Na quarta-feira 2 o empresário americano Steve Jobs subiu ao palco do Yerba Buena Center, em São Francisco, nos EUA, para apresentar o novo iPad. Sua presença causou surpresa. 

Afinal, o fundador da Apple está afastado do trabalho por licença médica. No entanto, Jobs não quis perder a oportunidade de, assim como faz todos os anos, ser o responsável por mostrar um novo produto de sua companhia. 

 

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Nesse caso, a estrela da vez foi o iPad 2, que, como principais inovações em relação ao primeiro modelo, é mais leve e fino e tem duas câmeras para videoconferência. O produto estará disponível nas lojas nos EUA no dia 11 e, em outros 26 mercados, no dia 25 deste mês. 

 

Na lista de países contemplados  com o lançamento do queridinho tecnológico da Apple estão alguns importantes como Austrália, Canadá e Inglaterra. Entre os escolhidos, porém,  também estão países que não são nenhuma potência de mercado, como Hungria e República Tcheca. 

 

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Steve Jobs, fundador da Apple: “Não podemos nem exportar direito nossos produtos em razão da

política maluca de taxação superalta do Brasil. Isso faz com que seja pouco atraente investir no País” 

 

E o Brasil? Nada, nem sequer uma referência ao Brasil. Ou seja: mais uma vez, o mercado brasileiro foi preterido pela empresa da maçã  em seus lançamentos, o que demonstra mais uma vez o pouco apreço da companhia de Jobs pelo País. 

 

Só para dar uma ideia, o minúsculo Luxemburgo, perto da Alemanha, com apenas 493 mil habitantes – menos que os 605 mil de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo – contará com o iPad 2 no dia 25. É certo que Luxemburgo possui uma boa condição econômica, mas ainda assim se trata de um país que conta com um mercado consumidor extremamente restrito. 

 

O retrospecto mostra que o consumidor brasileiro precisa ter paciência se quiser comprar aparelhos da companhia do Vale do Silício. O primeiro iPhone, criado em 2007, nunca foi lançado aqui. 

 

Seus modelos 3G e 3GS  levaram dois meses para desembarcar no Brasil, e o iPhone 4, três  meses.  O iPad, o mais aguardado lançamento de 2010, demorou oito meses. Coeren-temente, o País foi um dos últimos da fila a receber o tablet da Apple.

 

Como não bastasse a demora, os produtos chegam aqui em quantidades ínfimas. Um bom exemplo disso é o iPhone 4. As operadoras de telefonia móvel  sabiam de seu potencial de vendas mas, salvo exceções, não se encontra o equipamento desde o Natal.  

 

A alegação das empresas de telefonia é de que a fabricante não enviou novas remessas do aparelho. “O Brasil não é prioridade para a Apple. As operadoras brasileiras receberam 70 mil iPhones 4, que acabaram em três dias”, disse Alex Zornig, diretor financeiro da Oi, em entrevista coletiva no final do ano passado. 

 

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Tributos: Catherine Noveli (terceira da esquerda para a direita, no alto), da Apple,

pediu redução de impostos ao ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel (à direita) 

 

“É a pulga do cachorro em cima do elefante.”No último trimestre de 2010, foram  vendidos 16,2 milhões de iPhones no mundo. No Brasil, apenas 150 mil, o equivalente a todo o lote trazido pela fabricante. 

 

Aparentemente, um dos motivos que levam a Apple a descartar uma atuação mais expressiva no País é a alta carga de impostos.  Jobs até já teria usado esse argumento para recusar, no ano passado, um convite da Secretaria do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro para abrir uma loja da Apple na cidade. 

 

“Não podemos nem exportar nossos produtos direito em razão da política maluca de taxação superalta do Brasil”, teria afirmado Jobs, na ocasião, de acordo com o jornal O Globo. “Isso faz com que seja pouco atraente investir no País.” 

 

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Procurada pela DINHEIRO, a Apple se limitou a informar por meio de sua assessoria de imprensa local que seu “interesse pelo Brasil tem aumentado de forma clara em razão do empenho em crescer no varejo e atender o País todo”.    

 

Sem lojas próprias aqui, a empresa atua no mercado nacional por meio de parcerias com varejistas, como Fast Shop, Fnac e Saraiva, além de revendedores credenciados ou do comércio eletrônico. 

 

Mas seu poder de fogo seria muito maior caso tivesse unidades próprias. Para se ter uma ideia do que isso representa: segundo Alberto Serentino, da consultoria paulista de varejo Gouveia de Souza, somadas as mais de 300 lojas Apple espalhadas por 11 países (nenhuma na América Latina) recebem três vezes mais consumidores do que a Disney em todos os seus parques. “O Brasil é candidato natural a ter a primeira Apple Store da América Latina”, diz. 

 

Enquanto isso não acontece, o caminho utilizado por muitos consumidores para obter mais rapidamente produtos da companhia americana são as lojas no Exterior. É o caso do empresário  Amilcare Dalevo, presidente da RedeTV!. 

 

Ele importou os mais de 500 computadores iMacs usados na redação  de jornalismo da sua emissora. Atualmente,  prepara a importação de 20 novos notebooks MacBooks Pro, mas isso não o livrará de um problema. 

 

“Não recebemos suporte por parte da Apple”, disse Dalevo à DINHEIRO. “Eles parecem não estar nem aí para o Brasil.” A falta de apoio por parte da Apple é sentida pela redes varejistas nacionais, que têm dificuldades para repor equipamentos, especialmente o iPad, cuja procura tem sido elevada. A FastShop, que mantém as revendedoras Apple A2You, e a iPlace, do Grupo Herval, sao duas delas. “Esse problema, no entanto, é algo natural, fruto de uma demanda muito alta e difícil de ser prevista”, afirma Luiz Pimentel, diretor de marketing da Fast Shop. 

 

Se é verdade que hoje os consumidores e os varejistas cobram uma maior atenção da Apple, também o é o fato de que a companhia começa a dar indícios de que já considera a possibilidade de reverter esse quadro e o desejo de  estreitar relações com o País, que é hoje o quarto maior mercado de computadores do mundo e tem a expectativa de vender dez milhões de smartphones neste ano. 

 

No início de fevereiro, a vice-presidente de relações governamentais da Apple, Catherine Noveli, se reuniu em Brasília com os ministros das Comunicações, Paulo Bernardo, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. 

 

O assunto do encontro foi a redução de impostos para tablets,  bandeira defendida por Bernardo. O ministro, porém, alertou  a executiva de que a intenção é dar o benefício apenas a quem fabricar os equipamentos no Brasil, algo que a Apple não faz em nenhum país. Candidatos a participar dessa empreitada não faltariam. 

 

O empresário Eike Batista, sócio do Grupo EBX, negocia a instalação de uma montadora de produtos da companhia americana. Ainda é difícil saber se o plano de Batista vai virar realidade. 

 

Afinal, a ideia de uma unidade fabril no Brasil já foi defendida internamente na própria Apple. “Todos os gerentes-gerais da companhia, na última década, tentaram convencer a matriz de que montar os produtos localmente é um caminho necessário para crescer no mercado brasileiro”, diz  Ivair Rodrigues, analista da consultoria especializada em tecnologia IT Data. Até este momento, no entanto, nenhum deles obteve sucesso.