Esqueça os efeitos mirabolantes do afamado programa de computador Photoshop, as fotos feitas no iPhone e modificadas pelo aplicativo coqueluche Instagram ou o poder das supercâmeras digitais. Em plena ebulição high tech, uma onda retrô está ganhando força e arregimentando adeptos fervorosos nos quatro cantos do planeta.  Essa febre tem nome, “lomografia”, um movimento que pretende resgatar o status da fotografia analógica, feita com o bom e velho filme, revelado na câmara escura. 

O termo deriva da marca Lomography, de máquinas fotográficas de plástico. Elas nasceram na União Soviética dos anos 1980, mas seu DNA e quartel-general foram transferidos, em 1992, para Viena (Áustria), pelos estudantes Mathias Fielg e Wolfgang Stranzinger. Os dois descobriram a graça dessas câmeras durante uma viagem a São Petersburgo, na Rússia.   

 

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Olha o passarinho: “O Brasil é um dos cinco melhores mercados do mundo”, Philippe Machado, gerente da Lomo no Rio

 

A história da Lomo começou comunista, no auge da Guerra Fria. Em 1982, o general Igor Petrowitsch Kornitzky, braço direito do então ministro da Defesa e da Indústria soviético, propôs a Michail Panfilowitsch Panfiloff, diretor da fábrica Lomo Russian Arms and Optical, que fabricasse câmeras compactas, copiando um modelo japonês que havia comprado em uma viagem. Assim, foram lançadas, em 1984, as primeiras Lomo LC-A. Com o decorrer do tempo, as pequenas câmeras foram ganhando cores e nomes como  Love is in The Air e La Sardina. Com essa nova alma lúdica, tornaram-se cult, e, graças a sua alma vintage e fashion, as simpáticas maquininhas viraram febre, em 2010, entre celebridades e artistas bem capitalistas de várias vertentes. Somente no ano passado, foram vendidas 500 mil unidades em todo o mundo. 

 

Entre os fãs de carteirinha dos modelos da Lomo estão o astro Brad Pitt, que usou uma Fisheye nº2 para clicar os fãs no tapete vermelho do 64º Festival de Cinema de Veneza, em 2007; a atriz francesa Audrey Tautou, a eterna Amélie Poulain; e os músicos brasileiros Marcelo Camelo e Maria Rita. Os líderes da banda americana de rock alternativo White Stripes, Jack White e Meg White, autorizaram o lançamento de  um modelo da marca com o nome do grupo, no que foram acompanhados pelo estilista inglês Paul Smith. 

 

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Com um séquito de admiradores desse naipe, a marca tem como público-alvo designers, arquitetos e pessoas ligadas ao mundo da moda. A regra básica é curtir a fotografia experimental (veja outras no destaque). “A estratégia de mercado da Lomo fundamenta-se em produtos que são engraçados, divertidos e baseados na experimentação”, diz Gilson Nunes, diretor da empresa de consultoria Superbrands Brasil. 

 

Por terem preços bem acessíveis, que vão, em média, de R$ 170 a R$ 280, seus mais de 50 modelos são tratados como itens de coleção. Quem compra um, logo está adquirindo seu segundo e depois os acessórios, que vão de lentes a filtros e flashes estilosos (estes sim, um pouco mais caros). Os problemas de reprodução de luzes e cores, causados pela baixa qualidade das lentes e da construção do corpo das câmeras, poderiam ser um entrave para a comercialização das Lomos. 

 

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Mas é justamente esse o seu trunfo, já que, com a utilização de filme, não é possível prever as cores, formas e luzes de cada fotografia, ao contrário das câmeras digitais. “No caso da Lomo, quanto mais distorcido, melhor”, afirma Duda Escobar, gerente da maior feira de fotografia organizada no Brasil, a PhotoImage Brazil. “É um outro conceito de fotografia.”

 

A Lomo chegou ao Brasil em 2009, quando foi aberta uma loja em Ipanema, no Rio de Janeiro. Deste então,  já foram vendidas 15 mil peças, entre câmeras e acessórios que podem chegar a R$ 1.400.  “O País está entre os cinco melhores resultados da Lomo no mundo”, diz Philippe Machado, gerente da loja carioca. O sucesso dessa unidade levou a matriz a decidir pela abertura de uma segunda loja no País, desta vez, em São Paulo. A inauguração está prevista para setembro, na rua Augusta.