11/02/2009 - 8:00
PLÁGIO: Giorgio Armani (à dir.) acusa Dolce&Gabbana (à esq.) de terem copiado a calça acolchoada preta (detalhe) em sua última coleção
DESDE OS ANOS 80, quando a moda prêt-à-porter ganhou destaque e reduziu a alta-costura a um nicho de mercado, a Itália tem chamado a atenção tanto pela qualidade das roupas como pelas criações nascidas ali. Seus desfiles são tão importantes quanto os de Paris, e a semana de moda de Milão dita tendências mundiais. Mas, recentemente, o glamour do desfiles deu lugar a uma troca de alfinetadas entre o famoso estilista Giorgio Armani e os rivais Domenico Dolce e Stefano Gabbana. Motivo: Armani acusou a dupla da grife Dolce&Gabbana de ter plagiado uma calça escura, larga e em tecido acolchoado que ele apresentara na coleção passada de sua segunda linha, a Empório Armani. O problema é que o episódio, uma saia-justa que deveria ter ficado restrita aos bastidores, ganhou a imprensa mundial. “Hoje, copiam; amanhã aprenderão”, teria dito Armani. A dupla não deixou por menos e rebateu: “Temos muito a aprender, mas não com ele.” Por mais que as marcas contem com departamentos de relações públicas profissionais para barrar essas trocas de acusações, as disputas de egos são mais comuns do que se pensa. São famosas as inimizades entre Mary Quant e André Courrèges, Paul Poiret e Coco Chanel, a mesma Chanel e Christian Dior, entre outros. Em um ramo em que a criatividade é fundamental, os estilistas tornam-se estrelas das marcas que representam e, consequentemente, as guerras de ego não têm fim.
1.Coco Chanel acreditava que a moda para a mulher emancipada deveria ter linhas retas e tecidos simples
2.Christian Dior, que a sucedeu no olimpo da moda, lançou uma tendência feminina, com saias rodadas, várias camadas de tecido e cintura fina
3.Mary Quant, a inglesa moderninha que lançava moda nos anos 1970, tornou a minissaia popular. Mas o francês
4.André Courrèges dizia ser o verdadeiro autor da peça
“Na moda, a vaidade vai além dos limites. Mas é comum que dois estilistas criem ao mesmo tempo peças parecidas, pois estão submetidos a influências similares”, explica Beto de Abreu, professor de planejamento de coleção do curso de design de moda da universidade Veiga de Almeida. “Aí surge uma disputa: quem criou essa peça? Mas como existe um calendário da moda, os desfiles acontecem em semanas – e até meses – diferentes, e passa-se a impressão errada de que um criou antes do outro. Acho que foi esse o caso entre Armani e Dolce& Gabbana.” O episódio lembra o ocorrido há mais de 40 anos, quando, na metade da década de 1960, a inglesa moderninha Mary Quant apresentou ao mundo a minissaia, provocando a ira de André Courrèges, estilista francês adepto de linhas retas e modernas. Courrèges afirmava ter criado a minissaia antes de Mary e até hoje não se sabe ao certo quem foi o verdadeiro autor da peça.
Esse não é único motivo de discussão. A própria lógica da moda favorece brigas, pois uma tendência sempre contraria a anterior. Ou seja, se em um ano usam-se bolsas enormes; no outro as bolsas pequenas entram na moda. Nessas trocas de tendência, convivem estilistas de duas gerações diferentes, que pensam de formas desiguais. Dois exemplos envolvem a lendária Coco Chanel. Quando seu nome surgiu no meio da moda, nos anos 1920, quem estava no ápice era Paul Poiret. Autor de vestidos com formas opulentas e cores vibrantes, Poiret dizia que as criações de mademoiselle Chanel, com linhas simples e tecidos básicos, eram pobres. Após Chanel, foi a vez de Christian Dior ser o queridinho da moda e, com isso, surgia uma nova briga. Dior propôs o “new look” com saias rodadas e de cintura fina. Chanel dizia que o novo estilo não combinava com a mulher emancipada dos anos 1950. Enquanto a disputa é baseada apenas em visões divergentes, é saudável. O problema é quando ultrapassa os limites da ética. “Há estilistas que subornam os fornecedores para obter informações privilegiadas de seus concorrentes, como a estamparia e a cartela de cores que serão usadas na próxima estação”, conta o professor Beto de Abreu.