15/06/2004 - 7:00
Maria Altmann, de 88 anos, americana de origem austríaca, fez história na semana passada. A Suprema Corte dos EUA lhe deu vitória num processo inédito ? a autorizou a prosseguir uma ação contra o governo da Áustria, acusado de ter furtado de sua família seis qua-
dros do pintor impressionista Gustave Klimt (1862-1918). A alegação: as pinturas, avaliadas em US$ 150 milhões, teriam sido subtraídas da coleção dos parentes de Maria pelos nazistas em 1938. Foram entregues ao acervo da Galeria do Belvedere, em Viena, e de lá nunca saíram, mesmo quando os americanos chegaram à Áustria. Há, entre as telas, um clássico do modernismo de Klimt, a imagem de Adele Bloch-Bauer, tia de Maria. As autoridades austríacas
se defendem. Para eles, em 1925, antes da guerra, o industrial Ferdinand,
marido de Adele, cedera as obras ao museu.
?A decisão da corte americana é um ato educativo?, disse à DINHEIRO o advogado de Maria, Randol Schoenberg, especialista em resgate de arte surrupiada. ?Abre um precedente fundamental, na medida em que países estrangeiros poderão ser acionados pelas leis dos EUA em casos como esse?. Há, no mundo, 600 mil peças de arte roubadas pelas tropas de Hitler, um butim de valor incalculável. A decisão, como jurisprudência, gera alvoroço nos tribunais internacionais ? outros descendentes dos perseguidos pelo nazismo podem buscar a devolução dos bens. Já para o advogado Schoenberg, o caso é sentimental. Seu avô é o compositor austríaco Arnold Schoenberg (1874-1951), pai da música dodecafônica, ele também obrigado a fugir. Até agora, contudo, apenas uma Altmann, Maria, conseguiu vitória parcial. Infelizmente ela ainda é a única.