nós verificamos uma prevalência de 33,1%, no México de 20% e no Peru de 30%”.
A duração do ImPrEP será de três anos, com a participação de instituições de ensino e pesquisa dos três países e financiamento de US$ 20 milhões da Unitaid, uma iniciativa global sem fins lucrativos que atua no incentivo de novos métodos para prevenção, diagnóstico e tratamento de HIV/Aids, tuberculose e malária.
No México, o ImPrep será implementado na Cidade do México, em Guadalajara, Puerto Vallarta, Oaxaca e Juchitan. No Peru, serão alvo as cidades de Lima e Callao, que concentram 71% dos casos de HIV/Aids no país, Iquitos, Pucallpa, Tarapoto, Chiclayo e Trujillo. O projeto também vai auxiliar no monitoramento de outras doenças sexualmente transmissíveis, como sífilis e as hepatites B e C.