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COMO NOS VELHOS TEMPOS: F-1 Histórica traz de volta a Interlagos lendas da categoria, como a Lotus preta de Emerson Fittipaldi, e coadjuvantes, como a March

 
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DE VOLTA PARA O PASSADO: acima uma Wolf corre à frente de uma Lotus. A Brabham, de Piquet, disputa a freada com uma Tyrrel de seis rodas (à esq.) antes de parar nos boxes ao lado de Ecclestone, ex-dono do time

 

O QUE VOCÊ PENSARIA SE, AO chegar no circuito de Interlagos para assistir a uma prova de automobilismo, encontrasse a McLaren de Emerson Fittipaldi, a Brabham azul e branca de Nelson Piquet e a Lotus preta de Ayrton Senna alinhadas no grid de largada? O que poderia parecer um sonho vai se tornar realidade em agosto deste ano. É que, pela primeira vez, o Brasil vai sediar uma das etapas do Campeonato Mundial de Fórmula 1 Histórica, com os carros de corrida que fizeram a história da F-1. Criado há pouco mais de dez anos, o campeonato é uma espécie de parque de diversões para endinheirados que compram os carros das equipes e vivenciam momentos únicos no comando de máquinas de ícones do automobilismo.

“Este evento será muito bom para o Brasil”, disse o inglês Bernie Ecclestone, o homem forte da F-1, em entrevista exclusiva à DINHEIRO. “As pessoas poderão rever os carros de seus ídolos na pista exatamente como eram”, afirmou o dirigente da Formula One Management (FOM). A ideia de trazer o evento para o Brasil surgiu, no ano passado, numa conversa entre Ecclestone e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), que queria encontrar formas de gerar mais receitas para a cidade com eventos relacionados à F-1.

A categoria histórica foi sugestão do mandachuva da FOM, que dará apoio logístico à prova, embora não esteja diretamente envolvida no campeonato. A rigor, a roupagem do GP Brasil de F-1 Histórica promete ser muito parecida com a da F-1 oficial. Mas, no fundo, é bem diferente. Saem os grandes times e montadoras e entram apaixonados – e milionários – entusiastas. Inventada por amadores, a categoria é bancada totalmente por seus participantes, ainda que tenha sanção da Federação Internacional de Automobilismo (FIA).

É um resgate dos primórdios do automobilismo, quando era um esporte de cavalheiros, que inscreviam e dirigiam seus próprios carros nas provas”, disse à DINHEIRO Tamas Rohony, organizador do evento, que também coordena o GP Brasil de F-1. Como naquela época, todas as despesas, desde o carro até a logística e manutenção, ficam por conta dos donos – que muitas vezes são também os pilotos. Trata-se, contudo, de uma brincadeira cara.

 

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BERNIE ECCLESTONE:

“Certamente a categoria histórica vai trazer muito lucro para a cidade de São Paulo”

 

Para participar, é preciso adquirir um carro antigo de F-1 que atenda às exigências técnicas da FIA. De acordo com Monika Suntinger, da Classic Car, loja suíça especializada na venda desse tipo de veículo, o valor de um F-1 em condições de corrida varia entre 150 mil euros e 750 mil euros. Quanto mais famoso o carro e o piloto que o usou, mais alto o preço. Pelas regras da categoria, os carros têm de se apresentar com a pintura original, incluindo patrocínios. Embora muitas das empresas que têm suas marcas estampadas nos veículos ainda existam, elas não pagam nada pela exposição. “Isso mostra como vale a pena investir em publicidade na F-1: anos depois, a marca continua sendo exposta”, brinca Rohony.

 

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No caso das marcas de cigarro, proibidas na maioria das provas de Fórmula-1, abre-se uma exceção. “Como os carros são peças de colecionador e a propaganda não gera receita para os seus donos, elas são toleradas”, explica Rohony.

O segundo passo para acelerar na F-1 Histórica é pagar as taxas de inscrição e tirar uma licença especial, categoria “C Internacional”, emitida pela FIA. Isso, é claro, se o dono do carro quiser aproveitar ele próprio seu novo brinquedo em vez de contratar um piloto profissional. Ainda é necessário contratar um serviço de manutenção e apoio para o carro e conseguir uma base na Europa, onde quase todas as provas são realizadas.

“O apoio ao time é, na maioria das vezes, prestado pela fabricante do carro original”, explica Rohony. O dono de uma Ferrari, por exemplo, contrata a própria fábrica para cuidar de seu carro. Nas corridas, conta com uma equipe completa da montadora para realizar os reparos e ajustes necessários, assim como as operações de boxe. Mesmo para quem não tem pretensões como piloto ou dono de equipe de F-1, o evento promete.

Na avaliação de Rohony, a organização deverá gastar cerca de R$ 10 milhões com a prova, dos quais espera recuperar pelo menos R$ 7 milhões em venda de ingressos e patrocínios. O prejuízo é aceitável para viabilizar a volta da categoria ao País no ano que vem. “É um evento muito interessante. Certamente a corrida vai dar muito lucro para a cidade”, disse Ecclestone à DINHEIRO.

Nas contas do organizador da prova no Brasil, a receita direta criada pela corrida poderá alcançar R$ 60 milhões. Nada mal, considerando que esse valor se soma aos cerca de R$ 200 milhões gerados pela F-1 tradicional e que o gasto anual da prefeitura com o Autódromo de Interlagos não passa dos R$ 15 milhões.