14/10/2020 - 15:59
As duas organizações internacionais de crédito mais importantes do mundo, o FMI e o Banco Mundial (BM), abriram suas reuniões anuais nesta quarta-feira (14) com um novo apelo para que os ricos ajudem os pobres a enfrentarem o impacto global da pandemia do coronavírus.
Os dirigentes do FMI e do Banco Mundial reiteraram nos últimos dias seus apelos aos governos para que continuem aumentando os gastos públicos para sustentar a economia e evitar o agravamento da crise.
Mas com as dívidas soberanas e corporativas disparando em um cenário de taxas de juros baixas, a crise é um quebra-cabeça difícil para as instituições sediadas em Washington, que sempre exigiram cautela fiscal.
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, e o presidente do Banco Mundial, David Malpass, alertaram para os países não se sentirem confiantes em uma recuperação econômica inicial e pediram aos maiores credores – China e grandes credores privados em particular – a fazerem mais para aliviar a crise de endividamento enfrentada pelos países mais vulneráveis.
“Nove meses após o início de uma pandemia e ainda estamos lidando com a escuridão de uma crise que ceifou mais de um milhão de vidas e que colocou a economia em marcha à ré, causando desemprego, aumentando a pobreza e os riscos de uma geração perdida ’em países de baixa renda”, resumiu Georgieva.
“Estou muito preocupada que o apoio aos trabalhadores e empresas seja retirado prematuramente, porque isso pode causar uma onda de falências e um aumento maciço do desemprego”, alertou.
O PIB mundial recuará 4,4% neste ano, menos do que os 5,2% estimados em junho, de acordo com o FMI.
A melhora deve-se principalmente à abertura de algumas economias avançadas, embora a reativação para o próximo ano perca força. Mas também é explicada pelos 12 trilhões de dólares em recursos que os governos injetaram em suas economias ao redor do mundo.
As perdas de crescimento nos próximos cinco anos são estimadas em cerca de 28 trilhões de dólares. Com um aumento nas infecções em muitos países e nenhuma vacina à vista, Georgieva alertou que todos os países enfrentam um desafio para sair da crise que será “difícil, desigual, incerto e sujeito a contratempos”.
– O alívio da dívida –
Malpass liderou os pedidos de alívio da dívida para os países pobres.
O G20 concordou com a suspensão do serviço da dívida para os 43 países mais pobres do mundo, o que representa cerca de 5 bilhões de dólares de obrigações até o final do ano, bem abaixo do esperado, de até 11 bilhões.
O G20 aprovou uma extensão de seis meses desta iniciativa chamada de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) nesta quarta-feira, mas Malpass continua a levantar preocupações sobre a falta de transparência nesta cooperação, especialmente da China.
A China consolidou amplamente sua posição como o maior credor dos países pobres nos últimos anos, bem à frente do Japão, informou o Banco Mundial na segunda-feira.
A participação do gigante asiático no passivo total devido aos países do G20 por outras nações aumentou de 45% em 2013 para 63% no final de 2019, disse o Banco Mundial em um comunicado.
A China considera seu Banco de Desenvolvimento um banco comercial, o que permite que ele não seja incluído em uma iniciativa de moratória da dívida.
O presidente do BM aponta para uma redução da dívida “significativa” para os países pobres e lhes permite “um crescimento duradouro no futuro”.
A participação do setor de credores privados nesta iniciativa foi amplamente ausente.
Para Georgieva, o coronavírus continua sendo o principal problema e o FMI estima que uma solução médica rápida poderia adicionar 9 trilhões de dólares à economia global até 2025.
“Uma recuperação econômica duradoura será possível se derrotarmos a pandemia em todos os lugares”, concluiu.