A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo passou a ter uma semana fora do comum quando um estudante, integrante da comissão de formatura do instituto, denunciou uma colega por roubo de uma quantia destinada a cerimônia e festa dos formandos: a estudante teria desviado R$ 920 mil da 106ª turma da universidade. 

A aluna teve o nome em Boletim de Ocorrência registrado na 14.º DP, em Pinheiros (SP), e, na sequência, enviado ao 16.º DP, na Vila Clementino, que abriu investigação, conforme noticiou o Estadão. Outra suspeita de desvio de dinheiro também aparece no passado da estudante. 

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Como começou a suspeita

O estudante que fez o B.O. e os demais alunos descobriram a farsa na sexta-feira, 6, quando a aluna teria contado para os colegas em um grupo no WhatsApp que o fundo para a formatura foi perdido. Pelo teor da nota oficial da comissão de estudantes (ver abaixo), o valor estava disponível em uma conta bancária, a que a aluna teve acesso e transferiu para uma conta pessoal.

Em paralelo, o que aumentou a suspeita de desvio do dinheiro foram cópias de conversas de Whatsapp, nas quais a aluna afirma ter feito investimento em uma corretora chamada Sentinel Bank, com valores entre R$ 750 mil e R$ 800 mil; segunda ela, a quantia investida não deu retorno, e ela teria sofrido um golpe. O valor desviado da USP teria sido para pagar advogados da aluna.

Diante das suspeitas, o estudante da FMUSP registrou o boletim de ocorrência no dia 10 de janeiro. 

O que diz a USP

Em comunicado aos professores do curso a que o Estadão teve acesso, a diretoria da faculdade diz que foi informada que “a Comissão de Formatura e, portanto, os alunos aderentes à formatura da Turma 106.ª, foram vítimas de fraude após investimento do recurso arrecadado para organização das festividades de celebração, que ocorrerá ao final de 2023”.

 “Os fatos estão sendo apurados, buscando-se identificar os responsáveis pela fraude e a Diretoria está apoiando na orientação aos alunos envolvidos”, disse a universidade em nota.

Colegas estão apreensivos

“Todo mundo está muito aflito, triste, apreensivo, até um pouco reativo com essa situação, porque a gente não esperava que uma colega fosse fazer isso pelas costas — investimentos, sacar dinheiro, valores altos”, lamentou uma estudante que falou com o g1 e preferiu não se identificar. 

Os integrantes da comissão de formatura da USP também emitiram nota oficial sobre o caso. 

A Associação de Formatura da 106a Turma do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo informa que, no dia 6 de janeiro de 2023, teve conhecimento de que a então Presidente desta comissão retirou, sem o conhecimento e consentimento de qualquer outro membro da comissão, um montante totalizando aproximadamente 927.000,00 reais. A atitude isolada não representa moral e eticamente a postura dos demais membros desta Comissão e os mais de 110 alunos aderidos, vítimas dessa conduta.

Ressalta-se o entendimento desta comissão de que a [suspeita] descumpriu nosso Estatuto ao movimentar esse montante sem a assinatura de nenhum outro membro e transferindo-o a uma conta pessoal sua. Na data do 6 de janeiro de 2023 a Comissão da Turma 106 tomou conhecimento dos fatos por meio de uma mensagem de WhatsApp em que a [suspeita] confessava as transferências para uma conta pessoal sua. Ela alega ter perdido cerca de 800,000.00 reais investindo em um esquema supostamente fraudulento da empresa “Sentinel Bank”. O restante, confessa ter utilizado para, em cunho pessoal, contratar advogados para tentar reaver o dinheiro perdido. O montante de cerca de 927.000,00 foi arrecadado durante 4 anos pela empresa ÁS Formaturas.

Segundo nota enviada para a imprensa, a ÁS Formaturas garante que “todas as transferências foram realizadas rigorosamente conforme estabelecido nas cláusulas contratuais”, e que está apta para contribuir nas investigações com documentos e informações sobre o caso. 

Aluna também é alvo de investigação por lavagem de dinheiro

Desde julho do ano passado, a mesma aluna é investigada pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), de São Bernardo do Campo, por estelionato e lavagem de dinheiro. 

A aluna da USP teria realizado apostas em uma casa lotérica na Zona Sul de São Paulo e dado o prejuízo de R$ 192,9 mil aos proprietários. Segundo o portal Metrópoles, o dono da lotérica afirmou que as apostas frequentes da estudante eram pela Lotofácil, e que ela era cliente recorrente, sempre com apostas acima de R$ 10 mil. 

Ao solicitar apostas em julho de 2022, pedindo jogos que totalizavam R$ 891,5 mil, ela teria aplicado o golpe, ao pagar apenas R$ 891,53, esperando que os funcionários da lotérica pensassem que o valor pedido estava errado, gerando assim o prejuízo.