Há quem ainda torça o nariz para vinhos da uva Carménère, que alguns críticos e sommeliers no Brasil chamam ironicamente de “carmenever”. O preconceito cai por terra quando se observa com atenção os novos rumos que os produtores chilenos têm dado à variedade que há tempos se tornou a mais representativa daquele país. É o caso do Floresta Carménère, cuja safra 2019 (à venda por R$ 299,90 no e-commerce encontrevinhos.com.br) obteve 98 pontos do Guia Descorchados. A de 2020, embora tenha ficado com um ponto a menos, conquistou os prêmios de segundo melhor vinho do Chile, melhor de sua variedade e melhor de sua região, Apalta. Causou também ótima impressão na revista Decanter, com 95 pontos.

A linha Floresta, composta por brancos e tintos, faz parte da Colección de Origen, categoria ultrapremium criada pela vinícola chilena Santa Rita que inclui ainda os rótulos Triple C, Bougainville e Pewën de Apalta. Todos são inspirados em aspectos do centenário Parque de Santa Rita, declarado Monumento Histórico Nacional em 1972. No caso do Floresta Carménère, as uvas provêm de um vinhedo plantado em 1938 no coração do vale reconhecido por um vinho que supera a casa de R$ 2 mil, o cultuado Clos Apalta, da Casa Lapostolle.

Conheça esta família espanhola que vale muito e custa pouco

Para a enóloga Teresita Ovalle, que desde o ano passado é responsável pela linha Floresta, a intenção com o rótulo foi mostrar “de forma sincera e profunda a riqueza de um terroir único”. A valorização do terroir tem sido um mote recorrente de enólogos, algo até cansativo nos últimos tempos, mas é isso que permite aos produtores ir além da tipicidade da uva para criar bebidas que contam histórias envolventes. Na visão de Teresita, a viticultura e a enologia permitem “mostrar por meio do vinho os lugares, as suas gentes, costumes e todo o seu ambiente natural”. É assim que cada vinho se torna único.

Depois de trabalhar na Itália com Alberto Antonini, enólogo reconhecido tanto pelos vinhos de sua família na Toscana quanto pelas consultorias que presta à Bodega Garzón, no Uruguai, e o projeto Altos Las Hormigas, na Argentina, Teresita passou um tempo na França, primeiro no Rhône e depois em Sancerre. Da Europa, trouxe o respeito pela manutenção da identidade das uvas, que ela reverencia ao trabalhar com o mínimo de intervenção enológica. No Floresta Carménère, ela não usa filtragem ou clarificação. O vinho permaneceu em cubas de concreto por 19 meses e 25% passou por foudres (tonéis com capacidade bem maior que as tradicionais barricas). O resultado é um vinho de concentração média, que terá ótima evolução ao longo do tempo.

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