16/08/2000 - 7:00
Vicente Fox não perdeu tempo. Cinco dias e sete horas após o anúncio oficial de sua vitória como presidente do México, no dia 2, ele estava dentro de um avião rumo à América do Sul. Deixou para o fim os Estados Unidos, eterno parceiro comercial, e partiu direto para o Chile. Passou pela Argentina e, no último dia 9, desembarcou em Brasília, em uma viagem que terminaria no Uruguai, última etapa antes de Washington. Entrou assim na disputa pela vaga mais cobiçada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso: a de líder na integração comercial da região. Por trás do prestígio político do papel, está a necessidade de reduzir a dependência mexicana em relação aos EUA.
É claro que falta a Fox a desenvoltura diplomática, a bagagem acadêmica e o respeito internacional conquistados por Fernando Henrique. Mas ele tem um estilo objetivo que agrada empresários, o comando de uma economia pujante e… seis anos de mandato. Com esses trunfos na mala, Fox começou no dia 7 uma verdadeira corrida contra o relógio ? quatro países em três dias. Deixou em casa as botas e o cinturão espalhafatoso com seu nome, usados na campanha. Em vez disso, envergou o uniforme de empresário ? ternos, gravatas e sapatos escuros ? e fez discursos que lembravam os tempos em que presidiu a Coca-Cola mexicana. Durante o périplo, tentou convencer empresários e políticos de que o México está disposto a entrar de cabeça em um acordo com os países vizinhos para deixar de lado a dependência em relação aos EUA. Apesar da economia mexicana ir de vento em popa, 80% do comércio exterior do país ? de US$ 280 bilhões ? foi resultado de negócios com os americanos. Por isso o estadista grandalhão martelou na vizinhança o discurso regionalista. No dia 7, no Chile do presidente Ricardo Lagos, avisou: ?Ouço sempre que o México está distante da América Latina, do Cone Sul, do Mercosul. Certamente o México tem uma relação intensa com os Estados Unidos, mas quero deixar muito clara a mudança de nossas responsabilidades e nossas atitudes?. Um dia depois, para o presidente Fernando de la Rúa: ?Queremos ser aliados e não competidores. Temos a oportunidade de trabalhar conjuntamente.?
No Brasil ? em uma viagem de dois dias, por Brasília e São Paulo ? Fox angariou simpatias. ?O presidente Fernando Henrique é um líder. Mas é bom que haja dois. Para nós, Fox falou como um empresário, sobre melhoria de produtividade e qualidade integral. Eu nem sei se o meu amigo Fernando Henrique sabe o que é qualidade integral?, disse Olavo Setubal, presidente do Conselho do Itaú e ex-ministro das Relações Exteriores. Setubal acabava de participar de um café da manhã que abarrotou de empresários e banqueiros um dos salões do Sheraton Mofarrej, em São Paulo. Sua opinião foi compartilhada pelo presidente do Conselho do Bradesco, Lázaro Brandão: ?Ele fez a exposição que a gente sonha para um presidente da República.? As relações comerciais com o Brasil podem render grandes lucros daqui para frente. As vendas brasileiras para o México passaram de US$ 393 milhões no primeiro semestre de 1999 para os US$ 781,6 milhões no mesmo período deste ano. Nos últimos seis meses, os mexicanos exportaram US$ 326 milhões para o Brasil. Até o líder do PT Luís Inácio Lula da Silva, concorda com a importância dos negócios com o México. ?Se dizem que o México pode ser um trampolim para facilitar a entrada de produtos americanos na América do Sul, o país também pode ser um trampolim para a venda de produtos latino-americanos para os EUA.?, disse, ao final da conversa de 15 minutos com Fox na embaixada do México, em Brasília.
Olhando para os próximos anos de mandato, Fox quis conhecer os possíveis presidentes do Brasil ? Lula, Ciro Gomes e o governador do Ceará, Tasso Jereissatti. Nas três conversas, frisou a necessidade de alianças comerciais. Recebeu três sinais positivos. Começou bem no papel de Simon Bolívar do comércio.