Embora formada em administração de empresas, Flávia Santos, 36 anos, não pode nem ouvir falar em finanças ? muito menos da própria. Sempre afundada em dívidas, chegou a tomar, há dois anos, uma decisão radical: cancelou todos os cartões de crédito e aboliu o talão de cheques. Hoje, tem apenas uma conta-salário, de onde resgata todo o dinheiro que recebe por mês. Deste bolo, separa uma parte para pagar as despesas fixas. A tática, porém, não tem surtido muito efeito. ?Gasto todo o resto e mais um pouco?, confessa ela. ?Vivo os primeiros 15 dias do mês como milionária e a outra metade como miserável.? Flávia não é exceção. Um estudo feito pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, com o objetivo de entender como as pessoas se relacionam com suas finanças pessoais revelou um quadro preocupante. Metade dos entrevistados apresentou aceleração do ritmo cardíaco quando teve de lidar com suas finanças e 15% ficaram imóveis, se recusando a analisar os dados. Flávia, por exemplo, sequer abria as correspondências com extratos bancários quando ainda tinha uma conta corrente para movimentar. É o que os especialistas chamam de fobia de finanças. Dos que apresentavam esse tipo de comportamento na pesquisa britânica, 23% eram mulheres e 18%, homens.

Para a psicoterapeuta Patrícia de Rezende, especialista em comportamento financeiro, a fobia está ligada ao medo do desconhecido. De um modo geral, as pessoas não foram preparadas para lidar com dinheiro, acabando por assumir, muitas vezes, uma atitude infantil. ?É menos tabu falar sobre sexo do que sobre gestão financeira?, afirma. Aquiles Mosca, economista e estrategista de investimentos do ABN Amro Asset Management, reforça a opinião de Patrícia. Segundo ele, parte dessa aversão em tratar as finanças pessoais tem origem na falsa noção de complexidade do tema. ?Até a linguagem técnica usada por profissionais ajuda a disseminar essa resistência?, diz ele, numa espécie de mea-culpa. No País, essa situação pode ter sido agravada por conta do longo período de inflação pelo qual os brasileiros tiveram de passar. Proteger o dinheiro, naquela época, significava consumir o mais rápido possível. E mudar um hábito cultivado ao longo de tantos anos é tarefa difícil.

Mas independente da origem do problema, evitar administrar as próprias finanças pode produzir conseqüências graves, como o descontrole financeiro. É comum que as pessoas endividadas recorram a novos empréstimos como forma de sanar os problemas no curto prazo. No longo prazo, porém, o endividamento tende a se transformar em uma bola de neve. O primeiro passo para tratar a fobia de finanças, assim como qualquer outra, é aceitar o problema e encará-lo. Feito isso, a pessoa pode passar para o segundo passo, que é planejar o orçamento doméstico. Só assim será possível economizar para, mais tarde, investir parte do que ganha.