Chamado de “golpista” pelo PT, o ex-presidente Michel Temer caiu. No dia em que a equipe de transição escalada pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou ao Palácio do Planalto para uma reunião com integrantes do governo de Jair Bolsonaro, a foto de Temer foi ao chão. Mesmo com o vidro trincado, a imagem acabou reacomodada às pressas na parede de mármore, sob olhares incrédulos de petistas.

A foto, em preto e branco, está na Galeria dos Presidentes, no saguão principal do Planalto. Naquele espaço, Temer fica entre Dilma Rousseff – que sofreu impeachment em 2016 e foi substituída por ele, à época vice – e Jair Bolsonaro. Dilma é a única mulher da galeria onde só Bolsonaro tem a fisionomia colorida porque ainda está no exercício do mandato.

A queda de Temer ocorreu quando o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, a deputada Gleisi Hofmann, presidente do PT, e o ex-ministro Aloízio Mercadante davam entrevista sobre a transição de governo, após encontro com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Detalhe: Ciro estava com uma gravata vermelha, a cor do PT.

Forças ocultas

O acidente foi provocado por um cinegrafista, que esbarrou na imagem durante o empurra-empurra. Alguém ali falou em “forças ocultas”, mas logo a atenção dos repórteres se voltou para Alckmin, que dava entrevista naquele momento. Muitos seguraram o riso.

Em 2016, quando Temer assumiu a Presidência após o impeachment de Dilma, o tempo fechou no Planalto. Embora o novo presidente tenha dito que a foto emoldurada de Dilma seria mantida “em todos os recintos”, funcionários de gabinetes tentaram retirá-la. Ao deslocar a imagem emoldurada, encontraram a seguinte mensagem atrás do quadro: “Conspiradores e golpistas, a História não os absolverá”.

Temer tentou morar no Palácio da Alvorada com a primeira-dama Marcela e o filho Michelzinho, mas ficou apenas uma semana. “Deve ter fantasma lá”, afirmou ele, em conversa gravada pelo dono do Grupo JBS, Joesley Batista, ao descrever as noites de insônia no Alvorada. Assustado com as “assombrações”, Temer voltou para o Jaburu.

Apesar de se referir ao ex-presidente como “golpista”, Lula tentou obter o seu apoio, quando enviou Alckmin para sondá-lo sobre essa possibilidade, ainda no primeiro turno da campanha. Temer disse que sua candidata era a senadora Simone Tebet, também do MDB, mas não fechou a porta.

No segundo turno, Simone – que ficou em terceiro lugar na disputa – pediu votos para Lula. Temer recebeu pedido de apoio de Bolsonaro, mas esperava um gesto de Lula para se manifestar. Foi chamado novamente de “golpista” pelo ex-presidente e decidiu ficar neutro na eleição. Agora, sua imagem rachada terá de ser substituída no saguão principal do Planalto.