Foi mais uma derrota no plano internacional. Depois de não emplacar a cadeira brasileira no Conselho de Segurança da ONU, de fracassar nas negociações para o corte de subsídios na Organização Mundial do Comércio e de não conseguir vencer nem a eleição para o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o País colheu na semana passada um novo revés, desta vez nas negociações para a reforma do Fundo Monetário Internacional. A posição brasileira, que contestava o critério de revisão das cotas dos países-membros do FMI e tinha o apoio apenas de Argentina, Índia e Egito, foi rechaçada. Venceu a tese do diretor-geral do Fundo, o espanhol Rodrigo de Rato, com 90% dos votos. Agora, quatro países emergentes ? China, Coréia do Sul, México e Turquia ? terão mais cotas e mais poder de voto na instituição. ?Eles estavam subrepresentados?, disse Rato, durante a Conferência Anual do Fundo, em Cingapura. O Brasil, por sua vez, viu sua cota ser reduzida de 1,42 para 1,40. Seu voto vale menos e isso reflete o encolhimento do País no PIB global.

Insatisfeito, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez uma comparação deselegante em Cingapura. Ao saber do resultado que alterou a estrutura de poder no FMI, Mantega disse que ?a montanha pariu um rato?. Em seguida, tentou disfarçar e negou que tenha feito um trocadilho com o nome do chefe do Fundo. Mantega também anunciou mais uma iniciativa do País na arena internacional. Sem espaço no G-8, o clube dos países ricos, o Brasil pretende agora criar o G-4, que incluiria China, Índia e África do Sul. São propostas que embutem mais vaidade diplomática e desejo de reconhecimento externo do que a perspectiva de ganhos econômicos concretos. E mesmo essa esparrela sobre as cotas no FMI era pouco relevante. Isso porque o Fundo, criado em 1944 para prevenir crises financeiras, tem perdido importância num mundo em que os países emergentes já têm US$ 2,8 trilhões em reservas e US$ 667 bilhões em saldos comerciais. ?Com os emergentes tão fortes, há uma certa crise de identidade no FMI?, diz Stephen King, economista-chefe do HSBC.

Em Cingapura, o diretor Rodrigo de Rato disse que a reforma atual no Fundo é a mais importante em 25 anos e avisou que a expansão da economia global pode ter atingido seu pico, num sinal de que o ciclo de liquidez farta pode estar chegando ao fim. No mesmo encontro, o Institute of Internacional Finance (IIF) também divulgou um estudo prevendo queda no fluxo de capitais para países emergentes ? na América Latina, o volume cairia de US$ 63,9 bilhões para US$ 38 bilhões entre 2005 e 2007. É por isso que muitos analistas ressaltam que o FMI ainda poderá vir a preservar um papel importante na economia global. ?O fato de termos vivido uma expansão inédita nos últimos anos não significa que esse padrão permancerá para sempre?, disse à DINHEIRO o economista Paulo Leme, diretor da Goldman Sachs, que trabalhou nove anos no FMI durante a turbulenta década de 80. ?O Fundo ainda pode ajudar o mundo a corrigir os desequilíbrios macroeconômicos globais?, diz ele.