Faltou fôlego ao Grupo Telefónica para continuar
sua trajetória de lucros. Tudo
ia bem desde 1995. Ao todo, foram 10,5 bilhões de euros
em sete anos. Mas aí veio
2002 e o vento virou. Na clausura da reunião de acionistas, em Madri, o presidente do conglomerado de telecomunicações, César Alierta, anunciou um prejuízo histórico de 5,57 bilhões de euros no ano passado. Segundo um estudo da Economática, empresa de dados financeiros, a perda da organização é equivalente a soma dos lucros dos 17 bancos espanhóis de capital aberto. Juntos, eles ganharam 5,89 bilhões de euros no mesmo período. Num ranking internacional, o resultado no vermelho representou a sexta pior perda de uma única organização em 2002. A má notícia foi transmitida em uma teleconferência para outros 1.600 executivos espalhados pela Espanha. Má notícia? Considerando a tranqüilidade e até o certo ar de entusiasmo de Alierta ao apresentar o balanço, o dinheiro perdido não causou qualquer constrangimento ou dor de cabeça. Pelo contrário. A Global Reporting Initiative ? uma instituição independente que avalia a qualidade dos demonstrativos financeiros de grandes empresas ? até decidiu incluir a Telefónica em seu conselho. O grupo tem como missão desenvolver diretrizes e indicadores confiáveis para o mercado corporativo global.

O prejuízo da empresa agradou também o banco de investimentos Goldman Sachs. A instituição divulgou um relatório para seus clientes assegurando que, ao apresentar o resultado de 2002, a Telefônica tornou-se umas das operadoras de telecomunicações mais transparentes do mundo. Até então, o banco só havia destacado no setor nomes como das americanas Verizon e SBC, a mexicana Telmex e a coreana Korea Telecom. A Telefónica ainda manteve, mesmo no vermelho, a sétima posição mundial de capitalização no mercado de capitais. A reação positiva do mercado se justifica pela avaliação de que a Telefônica acertou em cheio ao decidir limpar o balanço, de uma única vez, saneando ativos intangíveis e aumentando reservas para os riscos futuros de sua operação em 40 países. Atualmente, a organização tem cerca de 88 milhões de clientes, é a líder de telefonia fixa da América Latina, com 26% do mercado, e já se destaca no negócio de celulares, com 22% de participação e mais de 20 milhões de clientes na região.

Com números tão expressivos, o prejuízo não ofuscou a reestruturação da contabilidade. Isso porque a companhia ajustou melhor o foco de seus negócios. O grupo, por exemplo, desistiu da telefonia móvel de terceira geração (UMTS) na Alemanha, Áustria, Itália e Suíça. Ainda reservou 12,34 bilhões de euros como provisões técnicas para gastos com UMTS. E contabilizou cerca de meio bilhão de euros para cobrir as perdas de valor da Mediaways, comprada em 2000 da Bertelsmann. De toda forma, o grupo não se livrou do peso da dívida de 25,78 bilhões de euros, 5,45 bilhões a menos do que em 2001. Em compensação, aumentou 5,3% das vendas e teve uma margem de geração de caixa (Ebitda) de 41,3%.

No Brasil, a Telefônica S.A. só teve alegrias em 2002. Lucrou 1 bilhão de reais e faturou 10 bilhões de reais. ?Só não contribuímos mais com a matriz por causa da desvalorização do real?, afirma Fernando Xavier Ferreira, presidente da filial brasileira. A situação por aqui é tão cor de rosa que a expectativa para 2003 é de que a filial brasileira dispute prestígio diretamente com a operação da Espanha. Principalmente em telefonia fixa. A Telefónica Móviles já decidiu que suas principais praças nos próximos anos serão o Brasil e o México. No mercado mexicano, quer passar dos atuais 2,4 milhões de celulares para 6 ou 7 milhões de clientes. Aqui, a missão é consolidar a liderança com a Brasilcel, joint-venture formada com a Portugal Telecom. A operação conjunta tem 16,8 milhões de clientes. A Telefônica ainda quer aumentar a quantidade de assinaturas da internet de alta velocidade e incrementar as vendas de serviços de maior valor agregado. Com essa receita, tudo indica que este ano, mais do que ficar no azul, a Telefônica do Brasil poderá ajudar a matriz a surpreender o mercado, dessa vez, não só com transparência, mas também com o retorno do lucro.