Posicionadas nas fronteiras da Ucrânia, ou em exercícios militares, as Forças Armadas russas, modernizadas a grande custo e experientes em batalhas, impressionam o Ocidente, mesmo que não sejam o suficiente para impor as exigências de Moscou.

Durante semanas, até o anúncio de uma primeira retirada na terça-feira (15), as forças russas aumentaram suas tropas e capacidades nas fronteiras da Ucrânia, provocando temores de uma invasão iminente do vizinho pró-Ocidente.

A movimentação teria sido tamanha que os Estados Unidos preferiram deixar sua embaixada em Kiev sem que um único soldado russo tivesse atravessado a fronteira.

Imagens nas redes sociais testemunham dezenas de tanques parados na neve, a algumas dezenas de quilômetros dos limites da Ucrânia, ou trens intermináveis transportando carros novos e brilhantes em cada um de seus vagões.

Mais a oeste, ao norte da Ucrânia, o mesmo Exército mostra suas capacidades em ação: lançadores de mísseis disparando em uníssono; soldados em trajes de camuflagem brancos, movendo-se com seus fuzis AK-47; caças patrulhando a fronteira…

E, no Mar Mediterrâneo e no Mar Negro, são navios de combate e submarinos que navegam às portas da União Europeia. Assim como em todas as crises com o Ocidente, a Rússia não hesitou em mostrar a força de um Exército. E, após anos de altos e baixos na era pós-soviética, estas Forças Armadas se modernizaram, graças ao pesado investimento do governo, e ganharam experiência na Síria.

– Operações de sucesso –

Com cerca de 900 mil soldados em serviço ativo, O Exército russo está equipado com armas de última geração, como sistemas antiaéreos S-400 e mísseis de cruzeiro Kalibr. Também possui foguetes supersônicos elogiados como “invencíveis” por Vladimir Putin e capazes de superar o escudo antimísseis instalado pelos Estados Unidos no Leste Europeu.

Reconstruídas após anos de subinvestimento e de corrupção, as forças russas não parecem em nada com aquelas em farrapos que tentavam aplacar os rebeldes chechenos na década de 1990.

“Os esforços de modernização nos últimos dez anos foram necessários para a própria sobrevivência do Exército russo”, explica o especialista militar Vasili Kashin, da Escola de Economia de Moscou.

“Grande parte do equipamento teve de ser trocado, o Exército foi reconstruído (…). E isso foi feito em tempo recorde”, ressalta.

Além disso, suas novas capacidades foram demonstradas com sucesso em cenários estrangeiros como a Síria, onde seus bombardeios permitiram ao governo de Bashar al-Assad recuperar grande parte do país, ou ainda, na península ucraniana da Crimeia, anexada por Moscou com o envio de forças especiais e sem disparar uma única bala.

Essa demonstração de força, que acompanha sistematicamente a reivindicação dos interesses russos no cenário internacional, parece ser o único verdadeiro instrumento de pressão de Moscou contra o Ocidente.

Se a Rússia fornece uma parte importante do gás necessário ao restante da Europa, não pode fazer uso dessa ferramenta sem se privar de uma receita significativa.

Pelo contrário, Moscou sofreria, se fosse cortada dos mercados financeiros e do dólar, como os países ocidentais ameaçaram diante da crise ucraniana.

Além disso, a modernização privou de recursos os esforços de diversificação econômica, grandes obras de infraestruturas e políticas sociais, setores que demandam reformas urgentes.

Na frente militar, o Exército russo, certamente impressionante, ainda não rivaliza com o dos Estados Unidos em termos de armas convencionais.

Segundo Kashin, a Rússia poderia “resistir por algum tempo”, mas Washington mantém uma “superioridade militar muito importante”.

Um conflito com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) traz ainda o risco de uma “escalada incontrolável e transbordamento da guerra para uma fase nuclear”.

O próprio Putin evocou esse cenário catastrófico.

“Se a Ucrânia se juntar à OTAN e recuperar militarmente a Crimeia, os países europeus serão automaticamente atraídos para um conflito militar com a Rússia”, disse ele, observando que seu país é “uma das maiores potências nucleares”.

Uma guerra assim “não teria vencedor”, advertiu o presidente russo.