10/06/2025 - 13:46
A Fitch Ratings manteve a perspectiva neutra para os títulos de dívida dos países da região da América Latina. A classificadora alerta que, apesar dos riscos e das incertezas geradas pela nova política comercial dos Estados Unidos, sendo o México o mais vulnerável, os efeitos podem ser mitigados e a região deve manter o ritmo de crescimento neste ano.
A Fitch espera que a América Latina cresça 2,1% em 2025, em linha com o desempenho do ano passado. A recuperação da Argentina deve compensar a desaceleração no Brasil e a recessão no México, projeta a classificadora.
“A região está exposta ao protecionismo comercial e à incerteza política mais ampla dos EUA, com o México especialmente vulnerável, mas os efeitos poderiam ser mitigados por um tratamento tarifário mais favorável em relação a outras regiões”, diz o cochefe de títulos soberanos da América Latina da Fitch Ratings, Todd Martinez, em relatório, divulgado nesta terça-feira.
A maioria das economias latino-americanas foi taxada com uma tarifa recíproca mínima de 10% pelos EUA, caso do Brasil. Como os países da região não foram alvos de alíquotas mais altas, que seguem suspensas até julho, a exemplo de outras nações, impactos diretos poderiam ser administráveis, na visão da Fitch. “Os efeitos indiretos do crescimento mais lento dos principais parceiros comerciais, EUA e China, e da incerteza sobre tarifas poderiam pesar mais”, avalia.
Segundo a classificadora, os preços das commodities representam um risco aos países da região, mas o impacto tem sido “misto” até o momento. Isso porque, enquanto os preços dos metais se mantiveram, os do petróleo caíram.
Políticas migratórias mais duras no governo Trump também são um ponto de atenção na América Latina, diz a Fitch. A agência avalia, porém, que as deportações não aumentaram significativamente, enquanto as remessas têm se mantido aquecidas, mas podem diminuir após um “aparente aumento antecipado”.
A Fitch alerta ainda que a consolidação fiscal na região pode ser “desafiadora” em 2025, o que poderá repercutir nas taxas de juros e na dívida dos países. Por outro lado, a desvalorização do dólar deu aos bancos centrais margem para continuar cortando as taxas de juros ou evitar um aperto mais duro, afirma.
“Os impactos inflacionários das políticas dos EUA podem exigir taxas de juros mais altas por mais tempo pelo Federal Reserve (Fed), com repercussões para a região”, diz a Fitch. Na sua visão, a necessidade de se manter condições financeiras globais mais restritivas por um período mais longo seria um desafio para países soberanos fortemente dependentes de financiamento externo ou para aqueles que buscam recuperar o acesso ao mercado, a exemplo da Argentina.
Elevações de ratings superaram rebaixamentos na América Latina este ano
Ao fazer um balanço das recomendações para a América Latina, a Fitch diz que as elevações superaram os rebaixamentos de ratings neste ano, com uma proporção de três para um. Em relação às perspectivas, visões positivas superam as negativas em cinco para um.
“Essa inclinação positiva nas ações de rating permanece concentrada na América Central e no Caribe, e recentemente incluiu elevações de ratings soberanos com baixo grau especulativo”, diz a agência.
Neste ano, Argentina, Aruba e El Salvador tiveram suas notas de crédito elevadas pela Fitch Ratings, e a Bolívia foi rebaixada. Aruba, Guatemala, Costa Rica, República Dominicana e Jamaica têm perspectiva positiva, e a Colômbia tem negativa.
O Brasil tem rating “BB” pela Fitch, ou seja, a dois passos do grau de investimento, e a perspectiva estável foi mantida em junho do ano passado.