A Força Aérea da Rússia está disposta a ajudar por via aérea o Exército Sírio Livre (ESL), a oposição síria apoiada pelo Ocidente em sua luta contra o grupo Estado Islâmico (EI) – anunciou neste sábado o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov.

“Estamos dispostos a apoiar também por via aérea a oposição patriótica, incluindo o Exército Sírio Livre”, declarou Lavrov ao canal de televisão Rossiya 1.

“O principal para nós é nos aproximarmos das pessoas encarregadas de representar aqueles grupos armados que lutam contra o terrorismo”, explicou o ministro, segundo transcrição divulgada pela emissora.

Na sexta-feira, foi anunciado um acordo entre Rússia e Jordânia, pertencente à coalizão antijihadista liderada pelos Estados Unidos, para “coordenar as ações, como as das forças aéreas na Síria”.

Também ontem, Lavrov e o secretário de Estado americano, John Kerry, concordaram em examinar novas possibilidades para chegar a um acordo político que ponha fim à guerra na Síria.

Sem surpresa, o anúncio deixou incrédulos os representantes do ESL, que acusam a Rússia de atacar, essencialmente, os grupos rebeldes considerados moderados desde o começo de sua campanha aérea, no final de setembro.

Já o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, declarou na sexta-feira que Moscou não identifica uma “oposição moderada” na Síria.

“A Rússia bombardeia o ESL e, agora, quer cooperar conosco, enquanto continua vinculada a Al-Assad?”, reagiu o porta-voz da Divisão 13, o tenente-coronel Ahmad Saud.

“No lugar de evocar sua vontade de colaborar com o ESL, a Rússia deveria deter os bombardeios”, declarou Samir Nashar, representante da coalizão opositora, que afirmou “que 80% dos bombardeios russos têm o ESL como alvo”.

Lavrov também disse ter esperança de poder reunir todas as partes do conflito na Síria “na mesa de negociações” em um futuro próximo.

“Evidentemente, é necessário se preparar para eleições legislativas e presidenciais”, completou.

Essa proposta foi considerada absurda pelos rebeldes sírios apoiados pelo Ocidente. Para Nashar, a Rússia tenta “desvencilhar as demandas do povo sírio de uma renúncia de Al-Assad”.

A evolução recente das negociações “nos dá esperanças de que o processo político avance em um futuro próximo”, e mostra que os ocidentais se dirigem para uma “compreensão mais justa” da situação na Síria, disse Lavrov, segundo a transcrição da entrevista com a rede Rossiya 1, divulgada no sábado pela Chancelaria.

Essa entrevista foi gravada antes da reunião de sexta-feira entre Lavrov e Kerry, em Viena, no âmbito das discussões do quarteto composto também por Arábia Saudita e Turquia para abordar uma saída para a guerra na Síria.

“Os facilitadores estrangeiros não podem decidir nada pelos sírios. Temos de levá-los a desenvolver” um plano para o futuro da vida política no país, comentou.

Lavrov acrescentou que a atual crise dos imigrantes na Europa alterou de muitas maneiras a forma de pensar dos políticos do bloco. “A União Europeia tem de reconhecer, e está começando a reconhecer, a origem da crise dos imigrantes e do caos no Oriente Médio”, advertiu.

No terreno, os ataques da Força Aérea russa continuam. O chefe do Parlamento sírio, Jihad al-Laham, afirmou que as operações conjuntas russo-sírias contra rebeldes e jihadistas “começam a dar grandes resultados”.