A frase “Follow the Money”, que ficou famosa na versão da TV americana sobre o escândalo Watergate, pode perfeitamente ser aplicada às investigações da Operação Lava Jato. “Siga o dinheiro”, teria dito o informante dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal “The Washington Post”, sobre como encontrar as provas da participação do então presidente Richard Nixon na invasão da sede do Partido Democrata. Embora a frase seja ficcional, foi exatamente o que fizeram os repórteres e investigadores do caso, que conseguiram encontrar os indícios das doações à campanha republicana (de Nixon) e o dinheiro pago aos invasores da campanha adversária.

Seguir o caminho do dinheiro, que nem sempre trafega em linha reta, também pode ser a chave para encontrar a ligação entre os políticos investigados na Lava Jato e o financiamento de campanha – mesmo que este esteja legalmente declarado à Justiça Eleitoral. O senador petista Lindbergh Farias, por exemplo, confirmou ter pedido ajuda a um diretor da Petrobras para encontrar recursos para sua campanha, em 2010. Como empresas estatais não podem doar, o pedido foi repassado a um dos fornecedores da petroleira. Na prestação de contas, ele relata ter recebido R$ 1 milhão da Camargo Corrêa.

“Igualaram políticos que receberam propinas, pagamentos pessoais, depósitos em conta com doações legais de campanha”, reclamou Lindbergh. Assim como o senador fluminense, outros políticos citados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, estão sendo investigados por doações recebidas legalmente. O presidente do Senado, Renan Calheiros, é acusado de ter recebido R$ 2,5 milhões das empreiteiras investigadas. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, teria recebido R$ 500 milhões, também contabilizados, da Camargo Corrêa.

O petista Humberto Costa, líder da sigla no Senado, mostrou em sua prestação de contas doações de R$ 1 milhão da Camargo Corrêa e R$ 500 mil da OAS, ambas envolvidas no esquema da Petrobras. É verdade que quem recebeu recursos dentro da lei, declarados na prestação de contas enviada ao Tribu­nal Superior Elei­toral, não pode ser tratado da mesma forma que aqueles que embolsaram dinheiro em suas contas no exterior. No entanto, a origem dos recursos é a mesma. Empresas com contratos com o governo ou com estatais doam para deixar o caminho aberto para futuros negócios.

E colocam um sobrepreço nos contratos, que depois é dividido com os funcionários que organizam o esquema na empresa, como contou o ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco. No fundo, trata-se de dinheiro público desviado para fins privados. Seguir o caminho do dinheiro, verificar as coincidências entre contratos com empresas públicas e o financiamento de campanhas é a única maneira de perceber se existe algo de errado no Caixa Um.

Para acabar de vez com o problema, no entanto, é preciso uma mudança mais profunda. Há pouco menos de um ano, ela parecia prestes a acontecer, com a proibição de doação por parte de empresas. Um projeto sobre o tema está engavetado na Câmara dos Deputados. No Supremo Tribunal Federal, porém, já existe uma maioria de seis votos a um a favor da proibição. Mas o processo está parado no gabinete do ministro Gilmar Mendes, que pediu vista em abril do ano passado, e até agora não deu seu voto. Na prática, o fim do financiamento privado está nas mãos de Gilmar Mendes.