A Flextronics International fabrica celulares, impressoras, placas, monitores, computadores de mão, copiadoras e rádios para automóveis. Mas você nunca viu nenhum desses produtos com a etiqueta Flextronics, certo? A razão é simples. O negócio da multinacional americana é ?sujar as mãos de graxa? para as grandes marcas mas permanecer sempre no anonimato. Nascida na onda da terceirização de produção, nos anos 80, ela especializou-se em componentes eletrônicos e se transformou na maior montadora do mundo. De suas fábricas saem computadores de HP, IBM e Dell, telefones de Motorola, Siemens e Qualcomm e até equipamentos médicos da Johnson&Johnson. A Flextronics cuida ainda da embalagem e da distribuição dos produtos. ?Os clientes não precisam se preocupar com nada. A mão-de-obra, os equipamentos, a matéria-prima e até mesmo os impostos entram em nossa conta?, revela Antonio Federico, diretor de desenvolvimento de negócios da Flextronics do Brasil. ?Fazemos um cálculo sobre tudo que é investido e colocamos nossa margem de lucro. O cliente paga assim que o lote é entregue.? É com essa estratégia que a montadora conseguiu fechar o ano fiscal de 2004 com receita recorde de US$ 14,5 bilhões no mundo.

Na semana passada, a boa notícia veio da filial brasileira com a conquista de dois grandes contratos. O primeiro: produzir a nova linha de telefones móveis da Sony-Ericsson. Hoje, as marcas de celulares representam 50% das vendas de US$ 725 milhões da Flextronics do Brasil. O outro acordo foi fechado com uma fabricante de automóveis para fornecer rádios e tocadores de CD. O nome do cliente é mantido em sigilo. ?É nossa estréia no setor automotivo?, comemora Federico. Foi nesse ambiente de euforia que ele recebeu a DINHEIRO para mostrar in loco como opera a montadora ? um feito raro numa empresa que costuma fechar as portas para qualquer visitante.

A unidade escolhida foi a de Sorocaba (ela tem outras duas, em Rezende-RJ e Manaus-AM), onde trabalham 1.700 funcionários alternando-se em três turnos. A primeira fase de montagem dos produtos começa no galpão principal da Flextronics. Lá, acumulam-se as peças que são comuns a todos os aparelhos como, por exemplo, placas e estruturas de telefones celulares usadas em qualquer equipamento, seja ele Siemens, Motorola ou Sony-Ericsson. A partir daí, os produtos passam para a segunda fase. Cada marca, então, ganha a sua célula de produção (unidades independentes) e uma equipe exclusiva de montadores, composta em média por 15 pessoas. Andando pelos corredores da Flextronics, é possível ver o núcleo da Motorola vizinho do time da Sony e os montadores da HP trabalhando numa sala encostada ao ?QG? da Microsoft. Nunca os concorrentes estiveram tão próximos. ?Mas não existe o menor acesso entre eles?, garante Federico. O objetivo das células de produção é justamente evitar que os segredos industriais acabem vazando para a ?equipe do concorrente?. ?Ninguém, no processo de montagem, possui a informação completa sobre o produto que está fazendo?, garante Federico. Além de todo o cuidado operacional, qualquer funcionário da Flextronics é obrigado a assinar um contrato que prevê sigilo absoluto sobre o que ocorre dentro da fábrica. ?Nós crescemos vendendo confiança?, conclui Federico.

US$ 14,5 bilhões É a estimativa de sandálias Havaianas pirateadas
no Brasil. No exterior, outras seis milhões são copiadas