Até pouco tempo atrás, a rede Fleury, de São Paulo, uma das mais conceituadas empresas do ramo de medicina diagnóstica do País, apresentava grande vitalidade. Em 2012, exibia uma excelente saúde financeira, graças a uma margem de lucro líquida de 21%, o que fazia com que fosse apontada como um exemplo de crescimento saudável no setor médico. Esse período de boa forma recente, no entanto, parece ter ficado para trás. O momento atual é marcado por desafios. A rentabilidade do grupo de laboratórios caiu para 17,2% no terceiro trimestre deste ano. 

 

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Transição: o médico Omar Hauache (à esq.) é o novo presidente do conselho.

A empresa vai apostar em laboratórios mais sofisticados 

 

A queda no desempenho se dá exatamente quando a rede de laboratórios, que faturou R$ 1,5 bilhão no ano passado, atravessa um período de transição em sua administração. O médico Omar Hauache, que presidia o grupo desde 2011, passou para a presidência do conselho, em substituição a José Gilberto Vieira, que vai se dedicar integralmente às pesquisas na área de endocrinologia. Sobrou para a administradora e ex-diretora comercial Vivien Rosso, uma executiva sem formação médica, a missão de revitalizar o laboratório. ?Tomamos a decisão de desacelerar o crescimento, em vez de seguir expandindo de forma não rentável?, afirmou a executiva, em conferência com os analistas. 

 

?Queremos sustentabilidade de crescimento para, a partir do próximo ano, capturar receitas mais lucrativas.? A empresa admite, mesmo sem revelar uma meta oficial, que esse esforço começará a trazer resultados no começo de 2014. Mas a expectativa transmitida ao mercado é de que será necessário mais de um ano para voltar aos níveis de lucratividade de 2012. Pouco pacientes, os investidores têm punido suas ações. Após atingir, em julho de 2012, o pico de R$ 26,74, o valor dos papéis caiu 36%, para R$ 17,05, no pregão da quarta-feira 6 da Bovespa. Vivien também precisou lidar, pouco mais de um mês após assumir o comando das operações, com os boatos surgidos no fim de outubro de que os controladores do Fleury estariam interessados em vender a sua participação e fechar o capital. 

 

O Deutsche Bank chegou a citar, em relatório para investidores, duas potenciais compradoras: as americanas Quest Diagnostics e Laboratory Corporation of America. A última, em especial, teria grande interesse em atuar no mercado brasileiro. O principal acionista da empresa de diagnósticos é o fundo Integritas, que possui uma fatia de 46,7% das ações. Ele é controlado pela Core Participações, empresa de investimentos que detém ainda uma participação direta de 6,3% no Fleury. Os dois grupos são formados por investidores, em sua maioria, médicos. Segundo um consultor especializado no setor de saúde, os médicos acionistas do bloco de controle não estariam gostando de ser cobrados trimestralmente por resultados que planejam entregar em longo prazo. 

 

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Serão fechados 26 laboratórios. A meta é aumentar a rentabilidade

 

?Para atuar no mercado de ações brasileiro, que ainda é muito especulativo, é preciso saber no que está se metendo?, diz o consultor. ?A empresa vai bem, mas não de acordo com as altas expectativas que havia para ela.? A Fleury divulgou nota ao mercado afirmando que os controladores não comunicaram nenhum interesse na negociação de suas participações. ?Não há uma evidência mais forte de que haverá venda da companhia?, diz o analista de ações Leandro Ruschel, diretor da Escola de Investimentos Leandro&Stormer. ?Ela vai levar um tempo para se reestruturar, mas está bem posicionada em seu mercado.? 

 

O plano de reestruturação da empresa inclui o fechamento de 26 centros de diagnóstico, o que pode parecer, à primeira vista, um reajuste das operações para uma venda. Mas também estão sendo feitos investimentos para a abertura de novas unidades. Há ainda outro fator que justifica a redução atual das operações. A responsabilidade pode ser creditada às cooperativas do plano de saúde Unimed. O Fleury encerrou seus contratos com a Unimed-Rio e com a Unimed Paulistana, uma decisão que entrou em vigor em outubro. ?Foi uma escolha consciente?, afirmou Vivien. ?Negociamos por um ano com eles, mas não chegamos a um acordo.? 

 

Uma fonte próxima à empresa diz que esses planos de saúde não faziam o pagamento completo dos serviços prestados pelos laboratórios da rede e não mostraram interesse em regularizar sua situação. A Unimed-Rio, por meio de comunicado enviado à DINHEIRO, afirmou que tentou, por anos, que o Fleury adequasse os seus sistemas de faturamento de acordo com o modelo que utiliza para todos os prestadores de serviços no Rio de Janeiro, mas não obteve sucesso. ?O grupo Fleury também apresentou uma nova tabela de preços, com valores bem acima da média paga por todos os planos de saúde?, informou a Unimed-Rio. 

 

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Novo comando: Vivien Rosso assumiu a presidência em meio à briga com a Unimed,

um dos principais clientes da Fleury

 

?Em função desses dois pontos, o contrato de prestação de serviços foi interrompido.? Segundo a Unimed-Rio, ainda há valores residuais que deverão ser pagos ao laboratório, que já foram definidos em negociação entre as duas empresas e cujo cronograma de quitação está em andamento. A decisão significou uma perda esperada, no começo de outubro, de 30% da receita que o Fleury obtinha com a sua rede Labs D?Or, de laboratórios para a classe média no Rio de Janeiro. ?Recuperamos um terço dessa perda nas três semanas seguintes, em outras unidades da rede?, disse Vivien. ?Isso mostra que havia uma demanda reprimida.? 

 

O objetivo da empresa é recompor o faturamento perdido por meio de outras das suas unidades e com clientes de outros planos de saúde. O reajuste geral das operações está em linha com esse movimento. A redução acontece principalmente nos centros de diagnósticos voltados para as classes populares, que foram unificados sob a bandeira a+, em 2011, na esteira dos investimentos dirigidos à classe média emergente. De janeiro a setembro deste ano, 15 unidades foram fechadas e haverá, nos próximos meses, a descontinuidade de 11 centros ligados a hospitais da rede D?Or, no Rio de Janeiro e em Pernambuco. 

 

Atualmente, a empresa conta com 174 laboratórios, espalhados por sete Estados. Enquanto a maior parte de suas marcas populares deve sofrer uma redução de crescimento, a expectativa é de aceleração para as marcas premium, em especial a Fleury, em São Paulo. No primeiro trimestre de 2014, haverá a inauguração de um centro de exames cardiovasculares na zona sul da capital paulista, ligado a uma nova unidade laboratorial, que levará a marca mais conceituada da rede de diagnósticos, assim como duas outras unidades planejadas para serem abertas entre junho e julho. Algumas unidades a+, em São Paulo e no Rio de Janeiro, devem ser transformadas em centros mais sofisticados, das bandeiras Fleury e Felippe Mattoso, respectivamente. Tudo para trazer a saúde de volta à rede de laboratórios.

 

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