01/12/2000 - 8:00
Depois de 80 anos concentrada no mercado paulista, a Fotoptica abriu os olhos antes que se repetisse aquela velha história da empresa familiar: o patriarca, imigrante, vem e, com poucos recursos e muito suor, cria a empresa; a primeira geração de herdeiros fortalece o negócio ao qual tem apego, mas a segunda geração, a dos netos, nem sempre costuma manter o mesmo entusiasmo. Antes que isso acontecesse, ao perceber que seus três filhos, Kiko, Pedro e João, não tinham o menor tino para o comércio, Tomas Farkas vendeu a marca fundada pelo seu pai Desidério para o Fundo Brazil Private Equity, administrado pela Patrimônio Participações. Agora, os novos donos da Fotoptica começam a colocar em prática uma meticulosa estratégia de expansão pelo País afora, que deve custar pouco mais de R$ 12 milhões. Ainda neste ano quatro lojas devem ser inauguradas em Brasília, o primeiro alvo da investida. Até o final de 2001, a perspectiva aponta para outras 30 lojas com a marca Fotoptica. De Minas Gerais ao Rio Grande do Sul, passando pelo Rio de Janeiro e até por cidades de médio porte, a promessa é criar a primeira rede brasileira de cinefoto e ótica.
Cacife para isso o Fundo Brazil tem, já que entre seus cotistas estão pesos pesados da área financeira, como Chase Capital Partners, GE Capitals, Fundação Ford, Aetna Seguros e o canadense Caisse de Debot. Nos últimos anos esses investidores gastaram US$ 140 milhões só na aquisição de ativos.
Reestruturação. Para ficar com a marca e as então 31 lojas paulistas da Fotoptica, o Fundo Brazil desembolsou US$ 28 milhões em agosto de 1997. Os dois primeiros anos foram de reestruturação e de abertura de 70 novos pontos de venda, mas só no Estado de São Paulo. A expansão nacional vai ser pilotada pelo executivo Michel Brull, que até 1997 era vice-presidente da Blockbuster. Nesse ano, aliás, o Fundo Brazil tirou logo os dois principais executivos da Blockbuster no Brasil para comandar a reestruturação da Fotoptica. Além do vice, Brull, veio também o presidente, Luiz Mario Bilenky.
Nos dois primeiros anos de trabalho na Fotoptica, a dupla Bilenky/Brull implantou um processo agressivo de reestruturação. ?O negócio demonstrava ter um bom potencial de crescimento. Faltavam apenas pequenos ajustes?, lembra Brull. Entre os ?pequenos problemas? os novos diretores encontraram um pesado processo de diversificação de produtos que tinha sido adotado poucos anos antes. ?O leque incluía desde aparelhos de medir pressão arterial e bússolas, até equipamentos eletroportáteis?, reclama o executivo, que assumiu a presidência da Fotoptica depois que Bilenky deixou a empresa, no final de 1999. A correção de rumo incluiu ainda a terceirização, para ex-funcionários, de áreas consideradas pouco atrativas como a fabricação de lentes e a venda por atacado. ?Queríamos ter como único alvo o consumidor final?, argumenta Brull. Ao final do processo de reestruturação a companhia havia perdido metade dos 500 funcionários e os custos tinham caído em 15%. O presidente da Fotoptica rebate, no entanto, os argumentos de que a reengenharia tenha tido como único objetivo cortar empregos. ?Tínhamos 31 lojas e 500 funcionários. Hoje são 101 pontos-de-venda e 1,1 mil trabalhadores?, diz Brull.
A ORDEM É GANHAR O PAÍS
Com o aval financeiro do Patrimônio e livre da administração familiar, Fotoptica deve crescer 50% no próximo ano. É o melhor momento da companhia desde 1997, de acordo com o presidente Michel Brull
Biô Barreira
Para a nova fase de expansão estão previstos, além do dinheiro do Fundo Brazil, recursos gerados pelas vendas da própria empresa. A previsão é atingir R$ 90 milhões neste ano. Para 2001, a expectativa é ampliar esse patamar em 50%, cravando um faturamento na faixa de R$ 135 milhões. Outra carta na manga do executivo é a adoção do sistema de franquias. O formato, ainda em estudos, vai ser usado para colocar a rede em cidades de porte médio. ?Estamos muito felizes com a trajetória da companhia?, assegura Alexandre Saigh, sócio-executivo da Patrimônio Participações, que avaliza todo o projeto de expansão. A mesma tática já vem sendo adotada em outros investimentos do fundo, como a Casa do Pão de Queijo, da qual detém 70%.
Com essa estratégia, os novos donos da Fotoptica esperam manter algumas das características que trouxeram fama à marca. A primeira delas é o estilo inovador. Quando o imigrante húngaro Desidério Farkas fundou a sua primeira loja na rua São Bento, Centro de São Paulo, em 1920, os primeiros equipamentos de fotografia chegavam ao Brasil. Farkas colocou as câmeras Leika e Kodak para serem vendidas junto com armações e lentes de óculos.
O fundador não viu seu filho Tomas lançar no Brasil, em 1984, o surpreendente sistema de revelação de filmes fotográficos em uma hora, através de minilaboratórios. Até essa época a revelação de um filme demorava uma semana. A síndrome da uma hora, ou da presteza, acabou também sendo adotada pelos novos donos, que divulgam agora confecção de óculos em igual espaço de tempo. Outra característica reconhecida na família Farkas e na Fotoptica é a austeridade administrativa e financeira. Mesmo com todas as intempéries vividas pela economia brasileira nos últimos 80 anos, a empresa só conheceu prejuízo em único ano: 1987.
Por enquanto, a Fotoptica afirma que tem cerca de 15% do mercado brasileiro de ótica e 14% de cinefoto. Os investidores esperam agora não só manter a austeridade nas contas e a inovação característica da rede. Daqui para a frente querem acrescentar uma perspectiva que lhes permita abocanhar uma fatia um pouco maior desse mercado, que movimenta cerca de R$ 2 bilhões ao ano no Brasil. ?As mudanças foram agressivas e rápidas. Agora, vamos colher os frutos?, comemora Michel Brull.