07/05/2022 - 7:00
Quem for comprar um buquê de flores para o Dia das Mães até o domingo pode levar dois sustos: com o preço do arranjo ou com as portas da floricultura fechadas – bem na data mais importante para esse ramo do comércio. O motivo: o preço das flores de corte, as que são usadas para fazer ramalhetes. Os floristas relatam que alguns tipos chegaram a subir de 200% a 400% desde fevereiro.
Nas redes sociais, os donos de floriculturas e decoradores de evento – que dependem das flores para trabalhar – têm compartilhado a hashtag “Não ao preço abusivo das flores”. Um deles, o engenheiro Paulo Sabiá, dono do e-commerce Sabiá Flores e Jardim, chegou a fazer uma publicação com os porcentuais de reajuste. “As rosas subiram 200%, os lírios, 150%, e as rosas vermelhas, 300%”, diz ele.
O aumento fez Fernando Gimenez, proprietário da floricultura Acorda, Margarida, nos Jardins, em São Paulo, avisar nas redes que não vai abrir a loja esta semana. “Não vamos participar do Dia das Mães. Só vamos atender os clientes de assinaturas de buquê. Não me sinto confortável em repassar esse aumento abusivo e cobrar R$ 300 num buquê”, diz. Ele conta que até o início do ano pagava R$ 15 no maço de hortênsias e que agora está R$ 55.
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ALTERNATIVA
O aumento ocorre apenas nas floriculturas e somente com as hastes. As plantas de vaso e as vendidas em supermercado não ficaram tão mais caras. Isso ocorre porque os supermercados fazem contratos anuais com os produtores e recebem as flores que o fornecedor tem para entregar, independentemente de cor ou tipo. As floriculturas, ao contrário, compram as flores já colhidas com pouca antecedência.
“Nós, que trabalhamos com eventos, nosso cliente pede uma decoração com a flor X, na cor Y. Não tem como fazer contrato de compra antecipado”, diz a decoradora de eventos Tais Puntel, de São Paulo.
A subida dos preços tem relação com a flexibilização da pandemia, que fez subir o número de eventos desde o fim do ano passado. Mas, depois da última onda de contaminação da variante Ômicron, em fevereiro, houve uma avalanche de festas.
Para se ter uma ideia, normalmente, no Brasil, é realizado 1,1 milhão de casamentos todo ano. Mas em 2022, a previsão é de 1,6 milhão, segundo a Associação Brasileira de Eventos, a Abrafesta. “É uma explosão de demanda”, diz Ricardo Dias, presidente da entidade.
ESCASSEZ
“Além de caríssimas, as flores estão em falta”, diz Edilayne Ferraz, florista e decoradora de eventos de Campinas (SP). “Eu pagava R$ 5 o maço da Aster, aquela florzinha que o povo chama de mosquitinho. Agora está R$ 25, e não se encontra para comprar.”
A raiz do problema está na pandemia, que fez muitos produtores ficarem com a produção encalhada. Assim, boa parte reduziu o plantio ou mudou de cultura. “Foram plantar legumes, por exemplo”, diz Renato Opitz, diretor de comunicação do Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), que representa os produtores.
A Cooperativa Veiling, em Holambra (SP), é a maior fornecedora do Brasil, com 350 produtores. Lá, o preço é determinado em leilão, por um relógio eletrônico chamado de “Klok”. Mas, ao contrário de um leilão normal, o preço inicial é o lance máximo. Os compradores só apertam o botão de “comprar” quando o valor chega a um número interessante para eles.
Com a polêmica nas redes sociais, a cooperativa reagiu publicamente em seu perfil, explicando que o preço é ditado pela demanda. Consultada, a cooperativa não respondeu à reportagem.
“O problema é que, quando os produtores estavam na pior, jogando flor fora, nós fomos solidários. Eu mesma dei oito cursos online de arranjos florais para incentivar as pessoas a comprar flor e auxiliar esses produtores”, diz Taís. “Agora que a situação se inverteu, eles dizem que o problema é da demanda, que não podem fazer nada.”
Para ela e também outros floristas é inviável repassar o aumento para o consumidor. O que Taís está fazendo é intercalar, em seus arranjos, flores naturais com artificiais para baratear o preço.
Outra saída é usar mais folhagens, misturar flores secas ou tentar buscar espécies que tiveram menores reajustes. “Tentei fazer isso”‘, diz Gimenez. Mas os clientes gostam de dar rosas vermelhas no Dia das Mães e pedem isso. Quando você passa o preço, eles não entendem. Então, para não entrar em conflito, resolvi fechar esta semana.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.