11/05/2022 - 11:45
O físico americano Frank Wilczek, Nobel de Física por seu trabalho para transformar a compreensão das forças fundamentais da natureza, venceu nesta quarta-feira (11), o prestigioso prêmio Templeton.
Em entrevista à AFP antes do anúncio, Wilczek disse que o vencedor deveria testemunhar o poder inspirador da ciência em um momento no qual os cientistas são alvo de críticas crescentes.
“Nos Estados Unidos, onde vivo, isso é evidente nos últimos anos, e todo um partido político se dedica a isso”, disse o professor do MIT.
“Estas pessoas dizem ‘posso encontrar minha própria informação na internet’, mas não existiria internet sem uma compreensão da mecânica quântica e a ciência, e de todo o trabalho dos engenheiros!” acrescentou.
Qualquer um que construa sistemas tão complexos “deveria obter algum crédito por ele: constroem pontes que geralmente não caem e vacinas que funcionam”, afirmou o físico de 70 anos.
Ele reconhece, porém, uma certa “arrogância” dos cientistas, que, segundo ele, precisam demonstrar paciência, tolerância e honestidade para convencer.
O trabalho de Wilczek inclui uma explicação de uma das forças fundamentais da natureza: a chamada “interação forte”, que é produzida entre os “quarks”, essas partículas fundamentais que estão no coração do átomo. A descoberta lhe rendeu o Prêmio Nobel de Física em 2004, que conquistou junto com outros dois cientistas americanos – David Gross e David Politzer.
O prêmio Templeton, de mais de 1,3 milhões de dólares, é um dos reconhecimentos individuais mais importantes do mundo e uma homenagem a quem explora as questões mais profundas do universo e o lugar ocupado pela humanidade.
“As reflexões filosóficas de Dr. Wilczek trazem um aspecto espiritual”, comentou Heather Templeton Dill, diretora da Fundação John Templeton, em nota.
– Matéria escura –
Wilczek apresenta uma explicação para a matéria escura, que acredita-se constitui 80% do Universo, ainda que seja desconhecida na natureza.
Há mais de quatro décadas, ele sugeriu que um tipo de partícula chamada “axion” seria a responsável pela matéria escura, mas apenas experimentos recentes tem se aproximado da prova de sua existência, graças aos avanços tecnológicos.
Se estes experimentos tiverem êxito, “nossa compreensão das leis fundamentais será muito mais robusta, e isto confirmaria que o Universo é compreensível”, comentou.
Em 2020, cientistas franceses confirmaram a existência de outra partícula que Wilczek nomeou nos anos 1980: o “anyon”.
O pesquisador é também conhecido por seus livros, incluindo “A Beautiful Question” e “The Lightness of Being”, assim como por suas colunas no The Wall Street Journal.
Ele considera vital diminuir a distância entre a ciência e o público, “especialmente para os cientistas que realizam pesquisas motivadas apenas pela curiosidade, sem uma aplicação óbvia”, porque “produzem algo cultural que deve ser incorporado à cultura”.