13/03/2015 - 20:00
A frase “Follow the Money”, que ficou famosa na versão da TV americana sobre o escândalo Watergate, pode perfeitamente ser aplicada às investigações da Operação Lava Jato. “Siga o dinheiro”, teria dito o informante dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal “The Washington Post”, sobre como encontrar as provas da participação do então presidente Richard Nixon na invasão da sede do Partido Democrata. Embora a frase seja ficcional, foi exatamente o que fizeram os repórteres e investigadores do caso, que conseguiram encontrar os indícios das doações à campanha republicana (de Nixon) e o dinheiro pago aos invasores da campanha adversária.
Seguir o caminho do dinheiro, que nem sempre trafega em linha reta, também pode ser a chave para encontrar a ligação entre os políticos investigados na Lava Jato e o financiamento de campanha – mesmo que este esteja legalmente declarado à Justiça Eleitoral. O senador petista Lindbergh Farias, por exemplo, confirmou ter pedido ajuda a um diretor da Petrobras para encontrar recursos para sua campanha, em 2010. Como empresas estatais não podem doar, o pedido foi repassado a um dos fornecedores da petroleira. Na prestação de contas, ele relata ter recebido R$ 1 milhão da Camargo Corrêa.
“Igualaram políticos que receberam propinas, pagamentos pessoais, depósitos em conta com doações legais de campanha”, reclamou Lindbergh. Assim como o senador fluminense, outros políticos citados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, estão sendo investigados por doações recebidas legalmente. O presidente do Senado, Renan Calheiros, é acusado de ter recebido R$ 2,5 milhões das empreiteiras investigadas. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, teria recebido R$ 500 milhões, também contabilizados, da Camargo Corrêa.
O petista Humberto Costa, líder da sigla no Senado, mostrou em sua prestação de contas doações de R$ 1 milhão da Camargo Corrêa e R$ 500 mil da OAS, ambas envolvidas no esquema da Petrobras. É verdade que quem recebeu recursos dentro da lei, declarados na prestação de contas enviada ao Tribunal Superior Eleitoral, não pode ser tratado da mesma forma que aqueles que embolsaram dinheiro em suas contas no exterior. No entanto, a origem dos recursos é a mesma. Empresas com contratos com o governo ou com estatais doam para deixar o caminho aberto para futuros negócios.
E colocam um sobrepreço nos contratos, que depois é dividido com os funcionários que organizam o esquema na empresa, como contou o ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco. No fundo, trata-se de dinheiro público desviado para fins privados. Seguir o caminho do dinheiro, verificar as coincidências entre contratos com empresas públicas e o financiamento de campanhas é a única maneira de perceber se existe algo de errado no Caixa Um.
Para acabar de vez com o problema, no entanto, é preciso uma mudança mais profunda. Há pouco menos de um ano, ela parecia prestes a acontecer, com a proibição de doação por parte de empresas. Um projeto sobre o tema está engavetado na Câmara dos Deputados. No Supremo Tribunal Federal, porém, já existe uma maioria de seis votos a um a favor da proibição. Mas o processo está parado no gabinete do ministro Gilmar Mendes, que pediu vista em abril do ano passado, e até agora não deu seu voto. Na prática, o fim do financiamento privado está nas mãos de Gilmar Mendes.